quarta-feira, 18 de maio de 2016

Serra: ​"Política externa será regida pelos valores da nação, jamais de um partido"

Felipe Frazão - Veja

José Serra durante cerimônia de transmissão do cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores
José Serra durante cerimônia de transmissão do cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores, no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF) - 18/05/2016(Ueslei Marcelino/Reuters)



O novo ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), apresentou nesta quarta-feira as diretrizes da política externa brasileira, em cerimônia de transmissão de cargo com seu antecessor, o chanceler Mauro Vieira.
"A nossa política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não de um governo e jamais de um partido", disse Serra. "Estaremos atentos à defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país, em qualquer regime."
Serra também criticou a "ingerência" em questões nacionais de outros países, depois de rebater na semana passada declarações de Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua, que criticaram o processo de impeachment que afastou temporariamente a presidente eleita Dilma Rousseff.
Sob aplausos e diante de uma plateia do corpo diplomático, embaixadores e dezenas de parlamentares, governadores tucanos e outros ministros do governo Michel Temer (PMDB), Serra afirmou que vai recuperar a capacidade financeira do Itamaraty e que contará com a ajuda do ministro do Planejamento, Romero Jucá, para recuperar o ministério da "penúria".
"A Casa será reforçada e não enfraquecida. No governo Temer, o Itamaraty volta ao núcleo central do governo", discursou o novo chanceler, frisando que, no ministério, não vai apenas "fazer visitas inócuas para cumprir tabela".
O ministro afirmou que o país terá de buscar um "papel pioneiro" na gestão do clima e poderá receber "recursos caudalosos" de entidades internacionais para preservação da biodiversidade.
Na política regional, Serra disse que buscará um aprofundamento da parceria com a Argentina de Maurício Macri, para reorganização da política e da economia. Pouco antes, o ex-ministro Mauro Vieira, a quem Serra elogiou pela "prestatividade", havia dito que a "parceria com a Argentina é mais estratégico pilar da integração do Mercosul". Para Serra, no entanto, mesmo as relações comerciais ainda deixam a desejar. "Precisamos renovar o Mercosul com objetivo de fortalecê-lo, antes de mais nada, com relação ao livre comércio", disse.
Ele disse que também vai buscar aproximação com os países regionais da Aliança Para o Pacífico - Chile, Peru, Colômbia e México.
Também afirmou que buscará retomar as relações com Japão e Estados Unidos e trabalhar para a remoção de barreiras tarifárias. E buscar parceiros novos na Ásia, consolidando acordos comerciais com mercados de grande porte a China e a Índia.
Multilateralismo - Serra criticou a postura do país na OMC e disse que, nos governos do PT, o Brasil "fez concessões sem reciprocidade" e ficou amarrado a esforços multilaterais que não prosperaram e ficou à margem da multiplicação de parceiros bilaterais.
Serra ainda criticou a política externa de aproximação no hemisfério sul com países da África, colocada em prática no governo Lula. O tucano disse que na década anterior, as relações com países africanos virou "estratégia publicitária" e não priorizou o comércio.
"Não pode essa relação restringir-se, como pretendiam e pretendem alguns, a laços fraternos do passado e a correspondências culturais, mas sobretudo forjar parcerias concretas para o futuro. A África espera um efetivo intercâmbio tecnológico e econômico", afirmou. "Um país do tamanho do Brasil não escolhe ou repele parcerias."