Cristiane Bonfanti - O Globo
Estudo da CNI mostra que empresas não farão aportes nos próximos 10 anos
Em meio a um processo mundial de inovação, a indústria brasileira enfrenta dificuldades para adotar novas tecnologias, o que contribui para agravar a crise no setor. Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que os empresários têm pouca disposição para comprar e usar novas tecnologias num horizonte de dez anos.
No setor de vestuário, com presença forte de micro e pequenas empresas, também é baixa a intenção de adotar novos equipamentos. A exceção é o segmento automotivo, que por sua natureza demanda mais pesquisa. Para 27 de um total de 37 tecnologias emergentes listadas, varia de 51% a 70% o total de empresários que pretendem investir.
— Há uma heterogeneidade grande no parque fabril brasileiro. Temos máquinas antigas, com até dez anos de uso a mais do que os equipamentos na Europa — afirmou Marcelo Pio, especialista de Desenvolvimento Industrial, da Unidade de Estudos e Prospectiva (Uniepro) da CNI.
Além de enfrentar os conhecidos desafios relacionados à baixa produtividade da mão de obra e ao custo Brasil, os empresários industriais retardam investimentos devido às atuais incertezas econômicas, o que afeta diretamente a sua produção. Não por acaso, a pauta exportadora brasileira continua baseada em produtos básicos, cuja participação superou pela primeira vez, no primeiro semestre deste ano, o patamar de 50%.
O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix, destacou que, ao longo dos últimos anos, governo, instituições e associações empresariais têm se esforçado para difundir uma cultura de inovação. No entanto, avalia, a indústria brasileira carrega o peso de uma tradição negativa, fruto de décadas de uma economia fechada, competição mutilada, proteção ao mercado e baixa exigência de qualidade no próprio mercado doméstico.
— A inovação no Brasil ainda não se dá em áreas críticas. Ela ocorre majoritariamente como uma inovação “mais light, incremental”. Isso tem peso na economia, gera emprego, mas não é uma inovação que marca a história e a trajetória das empresas — disse Arbix.
Protecionismo agrava atraso
Mas é possível encontrar ilhas de excelência. A empresa de médio porte Braile Biomédica mantém quase um terço de seus profissionais atuando em pesquisa e reinveste 40% de seu faturamento em inovação. Fabricante de produtos que viabilizam a cirurgia cardíaca, a empresa criou há cinco anos a válvula transcateter Inovare, um dispositivo para tratamento pouco invasivo das válvulas cardíacas fabricado com pericárdio bovino.
O atraso tecnológico característico da indústria brasileira, na visão de especialistas, foi agravado por medidas protecionistas adotadas ao longo de décadas. Dados do relatório Global Trade Alert (GTA), aos quais o GLOBO teve acesso, mostram que, nos 12 meses encerrados em junho, o Brasil aparece na terceira posição na implementação de medidas de defesa comercial, com 50 medidas, atrás apenas da Rússia (com 83 medidas) e da Índia (62).