sexta-feira, 28 de março de 2014

Ministério da Cultura autoriza captação de financiamento para filme sobre Brizola em ano eleitoral, mas nega a documentário sobre Covas, porque é ano eleitoral

Ministério da Cultura, que autorizou captação de financiamento para filme sobre Brizola em ano eleitoral, nega o mesmo para documentário sobre Covas porque neste ano haverá eleições



Blog Ricardo Setti - Veja


Mário Covas no Palácio dos Bandeirantes: negativa do Ministério de Marta Suplicy a filme sobre o ex-governador não usa os mesmos critérios que liberou captação de recursos para documentário a respeito de Brizola (Foto: Luiz Paulo Lima / Agência Estado)
Mário Covas no Palácio dos Bandeirantes: os 580 mil reais a serem captados como financiamento pela Lei Rouanet são certamente menos do que custou a famosa escala da presidente Dilma em Lisboa, em janeiro (Foto: Luiz Paulo Lima / Agência Estado)
 
 
O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), protocolou na Mesa do Senado requerimento para que a ministra da Cultura, Marta Suplicy, explique à Casa por que sua pasta indeferiu pedido de captação de financiamento pela Lei Rouanet para a realização do documentário Covas, o Homem e Estadista. A Lei Rouanet é o principal instrumento de apoio à cultura por meio de renúncia fiscal.
 
O filme, que terá como diretor Thiago Carvalho, pretende abordar a trajetória do falecido Mário Covas como deputado federal (dois mandatos), senador por São Paulo (1987-1994), candidato à Presidência da República (1989) e governador do Estado (de 1995 até sua morte por câncer, em 2001, aos 71 anos de idade)..

A justificativa do Ministério para a recusa da captação dos 580 mil reais em que está orçado o filme — certamente menos do que a comitiva da presidente Dilma gastou na famosa escala em Lisboa –, é de que o pedido “foi apresentado em ano eleitoral e não seria prudente dar prosseguimento a aprovação, haja vista o caráter político-partidário do projeto”.

O senador Aloysio, porém, em seu requerimento, lembra que, em 2006, também ano eleitoral — ano em que Lula foi reeleito e foram escolhidos 27 governadores, todos os deputados e um terço dos 81 senadores, além de todos os deputados estaduais –, o documentário Brizola – Tempos de Luta, em que o diretor Tabajara Ruas traça a vida política do ex-governador Leonel Brizola, foi autorizado a recolher 592 mil reais exatamente via Lei Rouanet. O filme sobre Brizola foi lançado no ano seguinte, 2007.

Não custa lembrar que este governo se intitula “popular e democrático”, e que Marta Suplicy, a ministra, se dizia “amiga” de Covas. Imaginemos se não fosse…

No requerimento, Aloysio quer ter acesso à cópia do processo que negou o patrocínio ao filme sobre Covas e saber a fundamentação legal para a decisão, via pareceres técnicos e jurídicos, além de solicitar cópia do processo administrativo que autorizou a captação de financiamento para Brizola — Tempos de Luta.

O governo jamais divulgou os gastos exatos da “escala obrigatória” que Dilma fez em janeiro, em Lisboa, ao voltar de Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial, com uma passagem por Cuba.

Mas, considerando-se que apenas diária da suíte ocupada pela presidente custou o equivalente a 26 mil reais, que a comitiva ocupou 45 apartamentos em dois dos hotéis mais caros da cidade, somados ao valor dispendido em refeições, gorjetas, deslocamentos de táxi e mais as despesas da parada do avião presidencial no Aeroporto da Portela, tem-se, aí, até mais do que o orçamento do documentário sobre Covas.