domingo, 22 de novembro de 2015

Comparsa de Lula afirma que não deu dinheiro ao PT

MARIO CESAR CARVALHO
BELA MEGALE

Folha de São Paulo


Apesar da aparência serena, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, está nervoso, muito nervoso. Sua pressão, normalmente de 11 por 7, atingiu picos de 18 por 14 na última semana, quando um dos delatores da Operação Lava Jato disse que perdoou um empréstimo de R$ 12 milhões que havia feito a ele em 2004 em troca de um contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras.

Eurides Aok - 16.mai.10/Correio do Estado
José Carlos Bumlai, que vai depor terça na CPI do BNDES
José Carlos Bumlai, que vai depor terça na CPI do BNDES
Bumlai teria intermediado o negócio. O valor não pago ao banco foi para o PT, na narrativa do delator.

O empréstimo foi feito pelo Banco Schahin, mas não foi quitado. Para compensar a dívida, Bumlai teria ajudado o grupo a conseguir o contrato de um navio-sonda com a Petrobras, segundo relatos de executivos da empresa a Salim Schahin, um dos acionistas do grupo. Outros dois delatores da Lava Jato (Fernando Soares e Eduardo Musa) contaram versão similar.

"Isso é mentira e tenho como provar com documentos", diz em entrevista à Folha o pecuarista de 71 anos que na próxima terça vai depor na CPI do BNDES para explicar por que o grupo de sua família não pagou dívidas de R$ 330 milhões -ele culpa a política de preços da gasolina e do etanol pelas agruras que seus negócios atravessam.

A versão de Bumlai é que pegou emprestados R$ 12 milhões para comprar uma fazenda, o negócio não deu certo e o vendedor devolveu-lhe R$ 12,6 milhões em três anos.

"Se os R$ 12,6 milhões entraram na minha conta, não tem como o meu dinheiro ter ido para o PT. Eu não dei dinheiro para o PT coisíssima nenhuma. Ponto".
Bumlai refuta também a versão dos delatores de que o banco perdoou a dívida de R$ 12 milhões. "Como perdoou se meu nome foi parar no Cadin [cadastro de devedores do Banco Central], o que me prejudicou muito nos negócios?".

EMBRIÕES

O pecuarista diz que o valor foi pago ao Schahin com embriões de gado, um dos negócios que ele mantém no Mato Grosso do Sul, onde já teve um dos maiores rebanhos do país. E diz ter documentos de que os embriões foram entregues aos Schahin.

Bumlai exibe dois recibos datados de 23 de abril de 2009 em que um membro do grupo Schahin diz ter recebido 198 embriões e reclama que faltavam ser entregues dois.

O pecuarista mostra também sete notas de produtor rural emitidas por suas empresas para duas agropecuárias da família Schahin no Maranhão, com valor total de R$ 11.908.570,20.

Na delação, Salim Schahin forneceu documentos da quitação do empréstimo com os embriões afirmando que ela foi simulada para ocultar o fato de que os R$ 12 milhões jamais foram pagos.

Um relatório do Banco Central não registrou a quitação da dívida e concluiu que o empréstimo foi irregular ao mostrar que o banco burlou regras para emprestar o dinheiro a Bumlai.

"Se eu não entreguei os embriões, por que ele manda uma carta dizendo que faltam dois embriões?", pergunta, para ele mesmo responder: "Como é que inventaríamos uma história que começa em 2004, tem a compra de uma fazenda, tinha depósitos em banco, hipoteca de uma fazenda minha para honrar a dívida? Aí é demais!"

Sobre o relatório do Banco Central, ele diz não conhecer o documento, mas afirma acreditar que houve um equívoco porque o empréstimo foi feito inicialmente em seu nome e depois transferido para uma das empresas dele.

Ele diz que não é incomum um embrião custar R$ 50 mil. "Já vendi embrião até por R$ 150 mil, de vaca premiada. Tem esse valor porque, com o embrião, é certeza que o bezerro vai nascer. Com o sêmen não há essa certeza."

Bumlai nega que tenha intermediado o contrato do navio-sonda Vitoria 10000, assinado em 2009. "Só fiquei sabendo desse navio agora na Lava Jato, pelos jornais".

Ele ainda diz que é inverídica a história contada por Fernando Soares de que o pecuarista pediu R$ 1,5 milhão para uma nora de Lula.

O valor, diz Bumlai, foi um empréstimo que fez junto ao lobista. "Tenho comprovante de que usei o dinheiro para pagar funcionários e dívidas que eu tinha com banco, dívida de Finame [Financiamento de Máquinas e Equipamentos pelo BNDES]. Está tudo documentado".

O pecuarista afirma que não tem mais nenhuma participação nos negócios do grupo São Fernando, que hoje são geridos por seus dois filhos.

O grupo, com usina de álcool, açúcar e de energia gerada a partir do bagaço de cana, está em recuperação judicial com dívidas de R$ 1,2 bilhão. BNDES e Banco do Brasil já pediram a falência do conglomerado. "Isso não vai ocorrer", afirma Bumlai. "Meus filhos vão apresentar um novo plano de recuperação e vamos sair dessa".