domingo, 29 de novembro de 2015

STF mantém André Esteves e assessor de Delcídio presos a pedido do Ministério Público

Folha de São Paulo

Ricardo Borges - 26.nov.15/Folhapress
O banqueiro André Esteves durante transferência para o presidio de Bangu, no Rio


O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, determinou neste domingo (29) que o banqueiro André Esteves e o assessor parlamentar Diogo Ferreira permaneçam presos.

Ambos haviam sido detidos no âmbito da Operação Lava Jato na quarta (25), sob a acusação de colaborar com uma trama para atrapalhar as investigações em conjunto com o Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo Dilma Rousseff no Senado.

Delcídio e o advogado Edson Ribeiro já haviam sido presos de forma preventiva, isto é, sem prazo para serem libertados. Esteves e Ferreira, contudo, haviam sido detidos por um prazo de cinco dias –que venceriam à meia-noite de hoje.

O Ministério Público Federal fez o pedido de conversão em prisão preventiva e Teori o aceitou, alegando que as provas recolhidas e depoimentos ouvidos nesta etapa da Lava Jato já reúnem os requisitos para mantê-los presos.

Segundo o despacho de Teori, soltar Esteves e Ferreira implicaria risco à ordem pública, à ordem econômica e à instrução criminal do caso.

GRAVIDADE

Para embasar a conversão da prisão do banqueiro, a Procuradoria-Geral da República citou o fato de tanto Esteves como Delcídio terem confirmado, em depoimentos, que tiveram encontros.

O procurador-geral Rodrigo Janot destacou o fato de Delcídio ter afirmado no depoimento que realmente teve uma conversa com André Esteves sobre o caso de Cerveró.

"Há agora a confirmação do próprio Delcídio do Amaral de que a conversa realmente existiu", escreveu Janot.

Em relação ao chefe de gabinete do senador, foram encontrados documentos na residência dele da delação premiada do lobista Fernando Baiano e da minuta preliminar da delação de Cerveró, ambos sigilosos.

Janot classificou esses achados como "de altíssima gravidade". "Revela sua disposição concreta, materializada, para incorrer em condutas manifestamente ilegais em auxílio a Delcídio do Amaral", escreveu o procurador-geral da República.

PRIORIDADE

Os integrantes do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR passaram o fim de semana analisando o material apreendido nas buscas feitas no dia da operação e dando prioridade ao caso.

A meta é que até esta segunda-feira (30) o procurador-geral Rodrigo Janot apresente denúncia ao Supremo contra Delcídio e os demais envolvidos neste caso. Isso porque, como os investigados estão presos, o prazo para finalizar o inquérito é mais exíguo.

A denúncia deve acusá-los de obstruir investigações de associação criminosa e, no caso do senador, de exploração de prestígio, já que ele prometeu conversar com ministros do Supremo em favor de um habeas corpus para soltar Cerveró.

Além dessa denúncia, os procuradores também voltam a investigar o envolvimento de Delcídio com a corrupção na Petrobras, já que sua atuação para evitar a delação de Cerveró seria justamente para que esses fatos não viessem à tona.

O ex-diretor Paulo Roberto Costa, por exemplo, havia dito em sua delação que Delcídio se beneficiou de propina, mas a PGR havia arquivado o inquérito por considerar que os elementos eram frágeis.

Neste domingo (29), uma das filhas de Delcídio foi visitá-lo na superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde ele está detido. Ela chegou ao local às 16h e só saiu por volta das 18h, sem falar com a imprensa.

PLANO DE FUGA

Delcídio, Ferreira e Ribeiro são acusados de montar um plano de fuga para Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras preso na Lava Jato. Eles foram gravados pelo filho de Cerveró, Bernardo, ofertando dinheiro e praticidades para a fuga quando o ex-diretor fosse solto.

Em troca, eles queriam ver seus interesses protegidos na delação premiada negociada por Cerveró. O banqueiro Esteves, do BTG Pactual, foi indicado como o financiador da operação.

OUTRO LADO

Todos os acusados negam os crimes, mas Delcídio entrou em contradição com Esteves –que está preso no Rio.

O advogado de Esteves, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse não ter conhecimento da decisão, mas que considerava não haver motivos para manter seu cliente preso.