quarta-feira, 11 de maio de 2016

O fim da Era da Estrela Vermelha

Com Blog do Noblat - O Globo

Depois de 13 anos, a corrupção como meio de o PT manter-se no poder revogou, em parte, os ganhos dos mais podres, e estarrece o país

A uma semana da data marcada pelo Senado para admitir julgar a presidente Dilma Rousseff por crime de responsabilidade, baixou na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, a “síndrome de Ana Maria Buarque de Hollanda”. É um mal que acomete ministros de Estado às vésperas de perder o emprego e seus privilégios.
O caso que deu nome à síndrome aconteceu com a cantora e compositora Anna Maria Buarque de Hollanda, irmã de Chico Buarque, e ministra da Cultura do primeiro governo Dilma entre janeiro de 2011 e setembro de 2012. Foi um período curto e desastroso para ela e para a cultura nacional.
No dia em que Anna deixou o ministério, o carro oficial levou-a ao apartamento onde morava. Uma vez lá Anna deu-se conta de que faltava água de beber. Telefonou então para o fornecedor de água que abastecia os imóveis ocupados por ministros. Pediu um garrafão de água. E então ouviu dele:
- Esse apartamento não consta mais da relação de apartamentos de ministros. Sinto não poder atendê-la.
Nem três horas haviam se passado desde que Anna deixara de ser ministra. O jeito foi ela mesma sair para comprar água. No dia seguinte, esperou o carro oficial que a levaria ao aeroporto. Não apareceu. Anna foi de táxi e embarcou de volta ao Rio de Janeiro.
- Olha, sou eu. Estou telefonando para me despedir e agradecer por tudo – apresentou-se a um amigo, na última quarta-feira, um poderoso ministro do PT com gabinete no Palácio do Planalto.
Mais dois ministros do PT, amigos da mesma pessoa, telefonaram para ela com o mesmo propósito. Um chorou emocionado e falou que o partido errara muito, o outro pediu: “Não esqueça. Vou precisar de emprego. Aceito trabalhar na iniciativa privada”.
Há 13 anos, pelo menos, esse ministro vivia de empregos públicos. Não era o único. A era da estrela vermelha no poder, a mais longa desfrutada por um partido na história do Brasil republicano, começa a chegar ao fim com o afastamento do cargo, previsto para amanhã, de Dilma e o início de imediato do governo Temer.
É emblemático que entre os ministros de saída estejam seis fundadores do PT, criado há 36 anos. Um ex-ministro e ex-presidente do partido, José Dirceu, está preso em Curitiba, bem como o ex-tesoureiro João Vaccari. Lula é investigado pela Lava-Jato e corre o risco de ser preso a qualquer momento.
Em 2002, o medo que Lula despertou entre os mais abastados acabou derrotado pela esperança de redenção que ele representou para os mais pobres. Depois de 13 anos, a corrupção institucionalizada como meio de o PT manter-se no poder revogou, em parte os ganhos dos mais podres, e estarrece o país.
Foi mortal para o PT a combinação da crise econômica com a crise política. A rejeição a Dilma superou a rejeição a Collor, deposto em 1992 Mais de 60% dos brasileiros querem vê-la pelas costas. A rejeição a Lula jamais foi tão alta. E despencou a preferência pelo PT no ranking dos partidos mais admirados.
O primeiro governo Dilma serviu para que ela afundasse o país. O segundo, para que o país afundasse mais. Quando Collor caiu, o ex-ministro da Casa Civil do governo do general Figueiredo, o jurista Leitão de Abreu, ensinou ao então repórter de O GLOBO em Brasília, João Bosco Rabello:
- Está vendo esses livros? São sobre Direito. Mas em nenhum você encontrará referências ao que chamo de “falência da autoridade política”. Collor caiu por isso.
Repetiu-se com Dilma a “falência da autoridade política”. O que ela dizia deixou de valer. O que ele mandava que fosse feito, não era feito. Ela passou a viver em um mundo de ficção. E assim será até sua sorte seja definitivamente selada.
Fim da Era Petista (Foto: Arquivo Google)