sexta-feira, 19 de maio de 2023

'Trump e o conluio com os russos', por Rodrigo Constantino

 

Hillary Clinton, Donald Trump e Barack Obama | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock


O que o relatório de Durham, com cerca de 300 páginas, mostra de forma inequívoca é que o FBI sabia muito bem que pisavam em terreno pantanoso e, mesmo assim, decidiram seguir adiante


Esqueçam Watergate! O escândalo que forçou a renúncia de Nixon foi fichinha perto do que temos diante de nós hoje. Com o relatório de John Durham sobre as origens da investigação do FBI sobre o suposto conluio de Trump com os russos, o que vem à tona é possivelmente algo sem precedentes na história dos Estados Unidos.

O ex-procurador-geral dos Estados Unidos William Barr disse, durante uma entrevista nesta semana, que o relatório do conselheiro especial Durham a respeito das origens da investigação do FBI sobre o ex-presidente Donald Trump “vingou” o ex-presidente e que Trump estava certo desde o início em relação ao que a esquerda estava tentando fazer com ele.

O relatório de Durham descobriu que o FBI não tinha evidências para apoiar o lançamento da investigação e encontrou diferenças “sensatas” no modo como o FBI abordou a investigação de Trump em comparação com outras investigações politicamente sensíveis. “Não vamos esquecer qual era a mentira. A mentira era o Russiagate”, disse Barr. “A mentira era que havia conluio. Não havia nada para apoiá-lo.” 


William Barr | Foto: Wikimedia Commons

WSJ escreveu um editorial sobre por que o relatório de Durham importa para a democracia norte-americana. Logo no subtítulo o jornal deixa claro o motivo: é um relato condenatório da corrupção do FBI e de seus cúmplices. Eis o primeiro parágrafo: “Dois conselheiros especiais, vários relatórios de inspetores-gerais e seis anos depois, o país finalmente tem um relato mais completo da investigação de conluio russo do FBI sobre a campanha de Donald Trump em 2016. O relatório final do conselheiro especial John Durham deixa claro que um FBI partidário se tornou um funil para desinformação da campanha de Hillary Clinton por meio de uma investigação secreta que a agência nunca deveria ter lançado”.

Foto: Reprodução Wall Street Journal

Recapitulando os fatos, aqui resumidos, o FBI lançou uma enorme investigação contra Trump com base em pura fumaça. O que o relatório de Durham, com cerca de 300 páginas, mostra de forma inequívoca é que as lideranças da agência federal que detém o monopólio da força sabiam muito bem que pisavam em terreno pantanoso e, mesmo assim, decidiram seguir adiante. 

Os principais responsáveis pela operação deixavam claro, em mensagens privadas, que detestavam Trump e o consideravam uma ameaça à democracia norte-americana. Com base nessa premissa falsa, aceitaram a máxima soviética de que os “nobres fins” justificavam quaisquer meios. O FBI foi, então, transformado num instrumento partidário democrata para tentar prejudicar Trump na campanha e, depois de eleito, derrubá-lo. 


John H. Durham | Foto: Wikimedia Commons

A cronologia também é chocante. O que o relatório revela é que o próprio presidente Obama foi “brifado” sobre o tema e nada fez para impedir a ação partidária do FBI

O que deu início a essa investigação gigantesca, que custou dezenas de milhões de dólares dos pagadores de impostos e mobilizou inúmeros agentes responsáveis por várias intimações e quebras de sigilo, foram boatos plantados pelo próprio Diretório Nacional Democrata, retirados de uma fonte russa sem nenhuma credibilidade. Os agentes federais sabiam disso e, mesmo assim, escolheram ignorar seus critérios objetivos e lançar a investigação.

A cronologia também é chocante. O que o relatório revela é que o próprio presidente Obama foi “brifado” sobre o tema e nada fez para impedir a ação partidária do FBI. Sua advogada-geral, Loretta Lynch, encontrou-se com Bill Clinton dentro de um avião parado no Aeroporto de Phoenix, numa reunião fora da agenda oficial. Clinton certamente revelou os detalhes para ela, que os repassou para o chefe. O presidente Obama, porém, odeia Trump, e tudo indica que participou do verdadeiro conluio existente: aquele que reunia a Casa Branca, o FBI e o Diretório Nacional Democrata comandado por Hillary Clinton para impedir uma vitória de Trump.

O presidente Barack Obama e a procuradora-geral Loretta Lynch no Salão Oval, em 27/4/2015 | Foto: Casa Branca/Pete Souza

Como ironizou o filho de Trump, no tal conluio entre Trump e a Rússia, os únicos que não participaram, pelo visto, foram Trump e a Rússia. Obama já tinha sido denunciado por permitir que o IRS — a Receita Federal — fosse utilizado de forma partidária para perseguir conservadores. Esse relatório de Durham coloca tudo em outra dimensão: o presidente, mesmo sabendo que tudo era fumaça criada pelos Clinton, permitiu a transformação do FBI num porrete democrata contra seu adversário na campanha. Coisa de republiqueta das bananas, sem dúvida.

Sei que esta semana merecia uma coluna sobre o mandato de Deltan Dallagnol cassado pelo TSE por unanimidade, numa votação que durou um minuto e sem debates. Mas muita gente boa está comentando esse assunto, e achei melhor relatar algo aqui dos Estados Unidos que dominou a pauta da imprensa e das redes sociais no país. Afinal, se até os Estados Unidos estão sob esse abuso de poder, com o Deep State, em conluio com a imprensa, fazendo de tudo para se livrar de um político incômodo tido como ameaça, então podemos esperar tudo de um país como o Brasil mesmo, que nunca foi lá muito sério.

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Revista Oeste