Ao baixar os juros pela primeira vez em quatro anos, o governo do presidente Michel Temer trilha o único caminho de que dispõe para tentar reanimar a economia, que amarga uma prolongada recessão.
Nesta quarta-feira (17), o Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu os juros em 0,25 ponto porcentual para 14%. Em comunicado, informou que o ciclo de afrouxamento monetário será "prolongado e gradual" a depender do "ritmo de aprovação e implementação dos ajustes na economia".
Traduzindo: só será possível reduzir o custo do dinheiro a ponto de provocar algum efeito na economia se o governo ajustar suas contas, aprovando no Congresso a PEC (Proposta de Emenda Orçamentária) que estabelece um teto para os gastos públicos e, posteriormente, a reforma da Previdência.
Todas as demais vias para o crescimento da economia estão intransitáveis. As famílias não consomem por medo do desemprego, que já atingiu 11,8% e pode piorar. O crédito está caro e escasso.
Apesar da melhora na confiança do empresariado após o impeachment, o setor privado não investe enquanto as fábricas estiverem com uma capacidade ociosa tão alta.
Os investimentos públicos também são pífios dada a desordem das contas. E mesmo os leilões de obras de infraestrutura estão travados após a quebradeira das concessionárias investigadas na Lava Jato.
Finalmente, o câmbio está mais atrativo, mas as exportações não decolam. O mercado externo segue complicado e as empresas brasileiras pagam o preço de terem se afastado dos clientes internacionais na época de bonança.
Até mesmo cortar os juros só se tornou possível depois que a recessão se aprofundou a ponto de desinflar a bolha inflacionária criada por Dilma ao congelar artificialmente os preços administrados, como gasolina e energia elétrica.
O IPCA, índice de preços ao consumidor que baliza as decisões do Copom, deve fechar perto de 7% este ano, estourando o limite de tolerância, mas é provável que chegue ao fim de 2017 mais perto do centro da meta de 4,5%.
Embora os resultados recentes da indústria, comércio e serviços não permitam otimismo, a decisão de hoje do Copom pode representar um ponto de inflexão para a economia brasileira finalmente sair do buraco. Por enquanto, porém, ainda é só uma esperança.