ÉRICA FRAGA
MARIANA CARNEIRO
Folha de São Paulo
MARIANA CARNEIRO
Folha de São Paulo
O fim da recessão econômica, antes previsto para a segunda metade deste ano, corre o risco de ser adiado. Dados mais fracos do que o esperado sobre a atividade divulgados nas últimas semanas têm levado economistas a rever suas projeções.
A queda verificada na produção industrial e nas vendas do comércio em agosto faz com que muitos já prevejam que a economia pode repetir, no terceiro trimestre deste ano, o tombo observado nos três meses anteriores. Alguns já preveem que há risco de a saída da recessão ficar apenas para 2017.
Apesar disso, fatores como o recuo mais recente da inflação e o provável início do corte da taxa básica de juros pelo Banco Central, previsto para esta quarta-feira (19), deverão impulsionar a economia a partir do ano que vem, preveem analistas.
Divulgado nesta terça, o número de vendas no varejo mostrou uma queda de 0,6% em agosto ante julho. Quando se adicionam os setores de automóveis e construção civil, o recuo verificado é mais intenso e chega a 2%.
O número surpreendeu negativamente analistas, que previam uma queda menor.
A persistente queda da ocupação de trabalhadores, repetida no trimestre encerrado em agosto, e o encolhimento adicional do crédito comprometeram o desempenho do setor.
Com isso, o Bradesco reviu para baixo, pela segunda vez, o PIB do terceiro trimestre. Os economistas do banco esperam uma queda de 0,8% no período, o que, se confirmado seria uma contração mais acentuada do que a vista no segundo trimestre.
Para o quarto trimestre as projeções do banco também se deslocaram para o terreno levemente negativo, na estimativa do banco (-0,2%).
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, lembra que a crise fiscal dos Estados se soma ao contexto negativo para o consumo, devido a atrasos nos pagamentos de servidores e aposentados. Ele teme que a melhora da confiança, observada desde a mudança da política econômica, pode não se sustentar se a decepção com a atividade persistir.
"Houve uma melhora, mas ainda temos que nadar muito para chegar até a costa", diz.
Ainda que preveja uma estabilização do PIB no quarto trimestre (+0,1%), Ramos afirma ter a sensação de que o cronograma mudou com os dados recentes. "A recuperação atrasou. Há dois, três meses, o otimismo era maior."
Essa também é a opinião do ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, colunista da Folha e sócio da consultoria Schwartsman & Associados.
"Acho que a recuperação está mais longe. Não é impossível que ela comece no quarto trimestre, mas se tornou menos provável", diz. "Pode soar apenas como um ajuste de projeção, mas significa três meses a mais de desemprego para muitas pessoas."
Fernando Montero, economista da corretora Tullett Prebon Brasil, concorda que os números recentes decepcionam. Mas diz ver, como contrapartida, uma história mais forte de recuperação a médio prazo, com medidas de controle dos gastos públicos, queda da inflação e corte de juros.
"A primeira votação do teto de gastos do governo nos surpreendeu positivamente e tem potencial importante para elevar a confiança e mostrar um caminho de solução para o fiscal. Se isso tiver continuidade, o médio prazo será melhor", afirma Mauro Schneider, da consultoria MCM.
O ritmo lento de retomada, diz ele, deve se estender até meados de 2017, quando se espera a volta do emprego.