Dado Junqueira - 20.fev.2016/Folhapress
THALES DE MENEZES - Folha de São Paulo
A primeira noite do Desert Trip Festival, a reunião de seis pesos-pesados do rock na cidadezinha de Indio, na Califórnia ( EUA), teve dois shows bem diferentes. Bob Dylan deixou Frank Sinatra em casa e só tocou clássicos do seu repertório autoral em uma apresentação curta. Já os Rolling Stones inseriram algumas novidades em relação à turnê que fizeram no Brasil, incluindo até um cover de Beatles.
A área que abriga o festival Colchella nos meses de abril foi modificada radicalmente para o Desert Trip. Destinado a um público maduro, o evento construiu arquibancadas e distribuiu cadeiras por toda a pista central para maior conforto dos fãs. As opções de alimentação são fartas, o trânsito das pessoas pelo local é tranquilo, apesar dos 70 mil presentes na noite de abertura.
Muita gente ainda estava espalhada pelas várias atrações do parque quando Bob Dylan subiu ao palco. Logo de cara, uma surpresa que seria uma constante em sua apresentação.
Dylan passou a maior parte das músicas sentado ao piano. Sisudo, não trocou uma palavra com a plateia a não ser as letras conhecidas de 16 canções facilmente reconhecidas pelo público. Bem diferente de sua turnê atual, na qual chega a cantar cinco músicas de Frank Sinatra numa noite.
Ele abriu com "Rainy Day Women #12 & 35", "Don't Think Twice, It's All Right", "Highway 61 Revisited" e "It's All Over Now, Baby Blue", um mergulho nos anos 1960. Depois seguiu com repertório mais recente, antes de voltar a empolgar a plateia com "Tangled Up in Blue" e "Lonesome Day Blues".
Após uma versão impressionante de "Desolation Row", ele encerrou o set normal com "Ballad of a Thin Man". Com apenas uma hora e 20 minutos de show até aquele momento, o público esperava mais. No entanto, o bis foi modesto, apenas com "Masters of War".
A plateia aplaudiu bastante a performance de Dylan, enquanto ele manteve a frieza. Do mesmo jeito do que o artista ao piano, o público permaneceu sentado durante quase todo o tempo.
Não foi nada parecido com os Stones, que na primeira música, "Start Me Up", tiraram todo mundo das cadeiras. Na sequência, a banda tocou "You Got Me Rocking" e "Out of Control", agitadas mas fora da lista de seus maiores clássicos.
Veio então a primeira surpresa, "Ride 'Em on Down", cover de Jimmy Reed que faz parte do novo álbum de regravações de blues anunciado pela banda na mesma sexta, horas antes do show.
Mais surpresa com o resgate de uma música de 1989, "Mixed Emotions". Simpática, mas muito esquecida nos shows, a canção foi escrita por Keith Richards como uma proposta de paz a Mick Jagger depois de uma de suas brigas famosas.
Após dois clássicos, "Wild Horses" e "It's Only Rock 'n' Roll (But I Like It)", a bomba da noite: pela primeira vez na carreira, os Stones tocaram em um show a música "Come Together", dos Beatles. Ninguém entendeu, mas todo mundo gostou.
O costumeiro momento de Keith Richards cantando duas músicas desta vez veio com uma dupla pouco utilizada nas turnês: "Slipping Away" e "Little T&A". Dali para frente, um caminhão desenfreado de sucessos.
"Miss You", "Gimme Shelter", "Sympathy for The Devil", "Brown Sugar", "Jumpin' Jack Flash", "You Can't Always Get What You Want" e "Satisfaction".
Não há mais o que dizer sobre a banda. Só resta sair pulando junto com Mick Jagger.
Num momento do show, o vocalista dos Stones brincou com a plateia, dizendo que já sabia que aquela região contava agora com uma nova atração turística, o "Parque dos Dinossauros". Valeu a piada, mas, outra vez, os Stones mostraram que não têm nada de jurássico.
O festival prossegue neste sábado (8) com as apresentações de Neil Young e Paul McCartney; no domingo (9), shows de The Who e Roger Waters. No próximo fim de semana, entre os dias 14 e 16, os shows desta primeira semana vão se repetir, na mesma ordem.