terça-feira, 24 de maio de 2016

Deu no "Jornal Nacional": Lava Jato prende dois suspeitos de intermediar propina para Dirceu

TV Globo


A Lava Jato completou nesta terça-feira (24) a 30ª fase. Mais uma vez, o ex-ministro José Dirceu foi citado. Foi a segunda operação em dois dias.
A fase desta terça (24) investigou duas fornecedoras da Petrobras: a Confab Industrial e a Apolo Tubulars. As duas tinham, juntas, mais de R$ 5 bilhões em contratos.
Segundo as investigações, representantes da Apolo Tubulars procuraram o lobista e delator Júlio Camargo para conseguir o negócio. As duas empresas pagaram R$ 40 milhões em propina entre 2009 a 2013. A maior parte ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque, e outra ao ex-ministro José Dirceu. Duque e Dirceu já foram condenados na Lava Jato e estão presos em Curitiba.
A Apolo Tubulars pagou uma parte da propina a José Dirceu, segundo as investigações, por meio de uma empresa de fachada: a Credencial Construtora, Empreendimentos e Representações.
A sede da Credencial é uma casa em Sumaré, no interior de São Paulo. Os sócios da empresa, Flávio Henrique de Oliveira e Eduardo Aparecido de Meira, tiveram a prisão preventiva decretada. Eles chegaram a Curitiba no início da noite.
“A empresa Credencial foi indicada pelo Luiz Eduardo, o irmão de Dirceu, para o recebimento de propinas, num contexto exclusivo para o recebimento de propinas”, disse o procurador de Justiça Roberson Pozzobon.
Os investigadores também recolheram documentos num escritório de advocacia no Rio de Janeiro. O material será levado para Curitiba. O escritório repassou a José Dirceu R$ 1,2 milhão, mas o Ministério Público ainda investiga se esse dinheiro é propina. Oito pessoas foram obrigadas a prestar depoimento.

Na entrevista pela manhã, os procuradores cobraram a aprovação de leis mais severas para punir a corrupção. O Ministério Público já enviou um projeto de lei ao Congresso Nacional com mais de dois milhões de assinaturas.
“Mesmo num cenário calamitoso como esse, nós vemos uma inércia do Congresso Nacional em aprovar medidas legislativas que possam reverter este quadro. Nós vemos um estado, um sistema político, um sistema jurídico que deveria estar numa CTI, um centro de tratamento intensivo, mas que, por outro lado, quase que não há iniciativas legislativas neste sentido. Podemos ver que hoje o Congresso Nacional tem uma escolha por duas vias.
Por um lado, ele pode escolher em ser uma casa de reabilitação e cura para este sistema corrupto que infelizmente vivemos, ou por outro, pode ser uma casa que se mantenha leniente, uma casa que aceite a corrupção como regra do negócio público e a cartelização como regra nos certames públicos. Espero que a primeira via seja a adotada", declarou Pozzobon.
As propostas de combate à corrupção, apresentadas pelo Ministério Público à Câmara no fim de março, ainda não começaram a tramitar.
Elas foram transformadas num projeto de lei, que depende de uma comissão especial que ainda não foi criada. A assessoria de imprensa da Câmara afirmou que a criação dessa comissão vai ser debatida pelos líderes dos partidos.
A Confab afirmou que não tem evidências de que seus funcionários tenham efetuado pagamentos ilegais pra conseguir negócios com a Petrobras. A empresa também declarou que está colaborando com a investigação.
As defesas da Apolo Tubulars, da construtora Credencial e dos sócios Flávio Henrique de Oliveira e Eduardo Aparecido de Meira também afirmaram que os clientes estão colaborando com as investigações.
O advogado do delator Júlio Camargo disse que ele vem prestando uma colaboração importante para a Justiça.
A defesa de José Dirceu não quis se manifestar.
O JN não conseguiu contato com as defesas de Renato Duque e de Luiz Eduardo Oliveira e Silva.