Ao vender a imagem de gestor e de não político, ele vence de forma acachapante até nos redutos do PT em São Paulo
Desde 2013, um corredor de ônibus funciona na porta do pequeno restaurante do casal
Márcio dos Santos, de 35 anos, e Tatiane dos Santos, de 34, na Avenida Mateo Bei,
em São Mateus, extremo leste de São Paulo. Márcio e Tatiane gostariam de estacionar
na porta para descarregar as compras, receber as caminhonetes de seus fornecedores e
os fregueses, mas não podem porque no horário de pico passam por ali 157 ônibus por
hora, com cerca de 300 mil passageiros por dia.
A maior parte da população gosta do
para o trabalho foi reduzido pela metade. Márcio e Tatiane não. A clientela diminuiu e
o faturamento recuou 30%. Eles decidiram, então, procurar o prefeito para conversar.
Pesquisaram a agenda e passaram a ir atrás de Haddad em São Miguel Paulista, no
Parque do Carmo, no Carrão... Foram mais de dez encontros, nos quais Haddad pedia
para que seus secretários, entre eles Jilmar Tatto, dos Transportes, marcassem reuniões
para discutir o problema. Tempos depois, na Paróquia São Mateus, Márcio e Tatiane
reclamaram a Haddad sobre a aparente “insensibilidade” de Tatto.
Ele perdeu a
paciência. “Não, ele não foi insensível”, disse Haddad. “A ordem de não mudar
nada veio de mim.”
Durante a campanha eleitoral, o então candidato João Doria Júnior, do PSDB, percorreu a Avenida Mateo Bei e tomou um cafezinho no restaurante do casal.
“Ele perguntou sobre os problemas da região, e os funcionários tomaram nota de tudo”, diz Tatiane. O discurso de Doria vinha recheado de bordões como “acelera São Paulo” e “não sou político, sou gestor e empresário”.
No final de setembro, Doria pronunciou: “Tenho dinheiro suficiente para viver o resto de minha vida sem trabalhar”. A microempresária Marlene Tofolleti, de 56 anos, decidiu seu voto ali.
“Ele é rico, não vai precisar me roubar”, diz. Na semana passada, Marlene, Márcio e Tatiane votaram em Doria, que teve 40% dos votos de São Mateus. Haddad, que em 2012 havia recebido 74% dos votos no bairro, teve apenas 18%.


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