É de tirar o fôlego uma trama que mostra a imprensa tratando como mocinho da história Lula e seu "regime 3 em 1"
E sse remake de Vale Tudo está emocionante. Lula exige respeito de Trump porque sempre respeitou as pessoas. Uau! Gilberto Braga não seria tão ousado. Essa é a função da ficção: deformar a realidade para levar o público a uma nova percepção dela.
É de tirar o fôlego uma trama que mostra a imprensa tratando como mocinho da história Lula e seu “regime 3 em 1” (três poderes em um só). Os novelistas modernos inventam cada coisa que até o capiroto duvida. O mais emocionante é ver os jornalistas inteligentinhos, aqueles que sempre criticaram o PT, concluindo que nesse embate o marginal é o Trump! Viva o soberanismo providencialista, diria Odorico Paraguaçu.
É sempre uma atração imperdível o protagonista com aquela voz de ogro mal-dormido simulando indignação. Ele já brilhou em papéis como pivô do maior escândalo de corrupção da história e comandante da derrocada econômica nacional. É que nem Tony Ramos e Antônio Fagundes: depois de encarnar a maldade mais abjeta, pode reaparecer como herói que todo mundo acredita. Viva o mundo da imaginação.
O vilão da história é terrível. Ele combate a imigração ilegal e a proteção a criminosos como tática eleitoreira. O que esse desalmado quer? Acabar com o charme da bandidagem? Como ficaria o mundo sem Butch Cassidy e O Poderoso Chefão? Será que ele não se sensibiliza com as causas cosméticas de Hollywood, que tantos dividendos trazem para os carreiristas e os aproveitadores? O que seria da humanidade sem os carreiristas e os aproveitadores? No mínimo, um tédio.
A imprensa inteligentinha e perfumada recita de olhos fechados: “Trump é mau!” E está coberta de razão. O sujeito não respeita nenhum país dominado pelo crime — o que é obviamente uma postura preconceituosa e uma flagrante intolerância à diversidade. Trata-se de um criminofóbico. Para se ter uma ideia, ele está sempre implicando com os delírios atômicos do Irã e os financiadores do terrorismo do bem. Não tem a menor empatia pelo Hamas, tão querido em universidades e festinhas burguesas ocidentais. Enfim, um homem sem coração.
Foi uma ideia genial dos roteiristas colocar o reino petista como resistência à invasão externa — pouco depois de pedir ao ditador da China que mandasse alguém da sua confiança para regular a internet no país. Como sempre acontece nas tramas heroicas, para tudo dar certo e a história ficar verossímil é preciso algum nível de licença poética — garantida, no caso, pela imprensa e sua indefectível vista grossa para a podridão do reino.
Parabéns aos envolvidos. Vale tudo contra o tarifaço. É Sucupira contra o mundo.
Guilherme Fiuza - Revista Oeste