LILIAN VENTURINI - O ESTADO DE S. PAULO
No penúltimo programa do horário eleitoral na televisão, presidente rebate reportagem segundo a qual a petista e Lula tinham conhecimento de esquema de corrupção na Petrobrás
A presidente Dilma Rousseff (PT) acusou a revista Veja de promover um "ato de terrorismo eleitoral" ao publicar reportagem segundo a qual ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula tinham conhecimento de um esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás. A campanha petista dedicou quase 6min, dos 10min do horário eleitoral da TV da tarde desta sexta-feira, 24, para responder à publicação que, de acordo com a presidente, trouxe "falsas denúncias" com a intenção de "interferir" no resultado das eleições.
A resposta à revista abriu o penúltimo programa eleitoral da TV. Dilma falou por 3min30s, em um discurso bastante inflamado. "Eu gostaria de encerrar minha campanha na TV de outra forma, mas não posso me calar frente a este ato de terrorismo eleitoral articulado pela revista Veja e seus cúmplices ocultos", afirmou.
Na edição desta semana, a revista publicou trechos de um depoimento atribuído ao doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, segundo o qual ele teria dito à Justiça Federal que Lula e Dilma sabiam do esquema na estatal. O depoimento teria ocorrido nessa terça-feira, 21, na sede da Polícia Federal em Curitiba, como parte do acordo de delação premiada feito entre Youssef e a Justiça. De acordo com a reportagem, ele não apresentou provas durante o depoimento. A defesa do doleiro informou ao Estado que Youssef nunca mencionou a ele os nomes da presidente e de Lula. As declarações feitas sob a delação ficam sob segredo judicial.
No horário eleitoral, a campanha petista atribui a reportagem a uma tentativa de "reverter a decisão popular" e destaca o fato de a publicação ocorrer às vésperas da eleição e após a divulgação de pesquisas de intenção de voto apontarem a vantagem de Dilma sobre o candidato Aécio Neves (PSDB).
"Hoje a revista excedeu todos os limites da decência e da falta de ética. (...) A revista comete esta barbaridade, esta infâmia contra mim e Lula, sem apresentar a mínima prova. Isso é um absurdo, isso é um crime. É mais do que clara a intenção malévola da Veja de interferir de forma desonesta e desleal no resultado das eleições", afirmou a presidente.
Antes das declarações de Dilma, a campanha petista mostrou outras reportagens que, segundo o programa, usam a "tática do medo" para "aterrorizar os eleitores" às vésperas das eleições. "Desde que começaram as investigações sobre ações criminosas do senhor Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobrás), eu tenho dado total respaldo ao trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público", disse a presidente. Dilma afirmou ainda que a revista tenta envolvê-la no escândalo "sem apresentar nenhuma prova concreta" e usando depoimentos de "pessoas do submundo do crime".
Ao encerrar sua participação, a presidente prometeu processar a revista. " Os brasileiros darão sua resposta à Veja e aos seus cúmplices nas urnas. E eu darei a minha resposta a eles na Justiça", afirmou.
Procurada, a revista não comentou, até o momento, o teor das declarações de Dilma. Na edição desta semana, a Veja escreve em uma "Carta ao Leitor" em que afirma que "não publica reportagens com a intenção de diminuir ou aumentar as chances de vitória desse ou daquele candidato" e que publica "fatos com o objetivo de aumentar o grau de informação de seus leitores". / Colaborou Mateus Coutinh