Sequência de emails revela propinas da Odebrecht para 'Corintiano', 'Estrela', 'Bragança', 'Brasileiro' e 'Santo' nas obras do Metrô de São Paulo
No conjunto de e-mails do “departamento de propinas” da Odebrecht identificados pela Polícia Federal na Operação Omertà – 35.ª fase da Lava Jato -, os investigadores resgataram uma sequência de e-mails com pedidos de pagamentos de porcentagens referentes às obras das linhas 2 (Verde) e 4 (Amarela) do Metrô de São Paulo destinados a codinomes.
O material faz parte do conjunto de 32 mensagens da empreiteira que, segundo a PF, fazem referências a ‘pagamentos indevidos’. Questionada pela reportagem, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos não informou os valores dos contratos com a Odebrecht nas duas linhas.
Em um caso surge o apelido ‘Santo’, cujo pedido de pagamento de R$ 500 mil em duas parcelas estaria ligado à ‘ajuda de campanha com vistas a nossos interesses locais’, segundo disse em um e-mail o diretor da Odebrecht responsável pelo contrato da Linha 4 Marcio Pellegrini ao ‘departamento de propinas’, em 2004.
A Lava Jato ainda não traduziu todos os codinomes destas planilhas. Por isso, os destinatários destes pagamentos não foram alvo da Operação Omertà, deflagrada nesta segunda-feira, 26.
“Verificou-se que alguns pagamentos eram solicitados explicitamente a título de contribuição para campanhas eleitorais, mas, ao contrário de qualquer alegação de que se tratariam apenas de contribuição popularmente conhecida como ‘caixa 2’, encontravam-se diretamente atrelados ao favorecimento futuro da Odebrecht em obras públicas da área de interferência dos agentes políticos”, afirma o delegado Filipe Hile Pace, ao analisar os e-mails referentes à Linha 2 do Metrô de São Paulo.
Ao todo, a Polícia Federal lista mais de 20 e-mails referentes às obras do Metrô, sempre partindo de diretores e executivos ligados ao empreendimento para interlocutores do ‘departamento de propinas’ e para o então presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Barbosa Júnior.
A sucessão de emails mostra que na maioria dos casos Benedicto Barbosa repassava o pedido de pagamento para Marcelo Odebrecht aprovar.
As trocas de e-mails revelam nove personagens identificados por apelidos, sendo seis ligados às obras da Linha 2 (“Estrela”, “Bragança”, “Brasileiro”, “Corintiano”, “Santista” e “Vizinho”) e a porcentagens de pagamentos que variam de 0,5% a 4%, e dois ligados às obras da Linha 4 (“Cambada de SP” e “Santo”).
A Odebrecht participou do consórcio que fez os lotes 1 e 2 da Linha 4 e também atuou na expansão da Linha 2, ligando as estações Ana Rosa e Imigrantes.
Linha 2. Em 4 janeiro de 2006, por exemplo, Fábio Gandolfo, diretor de contrato da Linha 2, encaminhou a Ubiraci Santos, apontado como um dos responsáveis por fazer as solicitações de pagamentos ilícitos do Departamento de Operações Estruturadas – nome oficial do ‘departamento de propinas’ da Odebrecht revelado pela Lava Jato – uma planilha com pagamentos para “Corintiano”, “Estrela”, “Bragança” e “Brasileiro”, previstos para 11 de janeiro.
Em outro e-mail, de maio, com o assunto “Metrô SP”, Gandolfo informa que foi assinado um aditivo contratual referente ao lote 3 da obra, no valor de R$ 37, 7 milhões, e pede que sejam adicionadas as propinas referentes a este aditivo à ‘Planilha DGI’.
Segundo a Lava Jato, a sigla DGI era utilizada com frequência pelos executivos da Odebrecht para se referir aos pagamentos ilícitos e aos acertos do ‘departamento de propina’.
Neste aditivo, o maior porcentual ficaria com “Estrela”, o equivalente a 4% do valor do contrato, totalizando R$ 1,5 milhão.
Em outro e-mail, de maio, com o assunto “Metrô SP”, Gandolfo informa que foi assinado um aditivo contratual referente ao lote 3 da obra, no valor de R$ 37, 7 milhões, e pede que sejam adicionadas as propinas referentes a este aditivo à ‘Planilha DGI’.
Segundo a Lava Jato, a sigla DGI era utilizada com frequência pelos executivos da Odebrecht para se referir aos pagamentos ilícitos e aos acertos do ‘departamento de propina’.
Neste aditivo, o maior porcentual ficaria com “Estrela”, o equivalente a 4% do valor do contrato, totalizando R$ 1,5 milhão.
‘Cambada em SP’. Em relação às obras da Linha 4- Amarela, a PF também identificou uma troca de e-mails em agosto de 2016 na qual Benedicto pede a Marcelo Odebrecht, com cópia para Ubiraci Santos, a aprovação para pagamentos referentes à PPP da Linha 4 sob o codinome “cambada em SP”. O então presidente do Grupo deu ok para os acertos que, nos e-mails, aparecem relacionados a etapas do processo licitatório.
No último e-mail da séria, o então diretor de Investimentos Sul Geraldo Villin encaminha uma lista de pagamentos mensais e indica que “talvez seja o caso de avançarmos para a CCR, já que estaremos todos fora”. A CCR é a principal controladora do Consórcio Via Quatro, que venceu a PPP e é responsável por gerir a Linha 4 – Amarela. A PF não aponta nenhuma irregularidade da CCR no relatório.
Já em relação ao apelido ‘Santo’, que aparece em outro e-mail do diretor da Linha 4- Amarela, não é a primeira vez que o codinome surge relacionado a obras de governos do PSDB em São Paulo.
Em março, a Lava Jato encontrou na residência de Benedicto Oliveira uma anotação manuscrita que faz referência a ‘Santo’ e ao pagamento de 5% do valor de um contrato das obras da rodovia Mogi-Dutra do governo Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, em 2002.
COM A PALAVRA, A SECRETARIA DE TRANSPORTES METROPOLITANOS:
“A relação do governo do Estado e seus contratados para a realização de obras ou prestação de serviços é baseada nos princípios legais e com aprovação de suas contas pelos órgãos competentes. A EMTU e o Metrô desconhecem qualquer irregularidade em suas obras. As empresas, contudo, estão à disposição para colaborar com a Força Tarefa da Lava Jato e esclarecer toda e qualquer informações.
“A relação do governo do Estado e seus contratados para a realização de obras ou prestação de serviços é baseada nos princípios legais e com aprovação de suas contas pelos órgãos competentes. A EMTU e o Metrô desconhecem qualquer irregularidade em suas obras. As empresas, contudo, estão à disposição para colaborar com a Força Tarefa da Lava Jato e esclarecer toda e qualquer informações.
Secretaria dos Transportes Metropolitano”
COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DO GOVERNO DE SÃO PAULO:
“À frente do Governo de São Paulo, Geraldo Alckmin não mantém relações com empresários que não sejam pautadas estritamente pelo interesse público.
“À frente do Governo de São Paulo, Geraldo Alckmin não mantém relações com empresários que não sejam pautadas estritamente pelo interesse público.
É impossível qualquer conclusão a partir de mensagens cifradas, repletas de codinomes e de administrações distintas de uma operação ainda em andamento. O Governo de São Paulo está à disposição para colaborar com a força tarefa e já determinou que a Corregedoria Geral da Administração (CGA) solicite compartilhamento de informações.”