sexta-feira, 28 de março de 2014

Inflação de Dilma! ‘Cesta básica’ dos botecos cariocas sobe 14,5% em um ano

Caipirinha teve o maior aumento médio, de 19,6%, entre janeiro de 2013 e janeiro deste ano, segundo pesquisa do GLOBO em 35 bares do Rio

 
 
Marcio Beck, Nelson Lima Neto e  Breno Salvador - O Globo
 
 

Cariocas ficaram mais exigentes com os preços
Foto: Eduardo Naddar / O Globo
Cariocas ficaram mais exigentes com os preçosEduardo Naddar / O Globo




Os cariocas aprenderam – ou reaprenderam – a fazer barulho contra os preços “surreais”, e não é sem motivo. Os dez produtos mais populares do cardápio dos bares do Rio (a “cesta básica do boteco”) tiveram alta, em média, de 14,5% entre janeiro de 2013 e janeiro deste ano, de acordo com levantamento feito pelo GLOBO em 35 estabelecimentos das zonas Sul, Norte, Oeste e do Centro.

Desde o ano passado, são pesquisados os preços de água mineral, suco de laranja, caipirinha, chope, cerveja em garrafa, batata frita, frango a passarinho, filé aperitivo e bolinho de bacalhau.

A caipirinha, tradicionalíssima mistura de limão, cachaça, açúcar e gelo, foi o produto que teve a maior alta, na média: 19,6%. Apesar de um em cada quatro estabelecimentos pesquisados ter mantido o valor cobrado em janeiro do ano passado, as maiores variações encontradas foram de 114% e 63%. Só um bar diminuiu o preço, em 17,6%. A bebida mais cara encontrada no levantamento custava o triplo da mais barata: R$ 18 contra R$ 6, respectivamente.

A onipresente batata frita ficou bem mais “salgada”: registrou a segunda elevação mais expressiva, de 18,9%. O maior aumento foi de 63,3%. Dois estabelecimentos mantiveram os preços e apenas um diminuiu, em 7,1%. A diferença entre o produto de menor preço e de maior preço foi de 200%: R$ 8 contra R$ 26.

Na outra ponta, a menor variação média (6,9%) ocorreu na cerveja de garrafa – a bebida alcoólica oficial dos frequentadores de boteco. A alta mais significativa foi de 25%. Novamente, um em cada quatro bares manteve o preço; dois reduziram, sendo que o maior recuo foi de 10,3%. A diferença entre o maior e o menor valor foi de pouco mais de 100%: R$ 10,90 contra R$ 5.

O bolinho de bacalhau ficou na vice-lanterna dos aumentos de preços, com alta média de 11,1%. A maior variação encontrada para o petisco – indispensável – foi de 47%, mas chegou a haver redução de 33,% em um estabelecimento. Três bares continuaram a praticar os mesmos preços de janeiro de 2013.

Consultor de varejo e professor da Escola Superior de Propaganda & Marketing (ESPM), Eduardo França critica os bares que cobram mais de R$ 10 em um copo de caipirinha, bebida que é uma das preferências do público estrangeiro. Ele desta que as matérias-primas são baratas e rendem bastante, e não há dificuldades no preparo. O mesmo vale para a batata frita.

— Não dá para colocar culpa apenas na carga tributária do país. Ela também dificulta, sem dúvida, mas existe uma mentalidade de se cobrar absurdamente sem oferecer retorno na qualidade dos serviços prestados — afirma ele.

A preocupação com as altas de preços e as campanhas dos consumidores chegou à diretoria do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes (SindRio). O presidente da entidade, Pedro de Lamare, disse que está sendo estudado um sistema para coletar informações mensais sobre os preços dos produtos e serviços e transmiti-la aos consumidores.

— Existem muitos “vilões” nos preços, mas não adianta apenas dar nome aos vilões. Queremos montar uma estrutura para recolher os dados do setor, entender o que está acontecendo e como comunicar aos consumidores, da melhor forma, o que pode influenciar a cadeia de preços.
De Lamare diz que as manifestações de insatisfação do público são positivas, mas reclama do desconhecimento sobre fatores que podem afetar a formação dos preços:

— Fora questões históricas, como a mão de obra, no ano passado tivemos um aumento de cerca de 90% nos aluguéis comerciais na cidade, principalmente no Centro e nos bairros da Zona Sul. Além disso, os gastos com taxas de administração de cartões de crédito e débito já representam 5,3% do faturamento dos comerciantes.