O grau de abjeção em que se projetou a Presidência da República pode ser mensurado pelo que Dilma Rousseff (PT) tem feito com o Ministério da Saúde.
O país, como todos sabem, enfrenta graves epidemias virais: zika, dengue, chikungunya, gripe H1N1. Apesar disso, a pasta chave, com seu orçamento de R$ 118 bilhões, está em oferta como prenda na quermesse política de Brasília.
Não que o ministro atual, guindado à posição no surto anterior de negociações imorais (ainda na ilusão de afastar o PMDB das tentações do impeachment), se notabilizasse por eficiência ou sabedoria. As declarações impróprias de Marcelo Castro (PMDB-PI) têm produzido estupefação e manchetes.
Pois bem, ele agora corre o risco de enfim ser exonerado. Não, porém, por incompetência e omissão, nem por lotear o segundo escalão entre asseclas. Castro sairia para abrir espaço ao Partido Progressista, de Paulo Maluf.
Os desesperados operadores de Dilma não parecem incomodar-se com o fato de, na quarta (30), a Procuradoria-Geral da República ter denunciado, de uma só tacada, sete políticos do PP sob a acusação de corrupção e ocultação de bens.
Na balança fraudulenta do Planalto, pesa pouco que a agremiação seja a campeã em membros investigados na Lava Jato. Importa mais que prometa arrebanhar 49 votos na Câmara contra o impedimento da presidente.
A traficância de gabinetes na Esplanada traria outros 40 sufrágios do Partido da República e mais 31 do Partido Social Democrático -que não se percam pelos nomes. E 27 votos, pela mesma via espúria, de uma penca de agremiações nanicas (PTN, Pros, PHS, PT do B, PSL), mais que nunca merecedoras do diminutivo.
Tal a base de lama renovada em que tenta firmar os pés uma presidente cuja capacidade de indignar-se com falcatruas se mostra a cada dia mais seletiva. Não se tem notícia da mandatária que estreou prometendo faxinas ministeriais -que sirva de lição a quem acreditou em mais essa ficção marqueteira.
O governo federal trabalha hoje apenas para sobreviver, e não para tentar dar fôlego a um país afundado em grave recessão. O Planalto se transformou num bunker devotado a maquinar táticas fracassadas no nascimento.
Dilma Rousseff só abre as portas do Palácio do Planalto para transformá-lo em palanque. Despiu-se dos escrúpulos remanescentes para converter a Presidência da República em aríete contra o derradeiro moinho de vento petista, vociferando a palavra de ordem "não vai ter golpe" sob aplausos da claque restante.
Sem o menor pudor, Dilma Rousseff rifa o que lhe restou de governo para salvar a própria pele. A única coisa que comanda no presente é a liquidação do Planalto.