Recessão industrial e enfraquecimento das vendas, em especial do comércio varejista, além de custos altos e inflação fora da meta, provocam deterioração da saúde financeira das empresas. Estas enfrentam crescentes problemas de caixa e atrasam pagamentos. E, se a situação não for revertida neste final de ano, quando as vendas são, sazonalmente, mais fortes, muitas companhias poderão ter de fazer ajustes profundos, afetando o emprego dos trabalhadores.
A conjuntura difícil ficou evidente com a divulgação do Indicador Serasa Experian de Inadimplência das Empresas relativo a setembro, que registrou uma elevação dos atrasos de 13,4%, em relação a setembro do ano passado. Entre os primeiros nove meses de 2013 e de 2014, o aumento da inadimplência foi de 7,4%. Num único ponto o quadro é menos preocupante, pois entre agosto e setembro últimos a inadimplência diminuiu 0,5%.
Os números expõem o sufoco financeiro das companhias - os atrasos nem sempre envolvem valores expressivos. Entre janeiro e setembro de 2014, o valor médio das dívidas não pagas a bancos foi de apenas R$ 4.934,87, inferior em 2,7% aos R$ 5.069,85 devidos em igual período do ano passado. Também caiu, pelo mesmo critério de comparação, o valor médio dos cheques sem fundos, de R$ 2.448,68 para R$ 2.297,56.
Isso significa que as empresas evitam ao máximo comprometer as linhas de crédito bancário a que têm acesso. Enquanto isso, o valor médio das dívidas por títulos protestados aumentou de R$ 2.052,93 para R$ 2.254,12 e o das dívidas não bancárias, de R$ 808,85 para R$ 867,56.
As empresas sem recursos em caixa parecem ter de fazer uma escolha delicada entre seus credores, identificando quais têm de ser pagos. Ao privilegiar o pagamento a bancos, as inadimplentes complicam um pouco mais a situação das demais empresas não financeiras (que enfrentam problemas semelhantes) e dos prestadores de serviços públicos.
Quando as dívidas são com a Receita Federal, o caminho mais fácil é adiar os pagamentos e depois refinanciar os tributos em atraso nos programas Refis, a prazos dilatados. A prática onera o Tesouro Nacional, cuja arrecadação está aquém do esperado, mas evita que um número maior de companhias tenha de fechar as portas. Sem a expectativa de uma retomada mais forte e com juros médios de cerca de 23% ao ano no segmento livre, é provável que os níveis de inadimplência das empresas continuem altos.