quinta-feira, 24 de julho de 2014

Eleitores de São Paulo declaram voto em chapas inusitadas para presidente e governador

- O Globo

Quase 15% dos paulistas dizem apoiar à reeleição de Dilma (PT) e de Alckmin (PSDB)

 


Gráfico mostra formação de chapas inusitadas com base nas respostas


A salada de alianças feita para as eleições de outubro — classificada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), como um “bacanal eleitoral” — encontra eco em parcela dos eleitores de São Paulo.

De acordo com cruzamento de dados da última pesquisa Datafolha, a segunda chapa com mais votos no estado é a composta por Dilma Rousseff (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), membros de partidos opositores que há 20 anos disputam o poder. Batizada como “Dilmalckmin”, a chapa é a preferida de 13% dos paulistas. Mas não fica muito atrás da “Alckmécio”, com 18% dos eleitores que apoiam os tucanos Aécio Neves e Alckmin.

A coligação formal entre Eduardo Campos (PSB) e Alckmin, apelidada de “Edualdo”, não foi suficiente, até agora, para impulsionar o socialista. Ela conquistou apenas 4% do eleitorado de São Paulo, índice menor do que o registrado há quatro anos, também na véspera da campanha de TV, quando 6% dos paulistas votavam em Alckmin e Marina Silva (então do PV).


'CAMPANHA NÃO COMEÇOU'

Outra chapa formada por forças opostas que tem adeptos em São Paulo é a de Aécio com Paulo Skaf (PMDB). Ela conta com o voto de 4,5% dos eleitores paulistas e é a terceira mais popular do estado, com o nome de “Skafécio”. O “Skafilma”, que reúne quem votaria em Skaf e Dilma, não fica muito atrás. É a escolha de 4% dos entrevistados na pesquisa. O “Eduskaf”, com Campos e Dilma, tem, por sua vez, 2,5%.

As campanhas minimizam o impacto das chapas inusitadas, mas reconhecem que terão que trabalhar para tentar desfazê-las.

— A campanha não começou. O que vemos é uma migração do eleitor para aquele (candidato) que ele mais conhece. É natural Dilma e Alckmin receberem esses votos — avalia o coordenador de Alckmin, Edson Aparecido.

A estratégia tucana de aproximar Aécio de Alckmin em suas agendas por São Paulo tem a ver com a eleição presidencial de 2010. Naquele ano, José Serra era o nome do PSDB ao Planalto, e, faltando três semanas para o início da propaganda de TV, a chapa “Serralckmin” era a preferida de 32% dos paulistas.

Para o coordenador de Skaf, Luiz Antônio Fleury, “pesquisas têm valor relativo” neste momento da disputa, em especial quando “os candidatos da oposição não são conhecidos”.

— O perfil dos concorrentes ainda não está definido. Isso acontece durante a campanha.

Contudo, Fleury ressalta que essa tendência de voto em Skaf associado a mais de um presidenciável, e não apenas ao PT, já era esperada, por seu perfil estar associado ao empresariado, pela fadiga frente ao PSDB e pela rejeição ao PT no estado.

O voto casado em Dilma e Padilha une escassos 2,5% do eleitorado paulistano, o que é motivo de preocupação para a campanha petista. O presidente do PT estadual, Emídio de Souza, aposta no início da campanha eleitoral para alterar este quadro.

— Essa mistura tende a se dissipar. Uma parte permanece, mas, até a eleição, o quadro é outro. Correntes ideológicas estarão mais claras, e as afinidades aparecem — afirma.


ELEIÇÃO SEM IDEOLOGIA

O cientista político da UFSCar Fernando Antônio de Azevedo pensa diferente:

— No Brasil, não temos uma eleição marcada por diferenças ideológicas. Os candidatos têm tradições partidárias distintas, mas as diferenças se explicitam por meio do programa de governo, não de ideologia.

Para Azevedo, o leitor está mais preocupado com o reflexo da economia em sua vida do que com cor da legenda.

— Em contexto de crescimento do PIB, inflação controlada, aumento de renda e pleno emprego, a tendência é que o eleitor vote no governo. Se o contexto é contrário, o eleitor tende a votar novas propostas. Mas isso não é automático. A oposição tem que se qualificar para mostrar que é ela a resposta.