quarta-feira, 3 de setembro de 2014

"O desempenho da indústria continua fraco", editorial do Estadão

O aumento de 0,7% da produção industrial entre junho e julho não aponta para uma mudança da tendência negativa dos últimos meses, refletindo apenas a sazonalidade - o setor superou a paralisia de negócios que marcou o mês de abertura da Copa do Mundo. Tanto que, com a exceção do dado mensal, foram negativos todos os demais indicadores da produção industrial divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre julho de 2013 e julho de 2014, a produção caiu 3,6%. Diminuiu 2,8% na comparação entre os primeiros sete meses deste ano e do ano passado e cedeu 1,2% no acumulado de 12 meses.
Não há dados alentadores, segundo analistas. O consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, destacou em seu boletim diário que, pelo critério de média móvel, houve queda da produção em 9 dos últimos 12 meses. O custo e a qualidade da mão de obra limitam o avanço da competitividade da indústria. São problemas de natureza interna, ao contrário da alegação repetida pelo governo de que as causas da crise são externas.
Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), alguns setores que mostraram forte recuperação em julho, como equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, mal recompuseram as quedas acumuladas nos últimos meses. Um segmento muito forte - veículos automotores, reboques e carrocerias - caiu 18,1% no bimestre maio/junho e cresceu 8,5% em julho. O setor de bens de capital perdeu mais de 20% entre março e junho e ganhou 16,7% entre junho e julho.
Ainda pior é a situação de bens intermediários, em queda há quatro meses consecutivos, inclusive em julho (-0,3%). Esse segmento retrata as operações entre indústrias e seu peso é superior a 50% na produção industrial, ressalta o Iedi. Só a produção de insumos para a construção civil caiu 7,6% entre julho de 2013 e julho de 2014.
Nesta década, o desempenho da indústria tem sido decepcionante: aumentou 0,4% em 2011, declinou 2,3% em 2012, cresceu 2% em 2013 e deverá cair 1,7% neste ano, segundo as projeções do boletim Focus, do Banco Central, com base nas pesquisas com consultorias independentes. O Iedi espera uma queda ligeiramente menor, de 1,4%, neste ano.
Na maioria dos cenários, a indústria puxará para baixo o PIB do terceiro trimestre, mesmo em caso de alguma recuperação em agosto.