quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Dólar fecha em alta de 0,41%, cotado a R$ 2,43, e renova máxima em cinco meses

Dólar fecha em alta de 0,41%, cotado a R$ 2,43, e renova máxima em cinco meses

  • Mercado trabalhou na expectativa de um novo corte de US$ 10 bilhões os estímulos à economia dos EUA, que acabou se confirmando
  • Ibovespa acompanhou mercado externos e fechou pregão com baixa de 0,59% abaixo dos 48 mil pontos
 
JOÃO SORIMA NETO - O Globo
COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
 
Com os investidores na expectativa de um novo corte nos estímulos à economia americana feito pelo banco central americano (Federal Reserve), que acabou se confirmando após o fechamento do mercado, o dólar comercial fechou em alta frente ao real e renovou a máxima em cinco meses. A moeda americana subiu 0,41%, sendo negociada a R$ 2,435 na compra e R$ 2,437 na venda, maior cotação desde o dia 21 de agosto do ano passado, quando a divisa fechou a R$ 2,451, e um dia antes de o Banco Central brasileiro anunciar seu programa de ‘ração diária’ de dólares ao mercado. Na máxima, o dólar foi negociado a R$ 2,452 (alta de 1,03%) e, na mínima, a divisa atingiu o patamar de R$ 2,428 (valorização de 0,04%).
 
O mercado também repercutiu a ação do banco central da Turquia, que elevou a taxa de juro de 7,75% para 12% ao ano numa tentativa de evitar fuga de investidores e estancar a desvalorização de sua moeda, a lira turca. A Índia também subiu em 0,25 ponto percentual a taxa de juro - para 8% - com o mesmo objetivo. Nesta quarta, foi a vez do banco central da África do Sul elevar a taxa de juros pela primeira vez em quase seis anos. A taxa subiu em 0,5 ponto percentual para 5,5% ao ano. Mesmo com essas medidas, as moedas de países emergentes voltam a se desvalorizar hoje, com o rand sul-africano perdendo 2% frente ao dólar, e o peso mexicano caindo 1,2%. As Bolsas também recuaram na Europa e caíam nos EUA. Somente nos pregões asiáticos, a alta de juros na Turquia teve efeito positivo.
 
Ontem a lira subiu mais de 4% após o anúncio do BC turco. Hoje, chegou a cair 3%, o que dá uma variação de 7% em menos de 24 horas. É um sinal do nervosismo do mercado. Esse stress vai fazer parte do processo de tapering nos EUA (redução de estímulos) e mostrou que apenas elevar o juro nos emergentes pode não ser suficiente para estancar a desvalorização das moedas. Assim como a Turquia, o Brasil precisa de mais medidas, como um ajuste fiscal - diz Gil Faiwichow, vice-presidente de tesouraria do banco BI&P.
 
Para o estrategista-chefe no Brasil do banco japonês Mizuho, Luciano Rostagno, embora a ação dos bancos centrais de emergentes seja positiva, a tendência é que o dólar continue se valorizando em relação às moedas desses países, já que com os cortes dos estímulos promovidos pelo Fed, diminui o volume de recursos disponíveis para investimento em outros mercados. Esse dinheiro já começou a migrar para os EUA, onde o juro dos títulos de dez anos (Treasurie) está subindo. Além da redução dos estímulos promovida pelo Fed, o baixo crescimento de suas economias, a inflação em alta e problemas fiscais tiraram a confiança dos investidores internacionais nos emergentes.
 
Rostagno diz que a alta dos juros em países como Turquia e Índia aumenta a pressão sobre outros bancos centrais de países emergentes para que também elevem suas taxas.
- Ao pagar juro mais alto, o BC turco tenta evitar que o capital estrangeiro migre para outros países. Isso coloca pressão sobre o BC brasileiro para elevar ainda mais o juro, evitando o mesmo movimento de fuga de investidores por aqui - diz Rostagno.
 
O banco Mizuho prevê que o BC brasileiro promova mais duas elevações de juro, dentro do atual ciclo de alta que começou em abril do ano passado, e a Selic chegue a 11% este ano.
O BC divulgou nesta quarta que a entrada de dólares no Brasil voltou a superar as saídas em US$ 1 bilhão em janeiro.
 
Próximos dois anos serão difíceis para o Brasil
 
Para o economista Sergio Vale, da MB Associados, a alta de juros nos emergentes era inevitável. Enquanto os países desenvolvidos fizeram a lição de casa e ajustaram suas economias, ou estão a caminho de ajustar como o Japão, ou pelo menos fora de risco nesse momento, como a Europa, os emergentes foram no sentido contrário. Com exceção da China, que está tomando um rumo mais pró setor privado, os demais emergentes estão em franca desaceleração econômica.
 
- A Índia continua em crise macroeconômica e política, a Rússia segue sendo uma quase ditadura. Ao mesmo tempo, surgem alguns emergentes em situação melhor, especialmente o México. Assim, é mais do que natural que esses países tenham que fazer ajustes em suas economias depois dos excessos dos últimos anos. E isso vale para o Brasil também. O gatilho disso tudo foi a melhora da economia americana e vai continuar sendo ainda porque o processo de alta de juros nos EUA nem começou. Serão dois anos muito difíceis para o Brasil - avalia o economista.
 
Diante desse quadro, as moedas de países emergentes vêm sofrendo uma forte desvalorização desde que o Fed sinalizou a retirada dos estímulos, em maio do ano passado.
 
No Brasil, o BC deu sequência hoje ao seu leilão diário de contratos de swap cambial tradicional, oferecendo hedge (proteção contras as oscilações do câmbio) no mercado futuro. Foram ofertados 4 mil novos contratos o equivalente a US$ 197,4 milhões. Mas o dólar manteve sua trajetória de valorização.
 
Juros futuros acompanham dólar e sobem
 
No mercado de juros futuros, as taxas estão em alta acompanhando o dólar. O mercado avalia que o BC brasileiro poderá fazer um aperto monetário mais forte depois que outros emergentes elevaram os juros. O DI para janeiro de 2015 tem taxa de 11,44%, ante 11,24% na véspera. O DI para janeiro de 2017 tem taxa de 12,95% ante 12,92% de ontem.
Bovespa fecha em queda
 
Na Bolsa de Valores de São Paulo, o principal índice (Ibovespa) fechou em queda de 0,59% aos 47.556 pontos e volume negociado de R$ 6,3 bilhões, também com os investidores cautelosos à espera da decisão do Fed. O Ibovespa acompanhou os pregões externos. A queda foi limitada pelasvalorização das ações de empresas exportadoras, que são beneficiadas pela alta do dólar.
 
As ações preferenciais da Vale classe A subiram 3,74% a R$ 29,96, a quinta maior alta do Ibovespa, enquanto os papéis ordinários se valorizaram 4,54% a R$ 33,19, o segundo maior ganho do índice. Outros papéis de exportadoras, como a Fibria e Cia. Suzano de Papel e Celulose também ficaram entre as maiores altas do Ibovespa.
 
As ações de bancos se desvalorizaram fortemente após o banco J.P. Morgan divulgar relatório sinalizando expectativa de rebaixamento do rating das principais instituições. As ações preferenciais do Bradesco perderam 2,30% a R$ 25,89. Já os papéis preferenciais do Itaú Unibanco perderam 1,89% a R$ 29,49. Hoje o Itaú Chile anunciou a fusão com o banco chileno CorpBanca.
 
Um operador de Bolsa avaliou que com o aumento de juro na Turquia, o BC brasileiro também será pressionado a elevar mais os juros, o que tem impacto sobre o crescimento econômico e também sobre a Bolsa, já que os títulos públicos federais ficam mais atraentes em termos de retorno.
 
Bolsas subiram na Ásia
 
Na Ásia, as Bolsas subiram refletindo positivamente a alta de juro na Turquia e na Índia. As Bolsas europeias começaram o dia em alta, refletindo a a decisão do BC turco, mas inverteram a tendência e passaram a cair com os investidores cautelosos na expectativa a da decisão do Federal Reserve.
 
Segundo Michael Hewson, analista-chefe de mercado da CMC Markets no Reino Unido, apesar da abertura das Bolsas em alta na Europa, os índices fecharam em queda depois que os investidores pesaram o aumento da taxa básica de juros anunciada pelo banco central da Turquia.
 
"Enquanto medidas extraordinárias como essas podem resolver os problemas de fluxo de capital de curto prazo, a história nos ensinou que elas não fazem nada para melhorar as perspectivas de crescimento da economia dos países afetados no curto e no médio prazo", avalia Hewson.