quinta-feira, 18 de setembro de 2014

"Alerta da indústria de óleo e gás merece atenção", editorial de O Globo

O pré-sal mostrou o potencial do Brasil nesse grande mercado, mas os investimentos dependerão de o país assegurar condições



S
egundo evento internacional mais importante no mundo petrolífero, a Rio Oil & Gás termina hoje no Riocentro. Quatro pavilhões inteiros estiveram ocupados, desde segunda-feira, por estandes de companhias que atuam direta e indiretamente na produção de petróleo e gás, o que inclui uma extensa rede de indústrias, prestadores de serviços, desenvolvedores de tecnologia, especialistas em regulação, etc.

Paralelamente à exposição, são realizadas no evento muitas sessões técnicas e reuniões plenárias nas quais destacados executivos e autoridades do setor manifestam suas opiniões sobre o presente e o futuro do petróleo na economia mundial, e, é claro, no Brasil.
Trata-se, portanto, de um bom momento para se avaliar a disposição das empresas a investir, e se ter uma ideia da visão daqueles que decidem e executam tais projetos.

A maturação de investimentos na indústria do petróleo é necessariamente a longo prazo. O início efetivo da produção de um campo de petróleo no mar pode levar até dez anos após a escolha da área de prospecção. A perfuração de um poço exploratório é precedido de vários estudos para se identificar o local mais provável da existência de um reservatório de óleo e/ou gás. É nessa fase que se concentra a maior parcela de risco do investimento.

Descoberto o campo e dimensionado o seu potencial, incia-se a fase de desenvolvimento, durante a qual decide-se a melhor forma de extrair a maior quantidade de hidrocarbonetos por mais tempo possível.

Por ser um segmento extremamente regulado, as empresas resolvem investir mirando não apenas as possibilidades de encontrar bons reservatórios, mas também as condições que cada país impõe para a atividade.

No caso do Brasil, o que se observou na Rio Oil & Gas deveria servir de alerta. O pré-sal é sem dúvida um considerável atrativo para indústria, mas o Brasil não está hoje sozinho na disputa por investidores. 

O México também resolveu abrir seu mercado e se tornará um concorrente de peso na atração de capitais. A exigência de que a Petrobras seja operadora única e tenha participação mínima de 30% em qualquer consórcio que se disponha a investir no pré-sal desagrada aos demais investidores (e certamente não é o modelo ideal para a própria estatal brasileira). A política de conteúdo local é outra questão que merece ser revista. 

A oportunidade de se inserir o Brasil em toda a cadeia do óleo e gás deve estar associada à competitividade. A exigência de conteúdo local é um tiro no pé, se os equipamentos produzidos e os serviços prestados no país forem mais caros e menos eficientes.

Como todos os principais candidatos à presidência se propõem a fazer um novo governo a partir de 1° de janeiro de 2015, a reavaliação da política brasileira para produção de petróleo precisa entrar na pauta.