Thaís Skodowski, especial para O GLOBO, e Stella Borges
Ao detalhar, em entrevista coletiva nesta terça-feira a 30ª fase da Operação Lava-Jato, em Curitiba, a força-tarefa disse que as empresas envolvidas procuraram operadores e diretores da Petrobras para receber vantagens, citou o ex-ministro José Dirceu, o ex-diretor da estatal Renato Duque e “seu grupo político” como beneficiários da propina e fez declarações para pressionar o Congresso a aprovar medidas que combatam a corrupção no Brasil.
Foram 28 mandados de busca e apreensão, realizados no Rio e em São Paulo, dez de condução coercitiva e dois de prisão preventiva. Os presos são: Flávio Henrique de Oliveira e Eduardo Aparecido de Meira, sócios de uma empresa chamada Credencial, usada como “fachada para lavar dinheiro”, segundo os investigadores. Um foi preso na capital paulista e outro no interior de São Paulo, ambos serão levados a Curitiba.
Conduções coercitivas e mandados de busca foram realizados em São Paulo e no Rio. Além desse esquema envolvendo a empresa de fachada, foram alvos duas empresas fornecedoras de tubos: Apolo Tubulares e Confab. Os contratos dessas empresas totalizaram mais de R$ 5 bilhões com a Petrobras, e em decorrência desses contratos foram pagas propinas que totalizaram pelo menos R$ 40 milhões.
Além desses contratos na aquisição de tubos, o que chamou a atenção dos investigadores foi que os executivos dessas empresas procuraram o operador Júlio Camargo e pediram para serem contratados pela Petrobras. Júlio, assim, procurou o diretor Renato Duque e o contrato foi firmado. A Apolo pagou propina de um total de R$ 6,7 milhões — “e cerca de 25% desse valor foi redirecionado a Dirceu”, afirmou Roberson Pozzobon, procurador da Lava-Jato.
— Quem faz primeiro a corrupção? Quem pede a propina ou quem oferece a propina? Nesse caso ficou muito claro: os empresários pagaram propina para prosperar. Parte da propina ficava para Renato Duque e a outra parte para o grupo político que ele representava — declarou.

A Credencial foi, segundo as investigações, trazida pelo grupo de José Dirceu para fazer parte do esquema. Um outro fator importante da operação de hoje, segundo a força-tarefa, é o nome da operação de hoje: batizada de “Vício”.
— (A operação) revela o quão disseminada é a pratica da corrupção. A corrupção é uma regra nos negócios públicos. Por outro lado, num mesmo cenário calamitoso como esse, o que vemos é uma inércia do Congresso Nacional na aprovação de medidas legislativas que possam reverter esse quadro. Um sistema político e jurídico que deveria estar numa CTI, mas que não há iniciativas legislativas nesse sentido — opinou o procurador, que se referiu às dez medidas de combate à corrupção proposta por seu grupo.
— O Congresso pode escolher ser uma casa de reabilitação e cura para esse sistema corrupto ou ser uma casa que aceite a corrupção como regra. Espero que a primeira via seja adotada — disse Pozzobon.