segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Adolescente morre em escola estadual ocupada por estudantes em Curitiba

ESTELITA HASS CARAZZAI - Folha de São Paulo


Um adolescente de 16 anos morreu em uma ocupação de uma escola estadual em Curitiba na tarde desta segunda (24).

A morte de Lucas Eduardo Araújo Lopes foi confirmada pela Secretaria da Segurança do Paraná. No final da tarde desta segunda, policiais militares e civis estavam no Colégio Estadual Santa Felicidade para realizar interrogatórios e buscar uma explicação sobre o que aconteceu.

Mesmo ainda não esclarecido, esse episódio já serviu para acirrar os apelos pró e contra as ocupações das escolas estaduais no Paraná. Cerca de 800 colégios estão tomados por alunos, quase metade das 2.000 escolas do Estado. As ocupações começaram no início de outubro.

Estelita Hass Carazzai/ Folhapress
Carro do IML em frente ao Colégio Estadual Santa Felicidade, onde um adolescente morreu
Carro do IML em frente ao Colégio Estadual Santa Felicidade, em Curitiba, onde um adolescente morreu

Os estudantes que ocupam as escolas protestam contra a reforma do ensino médio e prometem permanecer nos colégios até a retirada da medida provisória enviada ao Congresso pelo governo Michel Temer (PMDB).

Nas redes sociais, o governador Beto Richa (PSDB) lamentou a morte do estudante e disse que ela merece "uma profunda reflexão da sociedade".



Já na frente do colégio, um grupo de advogados e professores se queixava de que o governo "incitou a violência" contra as ocupações e o culpava pelo ocorrido. "Esse colégio não tem faca, não tem armas. A culpa dessa morte é do governo do Paraná, que esta incitando a violência contra as ocupações", disse a advogada Tânia Mara Mandarino, que defende voluntariamente as ocupações. Ela diz que outras escolas tiveram tentativas de confronto por manifestantes contrários às ocupações. "O resultado está aí: temos um cadáver", afirmou.

CLIMA

No Colégio Estadual Santa Felicidade, onde a morte aconteceu, na tarde desta segunda-feira policiais protegiam a entrada da unidade. Somente os pais do aluno e de alguns outros estudantes, além de um grupo de advogados, foram autorizados a entrar.

Gritos e choros eram ouvidos do lado de fora. Pelo menos 12 estudantes estavam no local no momento da morte, e foram interrogados em conjunto pelo delegado que investiga o caso. A mãe da vítima, segundo Mandarino, estava em estado de choque. "Esse colégio estava numa verdadeira paz", disse a professora Loren Júlia, 45, que dá aulas de português na escola. "Tem todas as regras na entrada."

Um cartaz em frente ao colégio diz: "Proibido artigos ilícitos dentro da instituição. Favor deixar na portaria. Não resista."

Algumas televisões locais conseguiram imagens que mostram uma faca e manchas de sangue dentro do colégio, mas não há informações oficiais a respeito. O colégio está ocupado há cerca de 20 dias. A Secretaria da Segurança informou que está tratando o caso como prioridade absoluta.

OCUPAÇÕES

As ocupações em escolas paranaenses começaram no início de outubro em protesto contra a medida provisória do governo Michel Temer (PMDB) que prevê a reforma do ensino médio.

A medida prevê a flexibilização do currículo, com disciplinas optativas, nas redes pública e particular. Também visa incentivar a expansão do ensino integral. Uma das principais polêmicas envolveu a retirada da exigência de artes, educação física, filosofia e sociologia nessa etapa do ensino.


O governo diz, porém, que elas estarão contempladas, já que a Base Nacional Comum Curricular, que ainda está em discussão, dará essas diretrizes.