No momento de maior afastamento entre governo e PT, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, fará nesta quinta-feira (11) críticas ao ajuste fiscal diante da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em seu discurso elaborado para a abertura do 5º congresso nacional do partido, em Salvador, Falcão vai reiterar o apoio às medidas do ajuste, mas dirá considerar vital "que o custo de retificação das contas públicas recaia sobre quem mais tem condições de arcar com o ajuste".
"É inconcebível, para nós, uma política econômica que seja firme com os fracos e frouxa com os fortes", dirá a o presidente petista.
Nos últimos dias, a cúpula do PT e Lula agiram junto a setores mais à esquerda do PT para amenizar críticas que poderiam ser feitas à presidente Dilma e à sua política econômica durante o congresso.
Mesmo assim, alas do PT produziram textos bastante críticos à condução econômica de Dilma e pediram acenos à esquerda do governo.
O presidente da sigla afirmará que o partido não acredita que é possível retomar o crescimento provocando recessão e nem que é possível combater a inflação com alta nos juros e desemprego.
"Como já disse o Papa Francisco, em sua encíclica Evangelii Gaudium ("A Alegria dos Evangelhos"), o desemprego é 'o resultado de uma escolha mundial, de um sistema econômico que levou a uma tragédia, um sistema que tem em seu centro um deus falso, um deus chamado dinheiro'", escreve Falcão.
O presidente do PT conclui o discurso afirmando que não há fatalidade que obrigue povos ou governos a capitularem diante das pressões do mercado, "ou seja, dos bancos e do grande capital que dominam o planeta".
"É preciso ter coragem política -e a nossa presidenta a tem de sobra-, vontade de resistir e de buscar alternativas, adotando as providências necessárias para fazê-los recuar", afirma Falcão.
AUTOCRÍTICA
Apesar de insistir no discurso de que o PT está "sob forte ataque" e que o partido está sendo "criminalizado" para, inclusive, ter o registro cassado, Falcão vai fazer uma autocrítica ao dizer que o PT precisa "assumir responsabilidades e corrigir rumos."
O dirigente pedirá mobilização da militância para "sair da defensiva" e "combater a direita e à extrema direita." Segundo ele, as críticas levantadas no debate farão o PT reencontrar suas origens e bases históricas.
"Para sair da defensiva devemos desencadear uma reação vigorosa. Não dá para ficarmos passivos, de cabeça baixa, enquanto nossos inimigos transformam o boato em notícia, a suspeita em denúncia e a calúnia em verdade", dirá Falcão.
CONGRESSO
Desde esta quinta até sábado (13), 800 delegados petistas se reúnem em Salvador para discutir os novos rumos do partido –oito teses estão inscritas para o debate.
Da abertura, na noite desta quinta, participam a presidente Dilma Rousseff, que mudou a agenda em Bruxelas para chegar a tempo ao evento, e o ex-presidente Lula, que agiu pessoalmente nos últimos dias para amenizar as duras críticas que setores do PT preparavam para fazer a Dilma e à política econômica de seu governo.
A presidente embarcou na manhã desta quinta, em Bruxelas, em um voo para Salvador a tempo de acompanhar a abertura do congresso. Ela foi sucinta ao comentar o evento.
"Eu acho que o congresso vai ser importante para o PT, um momento de reflexão", afirmou em entrevista coletiva aos jornalistas, após participar da cúpula entre a União Europeia e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribe).
Questionada pela Folha por que é hora de refletir, ela limitou-se a responder:
"Porque é um momento de reflexão".
O partido está no auge daquela que talvez seja a maior crise de sua história, com notável aumento de sua rejeição, o governo mal avaliado e dirigentes acusados de corrupção pela Operação Lava Jato, que investiga desvios de dinheiro e pagamento de propinas na Petrobras.
Afetado pela forte crise de imagem, o PT vê ameaçada até a eleição em cidades do Nordeste em 2016, região que garantiu a reeleição de Dilma em 2014.
Apesar de ter conseguido em alguns casos, grupos mais à esquerda e uma dissidência da ala majoritária ainda mantiveram muitas críticas nos documentos que serão apresentados no congresso.
| Editoria de Arte/Folhapress | ||
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