terça-feira, 18 de outubro de 2016

PT usou R$ 2,7 mi para pagar marqueteiro investigado por lavagem de dinheiro

Leandro Prazeres - UOL


  • Rodolfo Buhrer/Reuters
    Publicitário João Santana é escoltado pela Policia Federal em Curitiba
    Publicitário João Santana é escoltado pela Policia Federal em Curitiba
Mesmo já estando sob investigação por suspeita de lavagem de dinheiro, o marqueteiro João Santana recebeu, em 2015, R$ 2,7 milhões pagos pelo PT com dinheiro do fundo partidário. O pagamento foi feito à empresa de Santana, a Polis Comunicação & Marketing, e consta da prestação de contas que o partido entregou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Questionado sobre os pagamentos, o PT disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
fundo partidário, cujo nome oficial é Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, é um montante repassado todos os anos pelo poder público para os partidos formalmente registrados junto ao TSE. Para receber o dinheiro, que serve para atividades partidárias, as siglas devem estar com suas prestações de conta em dia. Em 2015, o fundo distribuiu R$ 867 milhões aos partidos. 
Em 2015, o PT foi o partido que mais recebeu recursos do fundo partidário. Foram R$ 116,2 milhões. Em segundo lugar, ficou o PSDB, com R$ 95 milhões. Em terceiro, ficou o PMDB, com R$ 92 milhões. 
A Polis é a empresa de marketing eleitoral de João Santana e sua mulher, Mônica Moura. Santana foi o marqueteiro responsável pelas campanhas vitoriosas dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva (em 2006) e Dilma Rousseff (em 2010 e 2014). Há quase 10 anos prestando serviços ao PT, a Polis viu seus contratos com o partido serem alvo de investigações a partir de 2015.
Em maio de 2015, a PF instaurou um inquérito contra Santana para apurar suspeitas de que duas empresas das quais ele é sócio (Polis Caribe e Polis Propaganda & Marketing) teriam trazido de Angola para o Brasil US$ 16 milhões em 2012 por meio de transações financeiras ilegais para beneficiar o PT.
Uma das suspeitas da PF é de que empreiteiras brasileiras teriam feito pagamentos a Santana fora do país como forma de quitar débitos do partido contraídos em campanhas no Brasil, o que representaria uma forma de caixa dois (recursos não declarados). 
À época, Santana negou irregularidades relativas às operações, mas, em julho deste ano, ele e sua mulher admitiram, em acordos para iniciar uma possível delação premiada, que receberam dinheiro de caixa dois referente a pagamentos pela campanha de 2010 da ex-presidente Dilma Rousseff.
O casal, que havia sido preso em fevereiro deste ano pela Operação Lava Jato, foicolocado em liberdade no início de agosto.
Paulo Lisboa - 1º.ago.2016/Folhapress
João Santana (de óculos) e sua mulher Mônica Moura (de óculos escuros) deixam a PF após serem soltos por decisão de Moro

Dois contratos: R$ 2,7 milhões

Os contratos entre a Polis e o PT aos quais a reportagem do UOL teve acesso foram firmados em 13 e 29 de julho, respectivamente, dois meses, portanto, após a abertura do inquérito que apurava as primeiras irregularidades supostamente praticadas por Santana e suas empresas.
O primeiro contrato previa o pagamento para a elaboração de um programa de rádio e outro de TV com duração de 10 minutos (cada) para ser divulgado no dia 6 de agosto de 2015. Para produzir e executar estes programas, o PT se dispôs a pagar R$ 2,1 milhões.

ASSISTA AO PROGRAMA DO PT PRODUZIDO POR JOÃO SANTANA

O segundo, por sua vez, previa a "criação e produção" de programas de rádio e TV para serem veiculados entre agosto e setembro e foi orçado em R$ 810 mil. Juntos, os dois contratos previam o pagamento de R$ 2,8 milhões à empresa. Após a dedução de impostos, foram pagos R$ 2.731.035,00 à Polis.
O advogado do casal, Fábio Tofic informou à reportagem do UOL que João Santana e Mônica Moura "não estão atendendo a imprensa" e sugeriu que fosse feito contato com a direção nacional do PT. O partido, por sua vez, informou por e-mail que não iria se manifestar sobre o caso. 
Veja abaixo detalhes dos contratos: