sábado, 26 de julho de 2014

A incrível história do deputado Luiz Moura, quadrilheiro da gangue de Lula, que o PT luta para expulsar, mas não consegue

ALBERTO BOMBIG - Época

A incrível história do deputado que foi preso, fugiu da cadeia, enriqueceu, foi apanhado em reunião com organização criminosa – e agora o PT luta para expulsar, mas não consegue

 
 
DINHEIRO E LIBERDADE O deputado Luiz Moura. Longe da cadeia, ele acumulou um patrimônio acima de R$ 5 milhões (Foto: Ale Frata/Frame/Folhapress)
 
Fundado na capital paulista em 1980, o PT cresceu e se expandiu em todo o Brasil a partir de São Paulo. O Estado deu a Luiz Inácio Lula da Silva uma biografia política e seu primeiro mandato como homem público, deputado federal nas eleições de 1986. Ao longo de três décadas, os petistas colecionaram êxitos em São Paulo. O mais recente foi a eleição de Fernando Haddad para prefeito da capital em 2012 – vitória que, na visão dos petistas, inauguraria um novo tempo do partido no Estado e sedimentaria o caminho para a reeleição de Dilma Rousseff e para a tão sonhada conquista do Palácio dos Bandeirantes.
 
Na última semana, menos de dois anos depois da vitória de Haddad, a cúpula do PT diagnosticou que a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição está em situação delicada no Estado. No primeiro turno, ela e Aécio Neves (PSDB) têm, cada um, 25% das intenções de voto em São Paulo. Na simulação para segundo turno, Aécio venceria Dilma com 50% a 31%. Em conversas reservadas, Lula tem demonstrado preocupação com os altos graus de rejeição a ela em São Paulo. A última pesquisa do Datafolha apontou que 49% dos eleitores paulistas não votariam nela de jeito nenhum.
 
Para Lula, se não acontecer uma mudança, Dilma corre sérios riscos de fracassar em outubro. O PT enfrenta dificuldades também na disputa pelo governo do Estado. Geraldo Alckmin lidera as pesquisas com folga e, no Senado, José Serra está à frente de Eduardo Suplicy. O que explica esse quadro tão desfavorável, no Estado que concentra 22,4% dos eleitores do país – 30 milhões de pessoas?

A principal resposta, segundo os líderes petistas, está no fracasso da gestão Haddad. O Datafolha mostrou que 47% dos paulistanos consideram a administração dele ruim ou péssima. Como uma âncora, Haddad arrasta Padilha para o fundo. Mas outros problemas assombram o PT. O principal é a suspeita de ligações do deputado estadual Luiz Moura com o crime organizado. Desde o mensalão, em 2005, o PT vem perdendo espaço na classe média e nos grandes centros urbanos ao se envolver em negócios suspeitos. O mais recente deles envolve um dos maiores pesadelos dos paulistas, a facção criminosa que opera nos presídios e é conhecida pela sigla PCC.

Uma investigação da Polícia Civil de São Paulo, a que ÉPOCA teve acesso, mostra que Luiz Moura esteve, em 17 de março, numa reunião da cooperativa de transportes Transcooper, na Zona Leste de São Paulo. Das 40 pessoas presentes ao encontro, ao menos 13 eram da organização criminosa – entre elas, um foragido, Carlos Roberto Maia, o Carlinhos Alfaiate, preso por roubo a banco. O inquérito apura os incêndios a ônibus na capital.

Moura é um velho conhecido dos líderes petistas – entre eles, o secretário dos Transportes da capital, Jilmar Tatto, que doou R$ 201 mil à campanha de Moura em 2010. Moura também tem tradição na política paulistana. Senival Moura (PT), seu irmão, é vereador na Câmara Municipal da capital e tem peso importante na bancada. A base de ambos fica na populosa Zona Leste da capital, onde ocorreu a reunião da facção criminosa. Senival, assim como Luiz, atua no ramo do transporte público e é ex-perueiro.

A Polícia Civil suspeita que a facção incendeie os ônibus das concessionárias do transporte público da capital para colocar veículos das permissionárias (os antigos perueiros) no lugar. As permissionárias têm ligações com a facção, a quem pagam uma espécie de “imposto”. Segundo ÉPOCA apurou, a polícia quer saber se Moura funciona como um braço político da organização criminosa. O Departamento de Investigações Criminais de São Paulo (Deic) pediu à Justiça a quebra do sigilo telefônico dos participantes da reunião em que estava Moura. A Justiça negou.

Os dirigentes do PT demonstraram surpresa com a revelação e foram rápidos ao tentar impedir Moura de disputar a reeleição. Ao contrário do que fez com os envolvidos no mensalão, o PT imediatamente suspendeu Moura da sigla – uma expulsão branca – e o deixou sem legenda para concorrer à reeleição para a Assembleia. Por isso, o nome Luiz Moura ficou fora da convenção estadual do partido, realizada em 15 de junho. Moura não aceitou o expurgo. ÉPOCA apurou que ele procurou os diretórios municipal e estadual do PT para dizer que não aceitaria ser abandonado e fez ameaças que envolviam até a gestão Haddad.

A tensão entre Moura e o PT se acirrou publicamente na primeira semana de julho. Uma decisão provisória da Justiça de São Paulo, acionada por Moura, atingiu o partido em duas frentes. Invalidou a suspensão temporária e anulou toda a convenção petista no Estado. Na prática, isso significa a anulação de todas as candidaturas aprovadas pelos delegados petistas –  entre elas, a do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo do Estado. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ) considerou que o PT não concedeu direito de defesa a Moura antes de suspendê-lo. O PT nega, diz que o ouviu, mas considerou a explicação dele insuficiente.

 
SÓ DOR DE CABEÇA Dilma no aeroporto de São Paulo. O deputado Luiz Moura é mais um problema a atrapalhar sua candidatura no Estado  (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)


A decisão foi alterada no próprio TJ em 11 de julho. O Tribunal validou a convenção estadual, mas autorizou Moura a disputar a reeleição, contra os desejos do PT. No dia seguinte, 12 de julho, Moura solicitou o registro de sua candidatura no Tribunal Regional Eleitoral, e a documentação para isso foi entregue, segundo o TRE. Ainda assim, seu nome não constava na lista de candidatos do PT à eleição deste ano até o fechamento desta edição. Justo ele, que, em 2010, declarou apoio a Dilma em vídeo e, em 2012, participou ativamente da campanha de Haddad. Moura também colaborou na gestão da petista Marta Suplicy na prefeitura paulistana (2001-2004) na área dos transportes, que sofria entraves nas negociações com perueiros clandestinos.

Moura tem antecedentes criminais. Ele foi preso por assalto à mão armada no Paraná, em 1991. Sua pena alcançaria 12 anos de prisão. Chegou a fugir da prisão depois de um ano e meio de pena e ficou foragido por quase uma década. Depois, voltou à Justiça, sob a alegação de que a pena prescrevera, e solicitou reabilitação penal. Do início dos anos 2000 a 2010, tornou-se liderança entre os perueiros da Zona Leste paulistana – e enriqueceu. Comprou linhas de ônibus, imóveis e postos de gasolina. Em 2010, recebeu quase 105 mil votos em São Paulo e se elegeu deputado estadual.

À Justiça Eleitoral, Moura declarou naquela eleição ser dono de um patrimônio de R$ 5,1 milhões. No último dia 18, o Diretório Estadual do PT notificou Moura para que ele apresente sua defesa sobre as suspeitas de ter participado de reunião com integrantes de facção criminosa. As explicações devem ser apresentadas nos próximos dias.

Por meio de nota, o PT de São Paulo “reafirmou seu objetivo de atender à demanda da sociedade, que exige que os partidos políticos promovam um filtro de filiados e candidatos”. Moura sempre negou as acusações. Procurado por ÉPOCA, ele não quis se pronunciar.