Heroi de sua própria ficção, Eduardo Cunha migrou da posição de Durango Kid, uma espécie de cowboy fora da lei da Câmara, para a condição de anão-político. Excluídas as ausências e as abstenções, restaram-lhe míseros 10 aliados. Empurrado pelos votos de 450 deputados, Cunha caiu do cavalo sem tirar a mão do coldre. (aqui, a íntegra da lista de votação) Na sua primeira entrevista como ex-deputado, distribuiu rajadas de insinuações. Levou à alça de mira inclusive o governo. Ao notar o timbre de ameaça, Michel Temer e seus auxiliares reagiram com estrondoso silêncio.
Cunha fez propaganda do livro que planeja escrever sobre os bastidores do impeachment. Anunciou que contará em detalhes as conversas secretas que manteve antes de levar Dilma Rousseff ao cadafalso. Uma repórter quis saber: Quando o senhor abriu o impeachment, conversou com Michel Temer, ele pediu para o senhor abrir? E Cunha, enigmático: “Leia o meu livro que você vai ver.”
Além de falar do impeachment, vai expor o que sabe de políticos?, indagou outro entrevistador. “Ao tempo em que eu for me lembrando de qualquer coisa, pode ficar tranquilo que eu falo com vocês”, respondeu Cunha, borrifando na atmosfera envenenada a ameaça de sofrer a qualquer momento surtos de indiscrição.