segunda-feira, 12 de setembro de 2016

"Aquarius", filme cujo diretor e atores defenderam a corrupção Lula-Dilma, está fora do Oscar

UOL



Dirigido por David Schurmann, cuja família é famosa por ser a primeira tripulação brasileira a dar a volta ao mundo em um veleiro, o longa, ainda inédito no circuito comercial, conta a história de Kat, a menina adotada pela família em uma de suas viagens, portadora de HIV. Em entrevistas, Schurmann contou que foi delicado o processo do filme, já que a história real de sua irmã aconteceu no início dos anos 1990, quando havia ainda mais preconceito com os portadores do vírus. Julia Lemmertz, Maria Flor e Marcelo Antony integram o elenco.
Em sua página no Facebook, o diretor agradeceu a indicação: "Obrigado a todos os que acreditam nesse filme! Meu profundo respeito a todos os maravilhosos filmes inscritos. Tenham certeza que faremos de tudo e não economizaremos energias para representar nosso país na premiação do Oscar 2017. Obrigado, Obrigado, obrigado!".
Programado para chegar aos cinemas de todo país em 10 de novembro, "Pequeno Segredo" terá estreia limitada antes de 30 de setembro, ainda sem data definida, para poder se qualificar a concorrer ao Oscar 2017.

Aquarius

Considerado um dos favoritos a representar o Brasil, após participação elogiada no Festival de Cannes deste ano, "Aquarius", filme de Kléber Mendonça Filho estrelado por Sonia Braga, ainda pode concorrer a indicações em outras categorias, já que tem estreia comercial nos Estados Unidos marcada par o fim de outubro. Pelas regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, qualquer filme que estreie comercialmente até 31 de dezembro de 2016 na região de Los Angeles e fique em cartaz por pelo menos sete dias, com três sessões diárias, está apto a concorrer a estatuetas.
Reprodução
Mariana Goulart e Júlia Lemmertz em cena de "Pequeno Segredo"
Caso "Aquarius" consiga indicações em outras categorias, não será um fato inédito para o Brasil: "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, escolhido como representante brasileiro para o Oscar 2003, não ficou entre os finalistas, mas, conseguiu indicações em categorias de maior peso --direção, roteiro adaptado, fotografia e montagem-- no ano seguinte .
A escolha foi anunciada no início da tarde desta segunda-feira (12), na Cinemateca Brasileira, após reunião da comissão formada pela Secretaria do Audiovisual (SAV) do MinC (Ministério da Cultura) para fazer a seleção. O presidente da comissão, o cineasta Bruno Barreto, disse que os integrantes optaram por escolher "um filme que dialogasse mais com os critérios da Academia".
Integravam a comissão Adriana Scorzelli Rattes, ex-secretária de estado de cultura do Rio de Janeiro; Luiz Alberto Rodrigues, sócio-diretor da Panda Filmes; George Torquato Firmeza, Diretor do Departamento Cultural do Itamaraty; Marcos Petrucelli, comentarista de cinema da rádio CBN; Paulo de Tarso Basto Menelau, da Moviemax, rede exibidora que atua em Pernambuco; Silvia Maria Sachs Rabello, presidente da Abeica (Associação Brasileira de Empresas de Infra-estrutura de Indústria Cinematográfica e Audiovisual); Sylvia Regina Bahiense Naves, assessora técnica em Acessibilidade do Audiovisual  da SAV do MinC; e os cineastas Carla Camurati ("Carlota Joaquina, Princesa do Brasil") e Bruno Barreto ("O que É Isso, Companheiro?").

Polêmica

A escolha foi feita a partir de uma lista de 16 inscritos, e foi envolta em polêmica por conta de declarações dadas por um dos membros da comissão, Marcos Petrucelli, contra as posições políticas de Kléber Mendonça Filho, diretor de "Aquarius", por conta do protesto contra o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef realizado pela equipe do filme durante a sessão de gala no Festival de Cannes, em maio.
A polêmica fez com que três diretores retirassem seus filmes da disputa --"Mãe Só Há Uma", de Anna Muylaert, "Boi Neon", de Gabriel Mascaro, e "Para Minha Amada Morte", de Aly Muritiba--, e também levou dois membros originais da comissão a deixarem seus postos --a atriz Ingra Liberato e o cineasta Guilherme Fiúza Zenha, que foram substituídos por Camurati e Barreto.
Diante da repercussão do caso, o ministro da Cultura Marcelo Calero – alvo de protestos desde que assumiu interinamente a pasta –, informou em nota que tinha confiança na "isenção e na capacidade" da comissão. "Será um trabalho difícil, pois a safra de filmes brasileiros está excelente", afirmou.

Brasil no Oscar

Em toda a história da Academia, o Brasil conquistou apenas quatro indicações para melhor filme estrangeiro. A última nomeação aconteceu em 1999, com "Central do Brasil", de Walter Salles, que também teve Fernanda Montenegro concorrendo como melhor atriz. Os outros indicados foram "O Pagador de Promessas" (1963), "O Quatrilho" (1996) e "O que É Isso, Companheiro?" (1998). Em 1960, o filme  "Orfeu do Carnaval" (1960), coprodução de Brasil, França e Itália venceu o prêmio da categoria tendo sido indicado como representante da França. A estatueta dourada foi recebida pelo diretor francês Marcel Camus.
Este ano, o Brasil conseguiu uma inédita indicação na categoria de animação com "O Menino e o Mundo", de Alê Abreu. Em 2015, o documentário "O Sal da Terra", sobre o fotógrafo Sebastião Salgado, também concorreu ao Oscar.
Os últimos escolhidos para representar o Brasil foram "Que Horas Ela Volta" (2016), de Anna Muylaert, "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" (2015), de  Daniel Ribeiro, "O Som ao Redor" (2014), de Kléber Mendonça Filho, "O Palhaço" (2013), de Selton Mello, "Tropa de Elite 2" (2012), de José Padilha, "Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto (2011), "Salve Geral", de Sérgio Rezende (2010), "Última Parada 174", de Bruno Barreto (2009), "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger (2008) e "Cinema, Aspirinas e Urubus", de Marcelo Gomes (2007). A última vez em que o Brasil figurou entre os nove pré-finalistas foi em 2008, com "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" (2008).
Os últimos vencedores do Oscar de filme estrangeiro foram "O Filho de Saul", da Hungria (2016), "Ida", da Polônia (2015), e "A Grande Beleza", da Itália (2014).

O processo de seleção

Além do Brasil, ao menos outros 30 países já escolheram seus representantes, incluindo alguns fortes concorrentes, como "Toni Erdmann", de Maren Ade (Alemanha), muito elogiado no Festival de Cannes; "Tanna" (Austrália), vencedor do prêmio do público na semana da crítica do Festival de Veneza; "Death in Sarajevo", de Danis Tanovic (Bósnia Herzegovina), vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim; "Julieta", de Pedro Almdóvar (Espanha), exibido no Festival de Cannes; "The Happiest Day in the Life of Olli Mäki" (Finlândia), de Juho Kuosmanen, que venceu a mostra Um Certo Olhar em Cannes este ano; "Sieranevada", de Cristi Puiu (Romênia), também elogiado em Cannes; "Desde Alla" (Venezuela), vencedor do Leão de Ouro em Veneza em 2015.
Os países têm até 3 de outubro para enviar seus representantes à Academia do Oscar. Todos os filmes têm que ter sido exibidos comercialmente em seus países de origem entre 1º de outubro de 2015 e 30 de setembro de 2016. Eles passam então por um primeiro comitê de seleção, formado por membros de todas as áreas do Oscar, que seleciona por votação nove finalistas, anunciados geralmente no meio de dezembro.
Esses nove pré-finalistas passam então por um novo comitê, que votará para escolher os cinco indicados, anunciados junto com todas as outras categorias em 24 de janeiro de 2017. A cerimônia de premiação será realizada em 26 de fevereiro, no Dolby Theater, em Los Angeles.