O Globo
Em sabatina do GLOBO, candidato se aproximou do discurso de Marina e afirmou que rivais representam 'velha política'
Em quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PT ao governo do Rio, Lindbergh Farias, adotou o discurso da candidata Marina Silva (PSB), principal adversária da petista Dilma Rousseff, durante sabatina do jornal O GLOBO nesta terça-feira, no Centro de Convenção Bolsa do Rio. Se dizendo um representante de uma "nova forma de governar", contraposta ao que ele chama de "velha política", Lindbergh criticou a atuação do PMDB no estado e a falta de diálogo com a população no governo Sérgio Cabral.
- Eu não vou fazer isso aqui no Rio. Quero fazer um governo com os melhores nomes da sociedade. A candidatura de Pezão não tem como dar certo. Ele vai ser um governador manipulado por esse grupo que está aí, com as empresas que estão lá dentro. Eu quero, como governador aqui, montar o melhor time - afirmou Lindbergh - No Rio de Janeiro, o candidato que vai trilhar o caminho da mudança sou eu.
Questionado sobre os acordos do governo federal que acabam em loteamento de cargos, o petista disse que vai governar "com os melhores". Quando perguntado sobre doações de sua campanha por empresas que têm contratos de mais de R$ 1 milhão com a prefeitura de Maricá comandada por Washington Quaquá, seu coordenador de campanha, e sobre processos a que responde na sua então gestão como prefeito de Nova Iguaçu, ele rebateu citando seus rivais.
- Estamos falando de uma doação de R$ 25 mil. O que está acontecendo é um esquema financeiro gigante em favor de Pezão. O governo do estado hoje está o seguinte: a empresa paga um dia o governo do estado, e no outro deposita na campanha - disse.
Sobre os dez inquéritos aos quais ainda responde no Supremo Tribunal Federal (STF), ele respondeu, mas não explicou as supostas irregularidades na administração em Nova Iguaçu, uma delas no qual teria deixado um rombo de cerca de R$ 300 milhões no Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do município.
Lindbergh criticou o próprio partido, ao afirmar que a presidente Dilma Rousseff, se reeleita, "não pode manter essas alianças como vem sendo feitas". Apesar da crítica, ele reafirmou o voto em Dilma. Mesmo tendo participado ontem de um ato na Cinelância que se tornou uma manifestação contra a candidata do PSB, disse que "tem uma relação ótima com Marina" desde a época do Senado.
- Você olha essa Assembleia Legislativa aqui no Rio de Janeiro e, pelo amor de Deus! A presidente Dilma, ganhando essa eleição, não pode manter essas alianças como vem sendo feitas - ressaltou. - Essas manifestações, que foram feitas em junho, foram diferentes do ipeachment que eu liderei. Essas manifestações foram manifestações de crise das metrópoles.
O candidato do PT acusou o PMDB de se beneficiar de esquema de favorecimento com isenções fiscais do estado que remete à "velha política". Ele cicotou Jorge Picciani, em Queimados, e Paulo Melo, em Saquarema. Ambos já presidiram a Assembleia Legislativa.
- Aqui no Rio é a velha política. Temos uma região metropolitana que tem 65% da população. A sorte da Baixada Fluminense é que o afilhado de Jorge Picciani (PMDB) ganhou a eleição. Não pode ser assim. Em relação às isenções fiscais, é vergonhoso.
Lindbergh afirmou que "não quer ficar dependente da Asembleia Legislativa" e prometeu implementar um modelo de orçamento participativo no estado, alegando que o governo atual é "atrasado" e "escuta pouco".
- Vou construir um modelo de orçamento participativo 2.0 para as pessoas escolherem onde o governo vai aplicar os recursos. Para combater esse clientelismo. Podemos fazer votação pelas redes. Isso não é nada demais, isso é aprender com a experiência. Tá faltando um governo que escute mais - disse Lindbergh - Como é que a gente tem um governo tão atrasado? Temos um governo superado, que fala muito e escuta pouco.
Questionado sobre a aliança do PT com o senador Fernando Collor - que Lindbergh combateu no movimento dos caras pintadas - o candidato disse que o colega de Congresso representa "o que há de pior na política" do país e aproveitou para tecer críticas contra o PMDB.
- O Collor representa o que tem de pior na política desse país. Ele tem que ser varrido da política desse país. Lá em Alagoas, pelo contrário, eu torço para que o povo de Alagoas vote em Heloísa Helena.
Logo depois de se dizer "muito amigo" de Eduardo Campos ("achava ele um gestor extraordinário"), Lindbergh também repetiu um discurso de Marina, sobre a descrença na política. "Há uma crise na democracia", declarou o candidato.
- Temos que mudar também a política. Quero fazer um governo mais descentralizado, mais perto das pessoas. Isso é uma mudança gigante. Vai trazer mais a juventude, que está descrente da política. É uma transformação muito grande na vida das pessoas. A internet mudou tudo. Quero que exista projeto de lei via internet. Há uma crise na democracia que está aí.
DOAÇÕES
Ao pregar a moralização da política, entretanto, Lindbergh minimizou o fato de sua candidatura ter recebido dinheiro de empresas que têm contratos milionários com a prefeitura de Macaé - ocupada pelo coordenador de sua campanha, Washington Quaquá.
- Estamos falando de uma doação de R$ 25 mil. O que está acontecendo é um esquema financeiro gigante em favor de Pezão. O governo do estado hoje está o seguinte: a empresa paga um dia o governo do estado, e no outro deposita na campanha. Está acontecendo o maior escândalo de financiamento de campanha no Rio de Janeiro. Foi doada lá [a quantia] e não tem nada de ilegal. Eu tenho uma prestação de contas ao PT, eu só tenho duas doações de 25 mil reais nesse caso - disse Lindbergh. Segundo ele, sua campanha passa por problemas financeiros.
SEGUNDO TURNO
O candidato, ainda que esteja no quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto, acredita que vai para o segundo turno. Ele avalia que os programas de televisão vem perdendo impacto junto ao eleitorado. Ele fez referência às eleições para prefeito, em 2008, e pretende igualar a façanha de Fernando Gabeira (PV) em 2008 e ir para o segundo turno.
- Eu acho que essa eleição vai ser decidida nos últimos dez dias. Em torno de 50% das pessoas não tem voto para governador. Todas as candidaturas estão sendo obrigadas a repetir muito os programas de televisão, porque não há audiência. Há um processo mais lento na definição da eleição de governador - disse Lindbergh. - Pezão fez uma campanha de televisão competente, porque escondeu Sérgio Cabral. Parece que ele chegou ontem de Piraí aqui. Na eleição do Gabeira, a 8 dias para as eleições, Gabeira tinha 10% e Crivella tinha 24% - lembrou o petista. - Eu acho que vou tomar essa vaga do segundo turno do Garotinho. Estamos mostrando os programas em outra linha. Mostrando que é o mesmo grupo que está no governo há 10 anos.
Lindbergh, cujo partido integrava a base aliada da gestão do PMDB no estado, disse que protestou contra a permanência no governo de Sérgio Cabral.
- Com os meus protestos. Queria que o PT saísse do governo Sérgio Cabral há muito tempo. Nós fizemos uma luta política para sair desse governo. Porque esse governo se perdeu. O governo fechou as contas no ano passado com um déficit de R$ 4 bilhões e meio. Sabe como vai fechar esse ano? Com um déficit de R$ 5,7 bilhões. Poucos governos tiveram a chance de fazer uma revolução no Rio de Janeiro como o governo de Cabral e Pezão.
Lindbergh defendeu uma "reforma na polícia", inclusive a desmilitarização das tropas, prevista na PEC 51, e disse que a política das UPPs se equivocou na estratégia de expansão.
Lindbergh criticou a violência policial nas comunidades pacificadas, mas afirmou querer "consolidar o projeto".- É uma polícia que se prepara mais para proteger o cidadão. [A Polícia Militar] Só existe no Brasil. Aqui a PM faz o trabalho ostensivo, preventivo, mas não investiga. Em canto nenhum do mundo é assim, a polícia sempre faz o ciclo completo. Eu, aqui no Rio, na minha PEC, você possibilita até a criação de polícias municipais. Eu transformaria a Polícia Civil numa polícia de combate ao crime organizado, para desmantelar as milícias. A atual polícia civil do Rio foi renegada a segundo plano - observou o candidato, defendendo que a PM hoje é truculenta. - Tem que ser tentado. Tem que ter uma atuação policial diferente. Menos truculenta com o trabalhador. Com uma postura diferente em relação à juventude.
- Não tínhamos como continuar nesse governo. Colocaram violência policial em cima de senhoras que estavam se manifestando. O que é mais importante agora: consolidar o projeto. Mas como financeiramente ? O projeto está sob ataque. Está sob risco. Nesses últimos dois anos, com essa coisa de eleição, levaram UPP para tudo que é lugar. O Pezão diz que vai fazer mais 50 UPPs. É preciso cautela agora para consolidar esse projeto. A pior coisa para o Rio de Janeiro é o processo das UPPS fazer água disse - Só ocupação policial não resolve. Nós temos que ter um conjunto de políticas públicas.
Lindbergh criticou também a migração da violência da capital para outras áreas do estado, assunto recorrente em sua propaganda eleitoral, e disse ser um "equívoco" limitar a política de segurança às UPPS:
- Tem que olhar um fenômeno que existiu mesmo: da migração da violência. Primeiro para o subúrbio do Rio, depois para a Baixada, agora para o asfalto. UPP é uma parte da política de segurança. É um equívoco achar que a política de segurança se resume às UPPs. A situação do morador da Baixada é de desespero. De traficante impondo toque de recolher. São dois Rios. Tem um Rio que é muito esquecido.
CORRUPÇÃO
Sobre o escândalo de desvio de recursos da Petrobras, o candidato do PT afirmou que "tudo tem que ser investigado" e frisou a suposta ligação do ex-governador Sérgio Cabral com o esquema.
- Só digo uma coisa: nunca se investigou tanto quanto no governo do PT. No governo tucano, a PF não era independente e o Procurador Geral da República era chamado de engavetador da republica - criticou Lindbergh. - As investigações tem que ser feitas. Tudo tem que ser investigado a partir de agora. Eu acho que a Polícia Federal está agindo. Temos que esperar a investigação. Sei que tem até ligação com o ex-governador Sérgio Cabral, vi pelos jornais.
Na sabatina, Lindbergh insinuou que os processos na Justiça relativos à sua gestão em Nova Iguaçu - casos como corrupção passiva, peculato e, em um deles, um rombo no fundo da previdência municipal - foram fruto de disputas políticas.
- Eu fui prefeito em Nova Iguaçu e você sabe a quantidade de enfrentamentos políticos que eu enfrentei no Estado do Rio. Enfrentei o PMDB, que joga pesado. Foram dez casos. Os dez foram arquivados por unanimidade. Eu enfrentei Jorge Picciani na eleição para o Senado. Qualquer um pode fazer denúncia. Denúncia anônima vira inquérito. Em nenhum caso, o Supremo viu indícios.
Ele aproveitou para criticar seus principais adversários na disputa estadual.
- Vivo uma situação diferente dos meus dois adversários, Garotinho e Pezão, um condenado com o ex-chefe da Polícia Civil e o outro condenado por superfaturamento de ambulâncias. Pezão teve um processo aceito e foi condenado por superfaturamento de ambulância e ainda responde a três processos sobre a máfia dos sanguessugas.
SAÚDE
Qustionado sobre a situação do Hospital Municipal da Posse, em Nova Iguaçu, Lindbergh justificou que o hospital sempre que esteve fechado foi para obras de melhorias da estrutura.
- Nós temos um problema do Estado do Rio. É um hospital mantido pelo município que não tem condições de suportar a Baixada toda. O Estado do Rio é o que menos investe em Saúde no Brasil. A corda arrebenta para tudo que é lado - disse, afirmando que a Saúde não está boa em nenhum lugar do estado. - O problema é a falta de integração entre as políticas.
EDUCAÇÃO
Questionado sobre a Educação em Nova Iguaçu, o ex-prefeito da cidade da Baixada afirmou que "melhorar o Ideb é uma questão de tempo".
- Melhorar o IDEB não é de uma hora para a outra. Às vezes, os governantes não fazem um trabalho para a educação porque é de longo prazo. Tenho muito orgulho do que fiz em Nova Iguaçu. Fizemos uma rede bem desenvolvida utilizando recursos do governo federal. O programa Mais Educação do governo federal surgiu de um projeto criado em Nova Iguaçu. Se você for hoje conversar com qualquer professor de Nova Iguaçu, qualquer não, porque você vai achar um que tem reclamações... Conversa com dez professores. E você vai ver que todos estão satisfeitos. Melhorar o IDEB é questão de tempo. Não é de uma outra para outra.
O candidato justificou ainda a promessa de resgatar os Cieps, projeto educacional criado por Leonel Brizola.
- É claro que o mundo hoje é outro, não é aquele CIEP da década de 1980. É um tema que eu tenho muito orgulho. Quero ser um governador que não resgate só o projeto dos CIEPs, mas que invista no estudo de tempo integral. E tem que fazer o que o estado do Ceará fez também. Conseguiu as melhores notas, alfabetização na idade certa, parceria com secretarias municipais.
MARACANÃ
O candidato petista criticou os gastos relativos à reforma do Maracanã e prometeu fazer uma auditoria nas contas do estádio.
- Primeiro, eu acho que o plano do Maracanã foi todo errado. Você faz as concessões e dá à iniciativa privada. Não há problema. Agora, você faz tudo com dinheiro público, e entrega à iniciativa privada. Aí não dá. É preciso fazer uma parceria também na construção - afirmou Lindbergh - Foi a Delta construindo. Eu quero fazer uma auditoria no Maracanã.
Ele defendeu ainda a redução do preço dos jogos, com ingressos populares em todas as partidas.
- Tem que ter ingressos populares em todos os jogos. O Maracanã era aquela coisa de pertencimento das pessoas. Na época da construção do Maracanã, tinha a seguinte discussão: Lacerda queria levar o Maracanã para a Barra, e Mário Filho queria fazer lá, para ter o povo e a elite - disse Lindbergh, negando que vai estatizar o estádio. - Não estou querendo prometer nada nesse sentido (de estatizar novamente). Vamos fazer uma auditoria e depois ver o que vamos fazer.
O candidato afirmou ainda "o compromisso de levantar imediatamente toda a estrutura do Célio de Barros e do Júlio Delamare", que fazem parte do complexo do Maracanã.
PRÓXIMOS CANDIDATOS
O próximo candidato a participar da série de Sabatinas será Anthony Garotinho (PR), na quarta-feira, a partir das 10h. Logo depois, participam Marcelo Crivella (PRB) e Luiz Fernando Pezão (PMDB). Convidados na plateia também sugerir perguntas, e leitores podem enviar seus questionamentos através do Twitter utilizando a hashtag #CandidatosNoGlobo.As sabatinas são uma tradição no GLOBO. O jornal abre espaço para o debate sobre o estado e o país ao longo de todas as campanhas eleitorais com a intenção de ajudar seus leitores a decidir melhor em quem votar.