
“Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável.” (Sêneca)
Sob o risco de parecer repetitivo, tenho apelado com frequência, e há anos, para a metáfora de uma cigarra que ganhou na loteria para explicar o Brasil dos últimos 12 anos. A loteria, claro, chama-se China. Foi o crescimento chinês acelerado e sua consequente volúpia por recursos naturais, que o Brasil por sorte do destino tem em abundância, que explicam o case da euforia com o Brasil até 2010.
O custo de capital nulo no mundo desenvolvido representa a lenha na fogueira, inundando os mercados com capital ávido por algum retorno. O “tsunami monetário” que Dilma chegou a criticar, enfim, serviu para impulsionar o valor de nossos ativos e tornar os critérios de análise dos investidores mais flexíveis e obsequiosos, e bem menos rigorosos.
Mas, como venho alertando em palestras e artigos, os ventos externos podem ter mudado a direção. Ao que tudo indica, o crescimento chinês não terá nada perto do mesmo vigor nos próximos anos, e o melhor indicador disso é o preço das commodities. Vale notar que metade de nossa pauta de exportação é de recursos básicos, e boa parte para a China.
Quase 70% de tudo que vendemos aos chineses são soja e minério de ferro. Dependemos muito, portanto, do preço dessas commodities. E como eles estão? Em queda livre. Vejamos o minério de ferro, por exemplo:
Reparem que o preço do minério está derretendo, e já voltou ao mesmo patamar de 2009, após a grave crise que apavorou o mundo e derrubou o valor de todos os ativos. Nessa época, chegou-se a pensar que a Vale não suportaria o impacto. As ações da nossa maior mineradora, aliás, também acusam o golpe do momento atual negativo:
São os termômetros mais importantes como indicadores antecedentes do que vem por aí em termos de China e seus efeitos em nossa economia. Foi a bonança do superciclo das commodities que permitiu o crescimento tanto de nossa economia como dos gastos e crédito públicos. O governo pegou o bilhete da loteria e gastou como se não houvesse amanhã, como se o inverno nunca fosse chegar.
A soja, maior item na pauta de exportação para a China, responsável por quase metade do total vendido àquele país, passou por uma expressiva alta de preço durante a gestão de Lula, mas agora também está despencando:
Não resta muita dúvida: os ventos externos, especialmente os chineses, mudaram a direção. E o barco brasileiro, que surfava uma onda produzida por esse crescimento chinês e turbinada pelo “tsnumani monetário”, agora está à deriva. Não desenvolvemos musculatura própria para remar sozinhos na direção certa, tampouco o governo sabe que direção é essa.
Estamos perdidos, dependendo dos estímulos estatais insustentáveis. E temos Dilma no comando do leme. Como alguém consegue manter algum otimismo diante de um quadro desses é algo que escapa à minha razão. Resta rezar para que, no lugar do vento favorável chinês, não venha uma tempestade perfeita que nos coloque no olho do furacão. O problema é que não sou uma pessoa muito religiosa…


