domingo, 23 de setembro de 2018

Radiocirurgia é eficaz contra câncer de pulmão, diz estudo brasileiro

A radioterapia estereotáxica corporal, popularmente conhecida como radiocirurgia, é uma opção eficaz para o tratamento de câncer de pulmão em fase inicial. A conclusão é de um estudo brasileiro, publicado recentemente no periódico científico Journal of Global Oncology. A terapia é indicada para pacientes que não podem se submeter ao tratamento mais eficaz nesses casos, que é a cirurgia, por ter outras complicações de saúde.
“A radiocirurgia veio adicionar uma expectativa de cura para pacientes que ficavam sem alternativa e não é uma proporção pequena. De 10% a 15% dos pacientes não podem receber a cirurgia por causa da fragilidade”, diz Ricardo Terra, cirurgião torácico.

Procedimento não invasivo

Segundo pesquisadores do Hospital Sírio-Libanês, onde o estudo foi desenvolvido, o procedimento, não invasivo, é capaz de destruir o tumor em 89% dos casos. Após dois anos de acompanhamento, 80% dos pacientes estavam vivos. “A radiocirurgia traz oportunidade de cura que se aproxima do resultado de uma cirurgia.”, diz Carlos Vita Abreu, radio-oncologista do Hospital Sírio-Libanês.
A pesquisa, que teve início em 2007 e durou até 2015, avaliou os resultados em 54 pacientes do hospital classificados como frágeis, geralmente idosos que já tiveram problemas de saúde, como doenças associadas ao cigarro ou cardíacas. A média de idade dos participantes era de 75 anos e todos deveriam estar com o tumor em fase inicial, com menos de 5 centímetros. Nenhum paciente morreu nem teve complicações graves após fazer o procedimento.
“A radiocirurgia é uma modalidade de radioterapia que, graças à precisão e à quantidade de dose de radiação utilizada, apresenta resultados semelhantes à cirurgia. Esta técnica consiste numa modalidade de tratamento não invasiva, sem necessidade de cortes na pele ou anestesia. Em virtude da grande potência deste tratamento, é indispensável a utilização de tecnologia de última geração para a sua realização e normalmente são realizadas de uma a cinco aplicações de radioterapia. Os pacientes submetidos a este tratamento não necessitam de internação”, explica Rafael Gadia, diretor de radioterapia na unidade de Brasília do hospital.

Esperança

A advogada aposentada Gasparina Fernandes, de 72 anos, e o engenheiro elétrico Jorge Marques, de 76 anos, são dois pacientes beneficiados pela técnica. Gasparina descobriu um nódulo no pulmão ao buscar tratamento para um resfriado. Era um câncer em fase inicial, mas ela não tinha o perfil para a cirurgia, por ter outras complicações de saúde. Porém, estava no grupo de pessoas que podem ser submetidas à radiocirurgia.
Jorge Marques fez o procedimento em janeiro, após descobrir um tumor no pulmão esquerdo. “A cirurgia ia ser agressiva, e três sessões liquidaram o câncer”, conta. O engenheiro mantém uma vida ativa e não deixou de fazer o que gosta depois do diagnóstico e do tratamento. “Continuo fazendo esteira para manter a capacidade respiratória e não paro de estudar. Quero fazer uma pós-graduação em psicologia. Tenho muitos amigos e canto em um coral.”

Mais uma arma na luta contra o câncer de pulmão

O câncer de pulmão atinge principalmente fumantes e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é o tipo mais comum entre os tumores malignos — e altamente letal. Para este ano, a estimativa de novos casos, de acordo com o instituto, é de 31.270. Segundo Abreu, a radiocirurgia cobre uma lacuna entre os pacientes frágeis com câncer de pulmão que, até os anos 1990, não tinham alternativas eficazes de tratamento. Uma parcela não recebia tratamento e os demais recebiam radioterapia convencional. “A chance de curar era na ordem de 30%. São pacientes que ainda produzem, que estão cuidando dos netos e são figuras importantes dentro do núcleo familiar. Com a técnica, a gente preserva essa pessoa.”, explica.
Na rede pública, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) tem o serviço de radiocirurgia desde 2011. Até agora, 264 pacientes já receberam o tratamento, dos quais 116 tinham câncer de pulmão. Os demais eram pacientes com câncer de fígado, nos ossos, sarcoma e no pâncreas. O Icesp afirma ter sido pioneiro nas técnicas de radiocirurgia intracraniana e radiocirurgia corpórea no Sistema Único de Saúde (SUS).

Com Estadão Conteúdo