TVEJA e as ELEIÇÕES EM SP: Kassab jura que não traiu Serra. Mas leiam o que escrevi e julguem vocês mesmos
Vereador, deputado federal duas vezes — bem votado, mas de atuação discretíssima –, secretário do Planejamento da desastrada administração do prefeito Celso Pitta em São Paulo durante um ano e alguns meses, entre 1997 e 1998, Gilberto Kassab (então no PFL, hoje DEM) era um completo desconhecido em plano nacional.
Até que, em 2004, José Serra (PSDB), dois anos após enfrentar Lula nas urnas pelo Palácio do Planalto, e seguindo à risca a aliança entre os tucanos e o PFL formada ainda na campanha eleitoral do governador Mário Covas, em 1994, chamou-o para ser seu candidato a vice-prefeito.
Serra precisou enfrentar resistências dentro do PSDB de setores que consideravam Kassab identificado com o malufismo, por ter participado do governo de Pitta, discípulo de Paulo Maluf. Mas Kassab ficou como vice.
Serra e Kassab venceram a então prefeita Marta Suplicy (PT) no primeiro turno, mas como não houve maioria absoluta, houve um segundo turno, com vitória tranquila da chapa PSDB-DEM — 10 pontos percentuais e mais de meio milhão de votos de vantagem.
Dois anos depois, em 2006, sendo considerado o melhor candidato para manter o Palácio dos Bandeirantes em mãos do PSDB, Serra renunciou à Prefeitura, candidatou-se e venceu. Kassab, então, de político apagado e pouco conhecido, assumiu a Prefeitura da maior, mais rica e mais importante cidade do país.
Realizou uma gestão muito bem avaliada, cujo ponto alto foi algo considerado impossível: a aprovação da lei “Cidade Limpa”, que livrou São Paulo da colossal poluição visual representada por outdoors, letreiros de estabelecimentos comerciais e todo tipo de abusos do espaço público para fins comerciais.
Em seu ano final de governo, 2008, Serra bancou Kassab como candidato à reeleição pelo PFL, então rebatizado como DEM, contra boa parte de seu próprio partido, que lançou o ex-governador Geraldo Alckmin para a Prefeitura.
Com o decidido apoio do governador Serra, e amparado em seu bom desempenho na Prefeitura, e a nova polarização com a ex-prefeita Marta Suplicy, Alckmin acabou fora do segundo turno — no qual Kassab, sempre com o suporte de Serra, massacrou Marta, tendo mais de 60% das preferências do eleitorado e ultrapassando a ex-prefeita por mais de 1,3 milhão de votos.
Pois assim foi. Até que, tendo sido eleito por uma coligação de oposição, no começo de 2011 Kassab consolidou seu projeto de fundar um novo partido, o PSD — que, não sendo, na histórica e cômica definição do então prefeito, “nem de esquerda, nem de direita, nem de centro”, destinava-se a apoiar a quem PSDB e DEM combatiam: o governo lulopetista da presidente Dilma Rousseff.
Não satisfeito com a facada nas costas que aplicou nos parceiros do PSDB e especialmente em Serra, agora, nas eleições para a única vaga de São Paulo no Senado, Kassab lançou-se candidato… contra Serra, com o óbvio objetivo de favorecer o senador Eduardo Suplicy, do PT, que pretende permanecer no Senado mais oito anos, além dos 24 em que lá está.
Na entrevista que vocês verão com Joice Hasselmann, porém, Kassab jura que não traiu Serra. Chegou até a ficar irritado.
Eu, porém, não conheço outra palavra para o que fez o ex-prefeito, que de João Ninguém na política passou a ser uma figura nacional pelas mãos do mentor contra o qual agora se lançou.