Em relato publicado neste sábado no tabloide britânico "Daily Mail", Connolly repassa uma série de situações acompanhadas de perto ao lado do ícone musical. O repórter esteve pela primeira vez com John Lennon em 1967, para escrever uma reportagem sobre os bastidores do filme "Magical mystery tour". A partir dali, o trabalho pontual se desdobrou em outros momentos importantes diante do músico, com quem passou a cultivar intensa proximidade. Agora, a imagem idealizada do homem que se firmou como ativista da paz adquire novos contornos e passa a ser relativizada.
"Um dia, estava hospedado com Yoko e John no Hotel St. Regis (em Nova York). Quando conversava com John, que usava um paletó, Yoko apareceu vestida num short de estampa floral e numa blusa com os primeiros três botões abertos", relembrou o jornalista: "John explodiu. Com o temperamento fora de qualquer proporção, ele gritou que ela parecia uma vadia safada. Sem pronunciar uma palavra, ou mesmo sem alterar qualquer expressão no rosto, Yoko voltou ao quarto e depois retornou vestida numa longa saia".
A cena, rememorada com minúcias, traça um perfil serenamente conformista para a personalidade tranquila de Yoko. Numa das festas em que Connolly esteve ao lado do casal, também em Nova York, Lennon se trancou com uma mulher num dos quartos da residência depois de beber além da conta. "Infelizmente, os casacos de todos os convidados estavam guardados sobre a cama daquele quarto. As pessoas, portanto, não conseguiam ir embora, e todo mundo ali, inclusive a própria Yoko, percebeu o que estava acontecendo", narrou o jornalista, acrescentando: "Se ela estava com raiva? Impossível saber. Quando sondei uma opinião sobre as infidelidades cometidas por John, tudo o que ela me disse foi: 'Pode ser bem difícil viver com John às vezes'".
Amante de John Lennon trabalhava no apartamento onde o músico morava
Alguns anos mais tarde, o improvável ganharia corpo entre os dois. Com dificuldade de gerenciar o casamento, Yoko sugeriu que Lennon procurasse outra mulher para se relacionar, como conta o escritor. Isso não significaria um divórcio, porém. À época, ambos moravam no prestigado edifício Dakota, em Nova York, mas passavam os dias separados, sem trocar tantas palavras. Segundo a descrição de Connolly, o músico gastava horas dormindo ou assistindo à TV com o som desligado. A artista plástica, por sua vez, demonstrava uma progressiva perda de interesse pelos projetos profissionais que desenvolvia.
A solução para a crise se materializou em May Pang, "uma bela jovem que trabalhava para o casal em seu apartamento". Com apenas 22 anos, ela costumava vestir jeans e camisetas, além de usar grandes óculos redondos. "Estava sempre ocupada, alegre, eficiente e disposta", recordou o jornalista. Animado com a ideia, John autorizou a mulher a apresentar a proposta para a empregada. A conversa entre as duas, segundo as palavras do autor, poderia fazer parte de uma cena de filme.
"'Escute May', disse Yoko, 'John e eu não estamos nos dando bem. Ele provavelmente começará a sair com outras pessoas. Quem sabe com quem? Eu só sei que ele gosta muito de você. Então...'", recompôs o repórter.
Depois de muita persitência, May acabou levando Lennon para a sua casa, com quem logo assumiu um romance às escondidas. Do público. Com afeição, Yoko tinha pleno conhecimento do caso. Ela, aliás, ficou tão feliz com a notícia que, quando precisou viajar para Chicago por alguns adias — para participar de uma convenção sobre feminismo —, sugeriu que May se mudasse para o seu apartamento enquanto estivesse fora. Como ressalta Connolly, para a artista, tudo fazia enorme sentido. "No Japão, o país onde nasceu, algumas mulheres de classe alta recebiam amantes em casa. Yoko podia ser feminista, mas seguia também uma longa tradição", explicou.
A reaproximação gradual entre Yoko e Lennon se deu quando a primeira apresentou ao companheiro uma técnica de hipnose para abandonar o vício em cigarro.
A situação se estendeu por 18 meses, e fez John se sentir novamente um adolescente.
Ainda assim, o astro do rock mantinha paralelamente casos esporádicos com outras mulheres, o que deixava May abalada. "De acordo com May, Yoko sugeriu o divórcio, e John teria aceitado. Mas naquele momento ela estava muito ligada à astrologia, e decidiu que as estrelas não estavam certas nesse assunto", afirma.
A partir de então, ambos voltariam a se apresentar como uma dupla intensamente apaixonada, segundo Connolly. Ainda assim, Lennon manteria visitas esparsas à residência de May.
Mas por que, afinal, John voltou tão rapidamente para Yoko? "A razão é que ela o fazia se achar inteligente. John também sentia que precisava de alguém com uma postura de ferro, mais linha dura, ao seu lado. Yoko poderia ser difícil, mas, desde que ele não questionasse seu imenso ego e desejo por fama, ela era capaz de cuidar de tudo", responde o autor.