segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Paulo Rabello de Castro: "A informação que conta"

O Globo

Nem o governo nem o público em geral podem viver no escuro, sem saber ao certo o que acontece, tanto na economia quanto no território nacional


O presidente da República foi direto ao ponto, me pedindo que explicasse melhor a razão do número preocupante do comportamento da economia — uma nova queda de 0,8% no terceiro trimestre (jullho-setembro de 2016) em relação ao trimestre anterior. O IBGE havia divulgado naquela manhã o resultado da nova estimativa do PIB, a medida síntese da atividade econômica nacional. O número não era bom, e o presidente precisava se acercar logo da questão, entendendo bem os porquês da lenta reação da economia e se preparando para debater o tema com seus ministros da área econômica. Em tom bem humorado, para ajudar a quebrar o ar pesado, respondi-lhe que nada de errado havia com os números divulgados. A dificuldade não estava no número em si, mas naquilo que ele significava: um estado recessivo da economia mais prolongado do que inicialmente se imaginara. O presidente pediu-me, então, que o mantivesse informado, com notas frequentes, dos próximos números e estimativas do IBGE, tanto do PIB quanto sobre a inflação e os comportamentos setoriais da agricultura, da indústria, construção civil, sobre comércio e serviços em geral. Mas sua principal atenção, reforçava ele, eram os resultados da Pesquisa Nacional de Domicílios, a Pnad, que nos trazem as informações sobre o trabalho e os rendimentos no país, principalmente sobre o desemprego, tanto o aberto quanto o disfarçado, pela subutilização da força de trabalho e pelo desalento dos que já desistiram de buscar um posto de trabalho.

O IBGE coleta uma grande massa de dados mensalmente, ou processa informações de outras fontes oficiais, sempre apenas para fins estatísticos e com absoluta confidencialidade para os informantes. Mas não só em benefício das autoridades de governo. A divulgação de informações do IBGE é sempre universal, para todos, e circula por meio do seu portal, da imprensa e meios televisivos e até pelas redes sociais. Qual o valor social de toda essa massa de informações? Difícil estimar, embora saibamos que o governo nem o público em geral podem viver no escuro, sem saber ao certo o que acontece, tanto na economia quanto no território nacional, num olhar geográfico que percorre desde as fronteiras nacionais e detalhes do relevo físico, quanto nas fronteiras e no interior de estados e municípios. Um retrato completo do país, através das lentes incansáveis do IBGE e das demais fontes que integram o Sistema de Informações Oficiais, surge diariamente ao alcance de qualquer brasileiro, por meio das 2,5 milhões de entrevistas anuais que os coletadores realizam e das tomadas de informações geodésicas e de marés que o IBGE realiza sem que quase ninguém fique sabendo.

Essa é a informação que conta, num mundo complexo e até hostil, que nos demanda planejamento e antecipação contínua de nossos movimentos e decisões, não importando se somos o presidente da República ou apenas um atento cidadão comum que ouve o locutor comentar o dado mais recente sobre a inflação ou desemprego mensal. É nesse momento que formamos nossa opinião íntima ou compartilhada sobre a economia e a situação social como um todo. É nesse momento que temos a oportunidade de sermos mais cidadãos, na prática. É também nessa exata hora que a sociedade tem a chance de examinar e rever seus rumos, as empresas reexaminarem seus planejamentos e cada um de nós posicionarmos nossas percepções políticas. Nesse sentido, podemos dizer que a informação é o mais poderoso alimento da liberdade e da cidadania efetiva.

No intuito de reforçar as bases informacionais para uma verdadeira coordenação do planejamento, quer do país como das pessoas que nele vivem, o IBGE está realizando no Rio de Janeiro, esta semana, a grande conferência de produtores e usuários de informações. O Brasil inteiro pode acompanhar e participar desse debate que vai orientar o IBGE pelos próximos dez anos.

Na conferência é lançada uma Frente Parlamentar de Geografia, Estatística e Meio Agroambiental (Gema), que aproximará os representantes do povo do papel da informação como principal ferramenta para a retomada de um crescimento sustentado e sustentável e na defesa do cidadão contra os privilégios e a escuridão da ignorância.

Paulo Rabello de Castro é presidente do IBGE