segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"Ventos de mudança", por Paulo Guedes

O Globo

 A disparada de Marina Silva nas pesquisas eleitorais não deu sinais de arrefecimento. À medida que se aproxima e ensaia superar as intenções de voto em Dilma Rousseff, cresce a ameaça de “cristianização” de Aécio Neves.

A queda do candidato tucano já registrada nas pesquisas pode se acelerar pela transferência de seus votos oposicionistas para o fenômeno Marina. Preparado e experiente, Aécio é excelente candidato, mas pode ser vítima do “voto útil”. Pois não se credenciou até agora como um veículo crível para a indignação do eleitor com a política convencional. A piora da economia pode também tirar mais votos de Dilma e precipitar um desfecho eleitoral ainda no primeiro turno.

O baixo crescimento e o aumento da inflação são tormentos conhecidos. Mas estamos agora entrando em recessão. A expansão dos gastos públicos, a ampliação do crédito e a redução dos juros estimularam a demanda, disparando uma recuperação cíclica transitória e aumentando por alguns anos a produção e o emprego.

Isso a presidente Dilma e o ministro Mantega sabiam como fazer. Mas tal afrouxamento fiscal e monetário não tem o poder de transformar essa reaceleração temporária em crescimento sustentável a longo prazo, essencialmente um fenômeno de ampliação sistemática da oferta. Isso a presidente e o ministro não sabiam, pois a todo momento anunciam e esperam até hoje o início de um longo ciclo de crescimento, que não virá sem mudanças na política econômica.

Entre os ministeriáveis dos candidatos presidenciais, quem melhor tem explicitado as necessárias mudanças é Arminio Fraga, esse capital institucional de ótima qualidade de que dispomos.

A própria Marina, também assessorada por economistas de boa estirpe, abraçou condições indicadas por Arminio para deflagrar um novo ciclo de investimentos: estabilidade monetária, responsabilidade fiscal, livre flutuação cambial, prioridade para a educação, redefinição dos marcos regulatórios e correção de preços críticos de combustíveis e eletricidade.

Com o desejo de mudanças impulsionando Marina, o voto útil debilitando Aécio, e a degeneração econômica derrubando Dilma, podemos estar caminhando para o fim da “velha política”, que conhecemos todos muito bem, mesmo sem saber exatamente o que será a nova.

Marina Silva - Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo