quarta-feira, 24 de junho de 2015

França aprova lei de vigilância que dispensa autorização judicial prévia

Veja


Serviços de inteligência poderão grampear suspeitos de 

terrorismo sem consentimento de juiz




Parlamento francês
Vista geral do Parlamento francês durante sessão para adotar novas regras de vigilância, no edifício Assembleia Nacional em Paris, França - 05/05/2015(Onur Usta/Anadolu Agency/Getty Images)
A França aprovou nesta quarta-feira uma controversa lei que visa ampliar a vigilância de suspeitos de atos de terrorismo. Defendida pelo presidente François Hollande em nome da luta contra o extremismo, a nova lei dos serviços de inteligência foi votada em caráter definitivo e será promulgada pelo governo. Proposta em 2014, o governo acelerou a sua aprovação após os atentados que deixaram dezessete mortos entre 7 e 9 de janeiro em Paris, o pior deles contra a sede do semanário Charlie Hebdo. Segundo o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, a lei ditará a atividade dos serviços de segurança e permitirá que eles sejam "mais eficazes diante da ameaça terrorista" e "na luta contra a criminalidade e a espionagem econômica".
A votação, contudo, ocorreu em um momento delicado para o governo francês. Documentos vazados pelo site WikiLeaks, do hacker Julian Assange, provaram na terça-feira que os Estados Unidosespionaram três presidentes da França e outros funcionários do governo entre 2006 e 2012. Os chefes de Estado monitorados foram Jacques Chirac (1995-2007), Nicola Sarkozy (2007-2012) e Hollande, atual mandatário que iniciou seu governo em maio de 2012. Foram espionadas comunicações internas que, entre outros assuntos, abordavam a crise mundial, o colapso financeiro da Grécia e o relacionamento da administração de Hollande com o governo alemão de Angela Merkel.

A lei não entrará em vigor até que a Justiça decida se a medida está de acordo com a Constituição da França. Entre as medidas que constam no texto está a autorização para que os serviços de inteligência coloquem aparelhos de gravação em casas de suspeitos e em seus carros sem o consentimento prévio de um juiz. Ela também irá obrigar as companhias de comunicações e internet a instalar caixas eletrônicas que gravam informações de todos os usuários da rede de computadores na França.
Aproximadamente 100 parlamentares contrários ao texto pretendem apresentar um recurso para barrar a sua promulgação. Também criticam a lei associações de defesa dos direitos humanos, magistrados, meios de comunicação, sindicatos de jornalistas, agentes da indústria digital e políticos de todo espectro. Em nível internacional, o projeto também despertou a inquietação do Conselho Europeu e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.
Um ponto específico da medida centraliza a preocupação dos opositores a ela. A adoção, nas redes das operadoras de telefonia, de instrumentos de análise automática para detectar, por meio de "uma sucessão suspeita de dados de conexão", o perfil de pessoas que possam ser "uma ameaça terrorista". Esses dispositivos coletariam apenas os metadados, e não o conteúdo das comunicações. Mas críticos dizem que eles funcionarão como "caixas-pretas" - em comparação aos métodos de "vigilância generalizada" da NSA. "Nós nos colocamos em posição de analisar tudo, de grampear qualquer um, em uma sociedade obcecada pelo terrorismo. É o caso dos Estados Unidos após o 11 de setembro e será o caso da França após o 7 de janeiro com a implantação da lei de vigilância", denunciou o jornalLibération.
(Com Estadão Conteúdo e agência France-Presse)