terça-feira, 8 de julho de 2014

Somente 10 transatlânticos virão ao Brasil no próximo verão, metade do que veio em 2011

- O Globo

Custo de operação no Brasil empurra companhias para destinos na Ásia e no Oriente Médio


Para Carla Olivares, à esquerda, com Maria Gonzales, acompanhar a Copa de cruzeiro é mais cômodo: ‘A viagem inclui hospedagem, alimentação, ingressos’
Foto: Bianca Pimenta / Freelancer
Para Carla Olivares, à esquerda, com Maria Gonzales, acompanhar a Copa de cruzeiro é mais cômodo: ‘A viagem inclui hospedagem, alimentação, ingressos’ - Bianca Pimenta / Freelancer



A próxima temporada de cruzeiros marítimos no Brasil, que vai de novembro a abril de 2015, contará com dez navios no litoral do país. Isso equivale à metade do número de embarcações registradas no verão 2010/2011. Em passageiros, o movimento encolheu de um pico de 805.189, em 2011/2012, para 596.532, na temporada passada. Segundo a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Abremar Brasil), isso se deve ao custo de operação no Brasil. Com menor margem de lucro, em comparação a outros importantes mercados de cruzeiros no mundo, as companhias estariam deslocando embarcações para navegar em águas de destinos que oferecem maior rentabilidade, sobretudo na Ásia e no Oriente Médio, explica Roberto Fusaro, presidente da Abremar.

— Operar cruzeiros turísticos no Brasil custa entre 50% e 100% que em destinos de Europa e EUA. Taxas portuárias, custo da praticagem, exigências trabalhistas e outros fatores tornam a operação menos rentável.

Procura pelos cruzeiros há, garante Fusaro. A estimativa para a temporada 2014/2015 é elevar o número de viajantes para 640 mil, apesar de contar com um navio a menos que no verão passado. A expansão virá da oferta de minicruzeiros, roteiros de menor duração e com preço mais acessível. Isso vai ampliar o número de vagas disponíveis.

O mercado confirma a demanda aquecida. Em maio, a operadora de turismo CVC teve aumento de 20% nas vendas de cruzeiros turísticos, ante igual mês de 2013. Além disso, segundo a Abremar, quatro companhias — Costa, MSC, Pullmantur e Royal Caribbean — vão oferecer 239 cruzeiros, em dez navios. Precisamente, a oferta vai subir para 640.564 vagas.

— A Copa atrapalhou o turismo brasileiro. O movimento caiu, as pessoas adiaram as férias. Agora, parecem estar comprando antecipadamente viagens para o verão. O dólar também está melhor — diz Valter Patriani, vice-presidente de Produtos, Vendas e Marketing da operadora.

Para ele, ao montar minicruzeiros, as companhias marítimas conseguem praticamente dobrar a oferta de saídas, embora reduzam o tíquete médio. Em dezembro, há saídas de sete dias a bordo do Sovereign por R$ 1.579 por pessoa. Um minicruzeiro de três dias, no Zenith, no mesmo mês, custa R$ 699.


INVASÃO MEXICANA NA COPA

Durante a Copa, dois navios fretados no México estão circulando pelo litoral do país.
— Num cruzeiro ficou muito mais fácil viajar para acompanhar a Copa. A viagem inclui tudo, hospedagem, alimentação, ingressos. E é uma ótima maneira de conhecer lugares — diz a engenheira mexicana Carla Olivares.

Paul Ginsburg gostou e pretende voltar ao Brasil - Bianca Pimenta / Agência O Globo

Já o empresário Paul Ginsburg lamentou o fato de o navio ter sido fretado exclusivamente para mexicanos. Ele pretende voltar ao Brasil:

— Uma das vantagens de um cruzeiro é conhecer pessoas de vários lugares.

O aumento de passageiros previsto para a próxima temporada vai garantir a manutenção da receita gerada pelos cruzeiros turísticos na temporada 2013/2014, que foi de R$ 1,15 bilhão. Este total representa queda de 18% ante o verão 2010/2011, de acordo com pesquisa de Clia Abremar Brasil e FGV.

— As empresas querem ampliar a atuação no país. Mas a melhoria em infraestrutura e custos prometida pelo governo é lenta. Com isso, o Brasil perde navios para destinos mais lucrativos — diz o presidente da Clia Abremar.

O Porto Veleiro, em Búzios, que é privado, aguarda há quatro anos autorização da Secretaria de Patrimônio da União para concluir a construção de cinco gates, que servem para a chegada de pequenos barcos que trazem passageiros de navios em escala no balneário fluminense.
— Temos todas as licenças. Mas o processo é lento demais. Teremos 97 das 122 escalas previstas para a cidade no próximo verão. As outras vão para o cais municipal — diz Carlos Eduardo Bueno, à frente do Porto Veleiro e da BrasilCruise, que reúne os terminais de cruzeiros marítimos do país.


PACOTE DE INCENTIVOS

A Secretaria de Portos reconhece a morosidade no avanço em estrutura portuária do país. Mas enumera esforços para mudar o quadro. Desde novembro de 2011 até o fim do ano que vem, perto de R$ 660 milhões estão sendo investidos em modernização e ampliação dos portos de Santos, Natal, Recife, Salvador e Fortaleza.

— Essas obras permitem receber navios maiores. Devem ajudar, sobretudo, a fortalecer o circuito de cruzeiros no Nordeste. Nossa meta é voltar ao patamar de 800 mil passageiros por temporada no verão 2015/2016 — diz Tiago Correia, secretário de Infraestrutura Portuária da Secretaria de Portos.
— É preciso lembrar da sazonalidade: temos receita por cinco meses, custo por 12 — diz, por sua vez, Américo da Rocha, diretor de Operações do Pier Mauá, no Rio.

Os portos cobram dos navios taxas como as de embarque, desembarque, trânsito e atracação. Rocha crê que, se a temporada crescer, esses custos podem cair. Ele diz, porém, que, a despeito da queda no movimento de passageiros e navios recentemente, essas taxas não tiveram reajuste.

A incidência de tributos como PIS e Cofins sobre o combustível, questões trabalhistas, como a exigência de contratação de 25% de mão de obra brasileira por navios estrangeiros, e a praticagem oneram a operação no país, diz Rodrigo Paiva, diretor da Mind Estudos e Projetos, consultoria do setor.

— A competitividade nessa área vai depender de uma política que ajude a estimular a operação, atacando os altos custos — opina Paiva.

Isso pode estar perto de acontecer. O Ministério do Turismo promete para este semestre um pacote de medidas para estimular atividades em diversos setores, como o de cruzeiros marítimos, afirma Vinicius Lummertz, secretário nacional de Políticas de Turismo.

— Vamos entrar num momento de grande ampliação de portos. O PAC prevê um total de R$ 7,5 bilhões para o setor, até 2015. Há outros R$ 6 bilhões para terminais portuários. No total, serão mais de 50 portos beneficiados. E vamos lançar um conjunto de medidas, que inclui novas legislações, para garantir eficiência ao setor.