sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

"Estados Unidos, o declínio que não houve", por Maílson da Nóbrega


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A quebra do banco Lehman Brothers (2008) e suas conseqüências – a deflagração da maior crise financeira global desde os anos 1930 e uma severa recessão nos países ricos – animaram analistas de esquerda a vaticinar o declínio americano.

Distintas corrente de opinião apontaram a China como a potência do século XXI. A profecia declinista não se confirmou. A economia americana já se recuperou e deve crescer em torno de 3% neste ano, nível similar ao desempenho pré-crise.

O PIB chinês pode ser o maior do mundo até 2020, mas os Estados Unidos tendem a continuar como líderes do planeta, principalmente por manterem a posição de maior potência tecnológica e bélica.

Lula comprou a tese declinista e foi mais longe. Em 2010, ao visitar o campo de petróleo Tupi, na Bacia de Santos, afirmou que o século XXI seria “o século do Brasil e da América Latina”.

Já fora do governo, comemorou a crise americana. “Foi gostoso passar a Presidência da República e terminar o mandato vendo os Estados Unidos em crise”.

E jactou-se de supostos feitos ao afirmar que a solução para o problema econômico do Brasil não foi dada por “nenhum doutor, nenhum americano e nenhum inglês, mas por um torneiro mecânico pernambucano”.

A tese declinista subestimou a capacidade de reação dos Estados Unidos, que deriva de suas inúmeras vantagens: solidez das instituições, cultura capitalista, qualidade da educação e inigualável propensão a inovar.

Oito das dez melhores universidades do mundo são americanas, segundo a Times Higher Education. Vinte e sete das trinta universidades cujas pesquisas são as mais citadas em artigos acadêmicos são americanas, diz a Universidade  Netherland Leiden.

Os Estados Unidos contabilizam um terço dos gastos mundiais em pesquisa e desenvolvimento, conforme a Rand Corporation. Em parte por causa disso tudo, o trabalhador americano é muitas vezes mais produtivo do que o chinês, o brasileiro e mesmo o de países ricos.

Um novo e inédito fenômeno está em curso nos Estados Unidos. Assiste-se a uma reindustrialização, provocada pelo reshoring, o oposto de offshoring, que é a migração de indústrias, particularmente para a China.

Estudo especial da The Economist (19/1/2013) mostrou que 48% das maiores empresas americanas com vendas anuais acima de 10 bilhões de dólares repatriam fábricas.

A principal razão é o aumento dos custos trabalhistas na China.

Os avanços dos Estados Unidos espalham benefícios por todos os cantos do planeta.

A população mundial se comunica por meio de tecnologia do Vale do Silício. A internet foi criada nos Estados Unidos. As empresas líderes de tecnologia de informação e comunicação – Apple, Microsoft, Google, Facebock e Twitter – são americanas.

Os Estados Unidos protagonizam uma nova revolução energética por meio da tecnologia de extração de gás e petróleo de xisto.

Segundo a Agência Internacional de Energia, em 2020 o país se tornará o maior produtor mundial de petróleo, superando a Arábia Saudita.

Essa revolução teve muito a ver com o ambiente de regras pró-mercado e de instituições que preservam direitos de propriedade e respeito aos contratos, incluindo leis de patentes.

O dono do solo é também do subsolo. Foi isso que levou o empreendedor George Mitchell (1919-2013) a investir 10 milhões de dólares do próprio bolso para desenvolver a tecnologia de perfuração horizontal, que libera o olé e o gás contido nas rochas. Mitchell morreu bilionário e sua inovação se dissemina mundo afora, ampliando o potencial energético de vários países. O Brasil será um deles.

Aqui, os governos do PT, movidos por visão estatista e desconfiança em relação ao setor privado, promovem retrocessos na área energética.

No governo Lula, substituiu-se o bem-sucedido regime de concessão pelo de partilha na exploração do petróleo, atribuindo ao Estado a responsabilidade maior nessa área.

No governo Dilma, aumentou-se a intervenção estatal na energia elétrica (medida provisória 579) e as empresas estais foram postas a serviço de políticas populistas e de controle de inflação.

Por essas e outras, está longe o dia (se houver algum) em que nosso país será potência mundial dominante.

Já os Estados Unidos crescem agora mais do que nós.

O vaticínio de seu declínio fracassou redondamente.