Cleide Carvalo, Germano Oliveira e Thaís Skodowiski - OGlobo
Defesa de presidente de empreiteira critica ação da Polícia Federal
A advogada do presidente da empreiteira Odebrecht, Dora Cavalcanti, acusou nesta quarta-feira a Polícia Federal de “tentar tumultuar o processo (da Lava-Jato) para justificar a prisão ilegal” de seu cliente. A PF apreendeu um bilhete manuscrito por Marcelo Odebrecht, no qual há a expressão “destruir e-mail sondas”. A advogada afirmou que o sentido não era de destruição de provas, mas de rebater a prova, que é uma das principais da acusação ao presidente da Odebrecht.
— Como ele (Marcelo Odebrecht) teria mandado destruir um documento que já estava apreendido desde novembro e que foi um dos objetos da prisão? — questionou a advogada ao GLOBO.
Dora Cavalcanti informou que ingressou com uma petição ainda na noite de terça-feira para o juiz Moro justificando o conteúdo do bilhete, flagrado por agentes da carceragem onde Odebrecht está preso. A advogada disse ainda que estuda levar o episódio para a Ordem dos Advogados do Brasil como um caso de "violação de correspondência entre o preso e seus advogados".
— Eu não gostaria de estar neste cenário de confronto com a PF — disse
Os agentes da PF disseram ter tido dificuldade inicial de entender o bilhete, devido à letra do empresário, mas que conseguiram identificar rapidamente a expressão “destruir e-mail sondas”. Segundo a advogada, a palavra "destruir" foi usada no sentido de "descontituir", "rebater" e "infirmar" e que a interpretação da PF foi equivocada e as considerações do delegado da PF "fazem antever a lastimável determinação de criar celeuma onde não existe". A advogada afirmou que logo abaixo estão registrados os argumentos e fatos que deveriam ser invocados para elucidar o teor do dito e-mail apresentado como comprometedor".
A advogada reclama que a comunicação do empresário com seus advogados foi devassada pela autoridade policial, “maliciosamente interpretada”, e quando isso acontece o direito de defesa está sob ataque.
O bilhete foi apreendido por volta de 10 horas da última segunda-feira, foi fotocopiado pela PF e encaminhado ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, na manhã desta quarta-feira.
Para a advogada, a ação do delegado Eduardo Mauat, da Polícia Federal, foi "um flagrante preparado". Procurado pelo GLOBO, o delegado disse que não iria "bater boca" com advogados. Segundo a advogada da Odebrecht, o delegado lhe disse que deixou passar o bilhete para ver a reação dos advogados diante do pedido de Marcelo.
— Ultrapassamos as raias do absurdo — diz Dora ao juiz Moro, que ainda não se pronunciou sobre a polêmica.
No manuscrito, Marcelo dá argumentos aos advogados para seu habeas corpus. Ele diz Pedro Barusco não recebeu propinas da empresa no Panamá, mas sim que comprou US$ 300 mil em bonds, que era investimento de Barusco em títulos da empresa.
Ao encaminhar o documento ao juiz Sérgio Moro, o delegado da Polícia Federal Eduardo Mauat disse que a verificação é praxe.
"Como de praxe as correspondências dos internos são examinadas por medida de segurança, tendo chamado a tenção da equipe a expressão 'destruir e-mail sondas', o que motivou fosse feita uma fotocópia do documento, entendendo os policiais que não haveria problema na entrega do original aos advogados, uma vez que os mesmos iriam ter contato com o preso de qualquer maneira na sequência”.