Os partidários do “sim” (a independência da Escócia) no referendo de quinta-feira tinham antecipado um prêmio de consolação: podemos perder agora, mas dia menos dia (década menos década, geração menos geração), mais de três séculos de união com os ingleses, galeses e irlandeses do norte chegarão ao fim. O motivo? O pendor por independência dos escoceses mais jovens (well, os jovens um dia, uma década, vão envelhecer). Talvez. Não sabemos o que o futuro reserva aos escoceses, mas no presente foi melhor assim (“melhor juntos” no slogan da campanha do “não”), foi mais seguro. E a margem a favor do “não” foi segura, de 10 pontos (55% a 45%).
A velha Europa vive um momento convulsionado de precariedade econômica, de tensões políticas, de aspirações disseminadas por autonomia, de explosões populistas (muitas tenebrosamente extremistas), de vácuo de lideranças e submetida à agressiva nostalgia russa de um Putin em busca de um império perdido.
Uma independência agora da Escócia (o processo levaria, de qualquer forma, 18 meses) seria um terremoto nas ihas britânicas, no continente, além de implicaç ões estratégicas globais. Não era a hora de arriscar. Na verdade, de acordo com Dan Hodges, do Telegraph, os escoceses nunca quiseram arriscar um voto pela independência.
Ao longo de dois aos e meio de campanha, desde que o referendo foi anunciado, como parte de um acordo entre o primeiro-ministro britânico David Cameron e o escocês Alex Salmond, a campanha pelo “sim” nunca esteve adiante. Houve apenas uma única pesquisa mostrando o voto a favor da independência, o que contribuiu para o frenesi nas últimas semanas.
Sem dúvida, a força do anseio por independência e o pânico das elites londrinas (os três principais partidos britânicos) fizeram com que no horizonte esteja a negociação por devolução de poder, por federalização. O processo deverá se estender ao País de Gales à Irlanda do Norte. No entanto, esta é a história daquelas ilhas: tradição e modernização.
Naqueles ilhas, algumas coisas ficam e outras desaparecem (só a rainha Elizabeth e Mike Jagger parecem eternos). Hoje, é momento de satisfaction pelo que fica (embora com o presságio de mudanças).
Antes do referendo, em um dos seus textos, o jornal The Guardian tinha um parágrafo precioso: “De uma perspectiva, a Escócia abandonando o Reino Unido resultaria no rompimento de um dos mais prósperos, poderosos e harmoniosos estados no planeta, de uma união política que já dura 307 anos e de um país (se tratarmos o Reino Unido como um país e não quatro) que aboliu o tráfico negreiro, derrotou Napoleão, lançou a revolução industrial, colonizou 1/4 do globo e (por um tempo) ficou sozinho de pé contra Hitler”. Desta perspectiva, a rainha não seria a única pessoa nestas ilhas a sentir que isto seria uma vergonha”.
Obviamente, muitos súditos e não súditos da rainha se envergonham de partes da história deste velho país. No entanto, há uma enormidade para se orgulhar, para ter satisfaction, como o desfecho deste espetáculo de civismo e democracia na Escócia, um pedaço do Reino Unido, pelo menos por mais um tempo, quem saiba para sempre.
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Yae, colher de chá para o General Failure (dia 19, 10:07).
Yae, colher de chá para o General Failure (dia 19, 10:07).