quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"Sonháticos e pesadeláticos", por Carlos Brickmann

Blog Augusto Nunes - Veja




É delírio. Mas neste país o delírio impera. E nem se falou na delirante sorte que, embora aleatória, mostra surpreendente preferência por quem dela precisa para explicar aumentos patrimoniais.
Há carreiras que são uma loteria premiada.

MJST – os juízes sem teto
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, determinou que juízes federais que morem em cidades sem residência oficial disponível recebam auxílio-moradia. Digamos que o caro leitor seja transferido por seu empregador para outra cidade. Receberá auxílio para instalar-se, se a empresa for generosa, e depois pagará suas despesas.
Mas juiz é diferente. O Brasil tem hoje 1.471 juízes federais e 131 desembargadores federais, segundo o Anuário da Justiça Federal 2014.
Flagrantes da vida real
Todos os limites foram ultrapassados: assaltaram o cardeal-arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta, perto de sua casa. E não foi por desconhecimento: d. Orani estava com as vestes de cardeal. Com ele, foram assaltados o fotógrafo oficial da Arquidiocese, um seminarista e o motorista. Os três bandidos que assaltaram o carro reconheceram o cardeal; um deles pediu desculpas, mas continuou a ameaçá-lo com a arma. Roubaram o cordão, o crucifixo, a caneta, o celular, uma réplica do anel que d. Orani recebeu do papa Francisco, a batina do seminarista, o paletó e a mochila do motorista e a câmera. Agora, as coisas estranhas:
1 - Logo depois do assalto, os objetos roubados (exceto a câmera) foram recuperados. Aquilo que raramente acontece quando um cidadão comum é assaltado aconteceu, por coincidência quando o roubo atingiu uma personalidade.
2 - Destaque-se a eficiência da Polícia, que conseguiu encontrar, recuperar – e devolver! – os objetos roubados, numa cidade do tamanho do Rio, mesmo sem ter conseguido prender os assaltantes. Louve-se seu belo trabalho de busca.
E só se descobrirá por que os bandidos insistiram no assalto, para em seguida abandonar os objetos roubados, caso sejam presos. Mas ainda não o foram.
Punhal amigo
Já há algum tempo se suspeita de que o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, PDT, não é especialmente ativo no apoio à candidata de sua coligação, a ex-ministra Gleisi Hoffmann, PT. Fruet, que deixou o PSDB por divergências com o governador Beto Richa, tem tradição antipetista. Mas Gleisi sempre garantiu que Fruet está empenhadíssimo na campanha.
Agora já é possível medir o grau de comprometimento de Fruet com a candidatura de Gleisi: pôs dinheiro de seu bolso na campanha. Fruet doou para Gleisi, em dinheiro, a quantia de R$ 38,00 (trinta e oito reais). Agora, vai! Com a entrada do generoso doador, a campanha sobe de patamar e Gleisi, em terceiro lugar nas pesquisas, apanhando feio do governador Beto Richa (que pode ganhar no primeiro turno) e do ex-governador Roberto Requião, PMDB, talvez consiga ainda subir alguns pontinhos.
Inimigos íntimos
O PT de Curitiba rompeu com Fruet há meses, por causa de cargos. E a fidelidade aos aliados não é o ponto forte desta campanha, em lugar nenhum do Brasil. No Rio Grande do Sul, o peemedebista Pedro Simon e a pepista Ana Amélia apoiam Marina, enquanto o PMDB e o PP estão com Dilma. Em São Paulo, o governador Alckmin e seu candidato ao Senado, Serra, esforçam-se para demonstrar seu apoio a Aécio – dizem até que, outro dia, Alckmin nem cochilou durante o programa eleitoral de seu aliado. No Rio, Dilma largou o petista Lindinho e seu ex-ministro Marcelo Crivella, do PRB, e apoia o peemedebista Pezão, que disputa com o ex-petista Garotinho o primeiro lugar nas pesquisas.