sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Apesar de medidas de estímulo do BC, volume de crédito no país desacelera

Gabriela Valente - O Globo

Apesar das medidas para estimular o crédito adotadas pelo Banco Central (BC) nos últimos dois meses, o crescimento do volume dos empréstimos na economia brasileira continuou a desacelerar em agosto. Segundo dados do próprio BC, há R$ 2,9 trilhões em financiamentos ativos no país. Isso representa um crescimento de 11,1% nos últimos 12 meses. Em julho, a taxa de alta estava em 11,4%.

Em julho, preocupado com o lento crescimento do país, o BC mudou as regras internas do setor financeiro para forçar as instituições financeiras a não deixarem dinheiro parado e emprestarem mais. A ideia era aumentar o crédito disponível no mercado em até R$ 45 bilhões. Um dos créditos que a autoridade monetária queria incentivar é o financiamento de veículos e motocicletas.

Depois, em agosto, uma mudança nos depósitos compulsórios, parte dos recursos dos clientes que os bancos são obrigados a recolher aos cofres do BC, liberou R$ 10 bilhões. A autoridade monetária também reverteu todas as medidas tomadas em 2010 para restringir o crédito, batizadas de macroprudenciais, liberando mais R$ 15 bilhões do capital dos bancos e podendo gerar empréstimos novos de até R$ 140 bilhões.

CAI ESTOQUE DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULOS

Os esforços do governo para estimular o setor de veículos, por exemplo, ainda não foram capazes para aumentar o saldo desse empréstimo. Ao contrário, há R$ 184,6 bilhões em financiamento de carros no Brasil: queda de 0,3% no mês passado. No entanto, já há recuperação nas concessões de crédito automotivo em agosto. O aumento foi de nada menos que 37,2% no mês passado. O forte número, entretanto, não foi suficiente para reverter a queda sentida no ano de 9,3%.

— Os impactos ainda são relativamente modestos. Terá mais impacto no médio prazo. Ainda é algo incipiente — ponderou o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, que fez questão de ressaltar que o crescimento das concessões de crédito para veículos, em agosto, é o principal efeito das medidas tomadas nos últimos dois meses.

Na visão do Banco Central, as medidas tomadas não devem alterar a projeção de crescimento de 12% do crédito no país neste ano. No entanto, deve impedir que haja uma desaceleração muito mais forte. Por isso, a aposta foi mantida pela autarquia. Ou seja, a ideia é que a concessão de empréstimos deve ganhar ritmo até o fim do ano para garantir a taxa prevista pelo BC.

Por outro lado, em agosto, a concessão de crédito para as famílias caiu 2,6% porque as pessoas físicas pegaram apenas R$ 161,6 bilhões em empréstimos. Nem mesmo a redução do custo do financiamento e o aumento do prazo para o pagamento colaboraram para aumentar o fechamento de novos contratos.

FAMÍLIAS DIMINUEM DÍVIDAS NO CHEQUE ESPECIAL

O juro médio cobrado delas pelos bancos teve a primeira queda em oito meses. De acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Banco Central, a taxa média caiu de 28,2% ao ano para 27,9% ao ano em todos os tipos de empréstimos tanto com os recursos que os bancos são obrigados a emprestar em um tipo específico de linha ou que há liberdade para negociar como quiser.

— Taxas de juros estão oscilando no mesmo patamar desde a interrupção de alta da Selic — frisou Maciel.

No mês passado, as famílias diminuíram as dívidas no cheque especial – que têm juros que crescem há 15 meses seguidos e estão em exorbitantes 172,8% ao ano - e aumentaram a contratação de empréstimos com desconto em folha de pagamento. Na média, o crédito consignado tem juros de 25,8% ao ano. Só essa troca de dívidas pode ter sido suficiente para fazer com que a média dos juros cobradas pelos bancos das pessoas físicas caísse.