Fernando Haddad virou garoto-propaganda de fubá em feira do MST | Foto: Reprodução/redes sociais
Mais ideológico e raivoso, Lula rompe pontes com o maior setor da economia brasileira e usa o governo para fortalecer a militância do MST
Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu abrir uma guerra contra o principal segmento da economia brasileira: o agronegócio. Movido por uma mistura de ódio e ideologia ultrapassada, Lula afirma que o setor representa o fascismo, ainda que não exista nenhuma referência histórica entre as lavouras de soja, milho ou a pecuária e o movimento político que surgiu na Itália há exatamente um século e terminou na Segunda Guerra Mundial.
A aversão da esquerda ao empreendedorismo da agropecuária não é novidade nesta volta do PT ao poder. Historicamente, a esquerda nunca aceitou o sucesso da iniciativa privada no campo, porque é uma área que não pode controlar. O avanço do agro independe da mão do Estado, cujo papel se resume a fornecer condições de escoamento da produção — malha viária, férrea e infraestrutura portuária. O agro não precisa de decretos presidenciais nem sobrevive de incentivos fiscais, como a indústria, por exemplo.
Não há como brigar com a matemática: o grande salto no campo ocorreu justamente nos últimos 20 anos, o que inclui os governos do PT e a chamada explosão das commodities do início do milênio. Nesse período, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor subiu de US$ 120 bilhões para US$ 500 bilhões (27% do país), o equivalente a uma Argentina. Um detalhe é fundamental nessa equação: a atividade rural tornou-se um motor da economia que não emperra — apesar dos políticos, dos impactos da pandemia ou do conflito na Ucrânia.
Aqui entra outro dado incontestável: no momento mais agudo da pandemia, a balança comercial brasileira se manteve positiva por causa do desempenho do agro. Naquele ano, com fábricas e o comércio com portas fechadas pela paranoia dos lockdowns, o homem do campo seguiu trabalhando. O resultado foi um superávit de US$ 105 bilhões do setor, o que salvou o déficit de US$ 44 bilhões da indústria e dos serviços paralisados.
O agro ainda gera empregos como nenhuma outra seara — hoje, representa cerca de 20% do país e há demanda por mão de obra em Estados do Centro-Oeste. Em Mato Grosso, a safra de 44 milhões de toneladas de soja classificaria o Estado, se fosse um país, como o terceiro maior produtor do planeta — segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil é o primeiro do ranking, com 151 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos.
Além dos números da soja, o Brasil é o maior produtor mundial de suco de laranja e se consolidou como um dos pilares no fornecimento de café, milho, algodão, açúcar e proteína animal. Boa parte desses produtos, como a laranja, é produzida em São Paulo — 80% no cinturão cítrico, que se espraia para Minas Gerais, conforme o IBGE —, outro Estado cujo eleitorado tradicionalmente ergue uma muralha contra o PT nas eleições.
Na virada do mês, São Paulo foi sede da Agrishow, o maior evento do ramo na América, em Ribeirão Preto (SP). Quando soube que Bolsonaro visitaria o local, o PT lançou a fake news de que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, havia sido desconvidado. Integrantes do governo que costumam reagir com o fígado, como Márcio França (Portos e Aeroportos) e Paulo Pimenta (Secom), pediram que o Banco do Brasil retirasse o patrocínio do pavilhão — numa clara confusão do papel do Estado com discussão típica de diretório partidário.
O resultado foi que a feira movimentou R$ 13 bilhões em expectativas de negócios, de acordo com os organizadores. Bolsonaro foi ovacionado no interior paulista, sua primeira viagem desde o retorno ao Brasil. Lula não só não enviou nenhum representante do governo, como arrumou uma agenda na Bahia para discursar contra o agro.
“Tem a famosa feira da agricultura em Ribeirão Preto, que alguns fascistas, alguns negacionistas, desconvidaram meu ministro”, disse Lula. “Chego à Bahia e encontro os companheiros do agronegócio me entregando um convite para a segunda feira mais importante do país. Venho nesta feira só para fazer inveja aos maus-caracteres de São Paulo”
A conclusão já parece óbvia: embora os dados econômicos do setor sejam avassaladores, eles ficam em segundo plano, porque Lula sobrevive da guerra política. Mas resta ainda o MST.
A farsa do MST
Nas últimas duas décadas, os produtores rurais — grandes ou pequenos — se acostumaram a ouvir a gritaria do PT: são os vilões do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, os latifúndios impedem a reforma agrária, privilegiam o lucro e as exportações e não combatem a fome no país. Por que a narrativa forjada em números fictícios da fome — mais de 30 milhões de pessoas, segundo Lula, ou 120 milhões, de acordo com a ministra Marina Silva — não é checada é um mistério. Agora, se tudo isso já parecia combustível suficiente para o eleitorado de esquerda, surgiu um dado aniquilador: o agro é “bolsonarista” — portanto é vil e não presta.
Em Mato Grosso, por exemplo, coração do agronegócio, Jair Bolsonaro teve o dobro dos votos de Lula no segundo turno. Em alguns municípios, o ex-presidente obteve quase 80% dos votos. O desempenho também se repetiu em cidades produtoras no Sul e no interior de São Paulo.
A narrativa do “agro é bolsonarista” virou a nova bandeira do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Sem o Partido dos Trabalhadores, o MST não existe — e um precisa do outro. Em menos de cinco meses de governo, o número de invasões de terras passou de 50, ante 24 em todo o mandato de Bolsonaro. As invasões tampouco têm a ver com a posse de terras: Bolsonaro entregou 362 mil títulos de propriedades, ante 100 mil de Lula e 166 mil de Dilma Rousseff.
João Stédile na comitiva de Lula na China | Foto: Palácio do PlanaltoDesta vez, o MST parece estar ainda mais perto do poder: o líder do movimento, João Pedro Stédile, viajou com a comitiva do presidente para a China, bancada pelos pagadores de impostos. Em solo asiático, lançou uma ameaça, cumprida pelos seus seguidores, que invadiram dezenas de propriedades numa onda de crimes batizada de “Abril Vermelho”.
O MST também chegou aos gabinetes. Desde janeiro, foram trocados 19 superintendentes estaduais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A maioria dos nomes foi escolhida pelo movimento. Duas brigas, inclusive, chegaram a Brasília: em Alagoas e no Amapá. No primeiro caso, o dirigente é César Lira, primo do presidente da Câmara, Arthur Lira. A sede em Maceió foi invadida. No segundo, Flávio Muniz é cota do senador Davi Alcolumbre. Ambos se recusaram a entregar o cargo para o MST, e a confusão continua.
“Com a vitória de Lula, criou-se uma expectativa para um novo movimento do Incra em Alagoas. É notória a postura do superintendente atual, que está lá desde o golpe. Ele defende um projeto de reforma agrária bolsonarista”, afirmou Margarida da Silva, dirigente nacional do MST, em reunião com o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário — pasta criada para atender o MST).
A militância política também invadiu a Embrapa, empresa de pesquisa no campo. O MST tomou terras agricultáveis, em Petrolina (PE), no mês passado — a Justiça já ordenou o despejo. Paralelamente, há uma intensa queda de braço no conselho de administração. Os atuais dirigentes resistem em aceitar as novas indicações por problemas de currículo e temor de uso político da empresa pela esquerda. Dos quatro nomes apresentados para a diretoria, um foi aprovado na semana passada. A pesquisadora Ana Margarida Castro Euler é vinculada ao La Recherche Agronomique pour le Développement, instituto ligado ao governo da França, e teve um cargo de direção no WWF-Brasil. As duas instituições combatem o agronegócio brasileiro.
“A produção de arroz do MST não atende sequer à demanda da populosa zona leste de São Paulo, com mais de 5 milhões de habitantes”
A politização extrema do que até poderia ser um movimento de agricultura familiar chegou ao ápice no último fim de semana. O MST organizou uma feira num parque público da capital paulista com a presença de seis ministros de Lula, entre eles Fernando Haddad (Fazenda) e o vice-presidente, Geraldo Alckmin. No centro do parque foi realizado um teatro absurdo. Os militantes montaram uma cela para encenar a “prisão de bolsonaristas golpistas” na Papuda por causa dos protestos do dia 8 de janeiro.
“A instabilidade que Lula criou com o agro não vai cessar. Rompeu as pontes com o agronegócio porque governa como um sindicalista dos anos 1980”, afirma o deputado Evair de Melo (PL-ES), um dos líderes da bancada ruralista no Congresso
A imagem do ministro da Fazenda, com ar de galã de novela mexicana, fazendo propaganda de fubá de milho é outro retrato da demagogia. A produção de fubá e todos os demais produtos é ínfima para atender um país com dimensões continentais como o Brasil. O melhor exemplo é o arroz orgânico, livre de agrotóxicos. O MST espera colher 15 mil toneladas de safra neste ano. Considerando que o Brasil é o maior consumidor de arroz fora da Ásia — em média, 130 gramas por dia —, a produção do MST não atende sequer à demanda da populosa zona leste de São Paulo, com mais de 5 milhões de habitantes. O Brasil produziu 10 milhões de toneladas de arroz, apesar do impacto do clima no ano passado no Rio Grande do Sul.
Se é fato que o MST é muito mais uma massa de manobra política do PT do que uma frente de agricultura familiar sem CNPJ, quem financia o movimento? O lucro com a venda de centenas de bonés para jovens frequentadores dos bares da Vila Madalena (SP), do Leblon (RJ) ou de festas universitárias? A primeira resposta foi descoberta pela revista Veja na quarta-feira 17. A feira em São Paulo custou R$ 1,7 milhão. O dinheiro saiu do caixa do Incra — portanto, do pagador de impostos. A nota fiscal é a primeira prova de que Lula usou o governo para financiar o MST, além de levar João Pedro Stédile a passear na China. Outras tantas respostas guardadas a sete chaves há muito tempo podem vir à tona até o fim do ano: teve início a CPI do MST.
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Revista Oeste