segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Ucrânia ordena prisão de Yanukovich por assassinato em massa

País abre investigação contra presidente deposto e pede ajuda financeira

O GLOBO
Com agências internacionais
 

Ucranianos deixam flores em memória de manifestantes mortos em confrontos recentes na Praça da Independência, em Kiev
Foto: YANNIS BEHRAKIS / REUTERS
Ucranianos deixam flores em memória de manifestantes mortos em confrontos recentes na Praça da Independência, em Kiev YANNIS BEHRAKIS / REUTERS
KIEV — A Ucrânia abriu nesta segunda-feira uma investigação criminal contra o presidente destituído Viktor Yanukovich por “assassinato em massa de civis” e emitiu uma ordem de prisão, anunciou o ministro interino do Interior, Arsen Avakov. Depois de ser destituído pelo Parlamento, controlado pela oposição, ele foi acusado por seu próprio partido de ser o “responsável pelos acontecimentos trágicos no país”.

“Uma investigação criminal foi aberta contra Yanukovich e outros funcionários por assassinato em massa de civis. Uma ordem de prisão contra ele foi emitida”, anunciou o ministro em sua página no Facebook.
Yanukovich, de 63 anos, deixou a capital, Kiev, de helicóptero na sexta-feira, em meio à revolta popular contra seu governo após três dias de conflitos que deixaram mais de 80 pessoas mortas.

Desde então, ele teria fugido com seu assessor Andriy Klyuev, de Kiev a Kharkiv, no leste do país, e de lá para seu reduto em Donetsk, onde guardas de fronteira o impediram de fugir. Depois disso, ele foi para a península da Crimeia.

Ali, ao saber que havia sido oficialmente substituído pelo Parlamento, rumou ao aeroporto militar de Belbek, mas mudou de direção ao saber que forças de segurança estavam esperando por ele. Em uma residência privada na região de Balaclava, ele reuniu seus seguranças e deu a eles a opção de continuarem ali ou irem embora. Alguns entregaram suas armas oficiais e abandonaram o local.
— Com os guarda costas restantes, Yanukovich, acompanhado por Klyuev, fugiu, em três carros, rumo a um destino desconhecido, após desligar toda comunicação — revelou Avakov.

Apesar das flores e velas que lembram os 82 mortos em protestos somente na semana passada, os ucranianos se apressam em desmantelar no domingo todas as referências àquele que responsabilizam pela repressão e morte de opositores. 24 horas depois de destituir Yanukovich, os deputados nomearam presidente interino Oleksander Turchinov, braço-direito da maior rival de Yanukovich, a ex-premier Yulia Timoshenko.

Novo governo

A Ucrânia inicia nesta segunda as negociações para tentar se recuperar de três meses de revolta e confrontos violentos e formar um novo governo de coalizão. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, deve visitar Kiev para debater com os representantes do novo governo as medidas que podem ser adotadas para acalmar o país e estabilizar a economia. O ministro interino das Finanças, Yuri Kolobov, afirmou que o país precisa de US$ 35 bilhões durante o período de 2014 e 2015 e pediu ajuda aos países doadores.

— Nós pedimos a nossos sócios ocidentais a organização de uma grande conferência de doadores.
Durante o fim de semana, o governo dos Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional anunciaram que estavam dispostos a ajudar economicamente a ex-república soviética, que enfrenta a pior crise desde a independência em 1991. O ministro britânico das Finanças, George Osborne, afirmou que a União Europeia (UE) também está preparada para dar seu apoio.

Turchinov tem prazo até terça-feira para formar um governo de unidade que será responsável por organizar as eleições e tentar cicatrizar as feridas abertas pela crise política que, desde novembro, aprofundou ainda mais a divisão de um país que também passa por uma grave situação financeira. Designado como presidente do Parlamento no dia anterior, ele ficará no novo posto até a realização de eleições, antecipadas para 25 de maio.

Numa sessão de urgência, o Parlamento também destituiu ministros e amigos que Yanukovich reuniu a seu redor desde que chegou à Presidência, em 2010. Foi derrubado o ministro das Relações Exteriores de Yanukovich, Leonid Kozhara, que defendera a rejeição à assinatura de um acordo com a União Europeia — contrariando a maior demanda dos manifestantes. E o ministro da Educação, Dmitry Tabachik, uma figura popular acusada por muitos de levar às escolas uma interpretação da história ucraniana afim à Rússia.

Outros, como o ministro de Finanças, Oleksander Klimenko, um dos mais próximos aliados de Yanukovich, e o procurador-geral, Viktor Pshonka, receberam ordem de prisão. Pshonka é ligado à acusação de corrupção que levou à prisão a ex-premier Timoshenko, em 2011, quando Yanukovich estava na Presidência.

Saques e bandeiras queimadas

Ao lado da ofensiva política à estrutura formada por Yanukovich, nas ruas manifestantes destruíram os símbolos que remetiam ao poder do presidente deposto. Eles continuam acampados na Praça de Independência, que virou símbolo de resistência há três meses. No domingo, queimaram bandeiras do Partido das Regiões, num escritório da legenda de Yanukovich em Kiev. E foram registrados saques na sede do Partido Comunista, aliado do Partido das Regiões no Parlamento. A fachada do prédio foi pintada com palavras como “criminosos”, “assassinos” e “escravos de Yanukovich”.

Ataques também partem da própria legenda de Yanukovich. O Partido das Regiões divulgou uma nota na qual o responsabiliza “pelos acontecimentos trágicos do país”.

“A Ucrânia foi traída, e os ucranianos confrontados uns contra os outros”, diz o comunicado.