quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Macri afirma que Venezuela pode deixar Mercosul em dezembro

Macri: críticas à Venezuela
Macri: críticas à Venezuela Foto: Jorge William/4-12-2015
Janaína Figueiredo, Correspondente - O Globo


BUENOS AIRES — Convencido da necessidade de aumentar “o máximo possível” a pressão sobre a Venezuela, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, pretende “falar em profundidade” sobre o assunto em seu encontro com Michel Temer, na próxima segunda-feira, em Buenos Aires. Em entrevista a correspondentes de jornais brasileiros, o chefe de Estado argentino afirmou estar muito preocupado porque, apesar de ter tomado posições claras em relação ao tema, os resultados a cada dia estão piores. A falta do cumprimento de normas poderia levar a Venezuela a ser afastada do Mercosul em dezembro, segundo ele.

Perguntado sobre quais regras o governo de Nicolás Maduro não está cumprindo, Macri assegurou que, principalmente, as que se referem “ao respeito às normas democráticas e, em segundo lugar, ao sistema econômico, que está colapsado”.


— Hoje, a Venezuela não cumpriu os requisitos que tinha de cumprir para ser um membro ativo do Mercosul. Se até o dia 1º de dezembro não os cumprir, deixará de pertencer ao Mercosul — frisou o chefe de Estado argentino. — Sinto que o governo de Maduro radicaliza suas posições, em vez de gerar uma abertura ao diálogo. Não tenho certeza como vai evoluir o assunto.

O recentemente empossado presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, também destacou esta semana a necessidade de reforçar a pressão sobre a Venezuela. Macri disse não ter feito, ainda, uma proposta a seus sócios do Mercosul sobre como resolver a situação do país, mas deixou claro que sua posição é reforçar as exigências e, caso o governo Maduro não as cumpra, avançar em direção ao afastamento do país do bloco.

— Na minha opinião, o ingresso da Venezuela não acrescentou nada positivo ao Mercosul. O Mercosul seguiria adiante de uma forma mais fácil sem a Venezuela de hoje — enfatizou o presidente argentino.

Na última segunda-feira, Macri e Maduro estiveram juntos na cidade colombiana de Cartagena, onde foi assinado o acordo de paz entre o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Mas ambos, comentou o presidente argentino, não se falaram. Macri é um forte defensor da necessidade de que o governo Maduro dê sinal verde à realização de um referendo revogatório ainda este ano, sobre a permanência de Maduro no poder. A oposição venezuelana tem pressionado nas ruas, mas o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou recentemente que a iniciativa só poderia ser realizada em 2017. Assim, uma eventual derrota do presidente significaria, apenas, a transferência do poder para seu vice, Aristóbulo Isturiz.

— O povo venezuelano tem direito a expressar-se, sobretudo diante da violação sistemática dos direitos humanos cometida pelo governo Maduro. Ainda não vejo isso como parte da agenda no Mercosul. Vamos ver no dia 3 de outubro, quando falaremos com o presidente Temer sobre o assunto — disse Macri.

O presidente lembrou, ainda, que na época da ditadura na Argentina (1976-1983), um dos países mais abertos a receber exilados argentinos foi a Venezuela.

— Devemos aos venezuelanos uma defesa irrestrita de seus direitos, que hoje são violados por um governo que atropelou as instituições democráticas.