sexta-feira, 28 de novembro de 2014

"Levy e os esqueletos do governo", por Raquel Landim

Folha de São Paulo


O discurso do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi música para os ouvidos do mercado. Os comentários entre empresários e banqueiros, que esperavam o apocalipse no segundo governo Dilma, eram bastante otimistas.

Mesmo sem detalhar seus planos, Levy prometeu para os negócios algo raro nos últimos anos: previsibilidade.

Ele anunciou uma meta fiscal crível de economizar 1,2% do PIB para pagar os juros da dívida em 2015 e sinalizou que o superávit primário será de pelo menos 2% nos dois anos seguintes - o suficiente para reduzir a dívida pública bruta.

Um horizonte de três anos é um luxo comparado com os inúmeros pacotes, mudanças de rota e promessas não cumpridas de seu antecessor Guido Mantega, sempre com aval da presidente, é bom frisar.

Tecnicamente Levy é muito preparado. Seu maior desafio será político e não estou falando aqui da gritaria da esquerda do PT, que é sempre chamada nas eleições e convenientemente esquecida depois.

O governo petista tem muitos esqueletos no armário que podem atrapalhar os planos do novo ministro. O escândalo da Petrobras é o mais óbvio deles, mas não podemos esquecer dos bancos públicos.

Levy fez questão de frisar que é preciso conter os repasses do Tesouro para os bancos públicos. BNDES e Caixa foram várias vezes utilizados para bancar e salvar projetos desenvolvimentistas mirabolantes e ajudar os negócios dos amigos do rei.

Se a torneira dos bancos públicos realmente secar, o que vai ser desses projetos?

Como o governo vai lidar com esse desgaste de imagem? Qual vai ser o tamanho da gritaria desses empresários, que estão entre os maiores financiadores de campanhas políticas no Brasil?

Dilma e Levy terão traquejo político para lidar com esses e muitos outros desafios? Ou o ex-presidente Lula está tão empenhado nas eleições de 2018 que vai nos bastidores descascar esses abacaxis para os seus "afilhados"? Só o tempo vai dizer. Por enquanto, o que temos de Levy é um bom começo.