sábado, 15 de novembro de 2025

Eduardo Bolsonaro: ‘Moraes tem prazo de validade’

Deputado afirma que o ministro perdeu apoio internacional e enfraqueceu politicamente


A denúncia aceita pelo STF sustenta que Eduardo teria atuado, a partir dos Estados Unidos, para pressionar autoridades brasileiras por meio de sanções internacionais - Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputado


Horas depois de a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formar maioria para torná-lo réu pelo crime de coação no curso do processo, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) afirmou não ter ficado surpreso com a decisão da Corte. Instalado nos Estados Unidos, onde vive em exílio político, o parlamentar vê no mais recente avanço do Supremo uma oportunidade para expor as ilegalidades cometidas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e pela própria composição da Primeira Turma — que, segundo o deputado, reúne ministros abertamente contrários ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A denúncia aceita pelo STF sustenta que Eduardo teria atuado, a partir dos Estados Unidos, para pressionar autoridades brasileiras por meio de sanções internacionais — especialmente a Lei Magnitsky. 

Em entrevista a Oeste, o deputado condenou os abusos cometidos pelo STF, defendeu a liberdade de Bolsonaro, avaliou os cenários das eleições de 2026 e comentou as sanções impostas pelos EUA ao Brasil. 

A seguir, os principais trechos da entrevista. 

Como o senhor recebeu a decisão do STF que o transformou em réu? 

Sem surpresas. Vejo, mais uma vez, uma oportunidade para expor as ilegalidades do ministro Alexandre de Moraes e da Primeira Turma do STF. Isso reforça quanto foi justa a aplicação da Lei Magnitsky contra esse violador de direitos humanos. Vale lembrar que não só Moraes, como também o procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi sancionado com a perda do visto norte-americano. E, agora, Gonet e Moraes não se declaram impedidos de me julgar e levam adiante uma acusação fajuta contra mim. 


A decisão é juridicamente frágil?

O crime de coação, do qual sou acusado, tem dois requisitos. Um deles seria o “meio” supostamente usado para a suposta coação — e Moraes fala que a Lei Magnitsky seria o instrumento utilizado. Só que a Lei Magnitsky não é assinada por Eduardo Bolsonaro; é assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; pelo secretário do Tesouro, Scott Bassett; e por Marco Rubio, do Departamento de Estado. O segundo requisito para o crime de coação é que seja utilizado um meio ilícito. Mas a Magnitsky é uma legislação norteamericana, aprovada pelo Congresso. Não é meio ilícito. O crime de coação é quando uma pessoa pega uma arma, bota na cabeça de outra e obriga a vítima a ter determinada conduta. Isso não aconteceu. 


Como o senhor viu a condenação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro? 

Não espero justiça vindo desse STF contaminado. Notoriamente, Jair Bolsonaro foi dragado para uma condenação. Ex-presidentes, como Lula e Michel Temer, foram julgados na primeira instância. Quem julgou Lula foi o ex-juiz Sergio Moro. Temer também não foi julgado pelo STF. E, nas palavras do ministro Luiz Fux, se fosse para dar a Bolsonaro o tratamento de presidente, ainda que ex-presidente, a Suprema Corte deveria tê-lo julgado no plenário — e não na Primeira Turma, onde há uma composição notoriamente contra Bolsonaro. 


Como o senhor avalia as relações entre os EUA e o Brasil, diante da imposição das tarifas? 

Muito se fala nas tarifas, mas pouca gente presta atenção no essencial. Na carta de Trump, em que houve o anúncio das tarifas, o presidente norte-americano disse que o Brasil está entre os países com as maiores tarifas por causa do lawfare, da perseguição política. Agora, Moraes dobra a aposta contra Trump ao me pôr como réu por atividades que exerci nos EUA. Pode colocar o Dream Team (Time dos Sonhos) da diplomacia brasileira, que não vai desatar esse nó. Isso é consequência do mau funcionamento da democracia no Brasil.


As tarifas serão revogadas apenas mediante a aprovação da anistia e a libertação de Bolsonaro? 

Ao todo, 40% das tarifas são por motivos políticos: lawfare, perseguição a Jair Bolsonaro, interferência em liberdade de expressão e pressão sobre big techs. Se a anistia for aprovada, poderá resolver parte dos problemas citados pelo representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, que citou o problema da perseguição à direita no Brasil. A decisão final cabe ao presidente Trump.


Qual balanço o senhor faz da sua atuação nos EUA? 

Cheguei no último dia de fevereiro, antes do Carnaval. Desde o primeiro vídeo, deixei claro que ficaria exilado aqui e tracei minha missão: sancionar o Alexandre de Moraes, o maior violador de direitos humanos da história do Brasil. Logramos êxito. Sem recursos financeiros, quase sem ajuda logística, conseguimos atrair a atenção do governo mais disputado do mundo — graças à genialidade de Paulo Figueiredo e aos meus contatos, muitos deles hoje em posições-chave. Também sancionamos a esposa de Moraes, Vivi Barsi, e suas empresas. Ainda falta muito, porque a Magnitsky é extremamente burocrática. Há milhares de casos, e Moraes está no meio desse bolo. Mas é questão de tempo: a Magnitsky é rigorosa e praMoraes deu sinais de recuo, em virtude da aplicação da Lei Magnitisky? Depois da Magnitsky, Moraes reduziu o ímpeto abusador. Ele já não bloqueia contas como antes. Meu caso é exemplo disso: se o ministro estivesse confortável, já teria derrubado minhas redes sociais. Antes, Moraes tinha apoio do governo de Joe Biden: dinheiro da Usaid, ONGs, agências de checagem, FBI. Isso acabou. Ele está mais fraco. E digo mais: Moraes tem prazo de validade. Ele vai tentar sobreviver barrando uma maioria de direita no Senado em 2026. Como? Condenando pessoas e inserindo-as na Lei da Ficha Limpa. Por isso, sou a favor da revogação total da Lei da Ficha Limpa. Hoje, só é usada contra a direita. ticamente impossível de reverter judicialmente


Moraes deu sinais de recuo, em virtude da aplicação da Lei Magnitisky? 

Depois da Magnitsky, Moraes reduziu o ímpeto abusador. Ele já não bloqueia contas como antes. Meu caso é exemplo disso: se o ministro estivesse confortável, já teria derrubado minhas redes sociais. Antes, Moraes tinha apoio do governo de Joe Biden: dinheiro da Usaid, ONGs, agências de checagem, FBI. Isso acabou. Ele está mais fraco. E digo mais: Moraes tem prazo de validade. Ele vai tentar sobreviver barrando uma maioria de direita no Senado em 2026. Como? Condenando pessoas e inserindo-as na Lei da Ficha Limpa. Por isso, sou a favor da revogação total da Lei da Ficha Limpa. Hoje, só é usada contra a direita. 


Como o senhor consegue saber notícias do ex-presidente Jair Bolsonaro? 

Atualmente, não tenho contato com meu pai. Falávamos por telefone, mas antes das medidas cautelares impostas por Moraes a Bolsonaro. O ministro, ilegalmente, não permite que um filho fale com o pai. 


O senhor apoiaria qualquer candidato da direita nas eleições presidenciais de 2026? 

A certeza é que haverá um candidato — e não apoiarei Lula. Mas há muita água pra passar debaixo da ponte. O que vejo é pressão para que Bolsonaro tome uma decisão antecipada. Por quê? Porque está acabando a ferramenta de ameaça contra o ex-presidente: enviá-lo para um presídio comum. Se fizerem isso, vão ameaçar com o quê depois? Morte? Querem que Bolsonaro apoie alguém logo para tornálo politicamente desinteressante. Ele não morre politicamente; o que Bolsonaro fez será estudado por décadas.


Como o senhor vê a pressão para que haja logo uma definição do candidato da direita à Presidência?

 Não quero que Bolsonaro seja vítima de extorsão. Quando o tubarão sente cheiro de sangue, vai para cima. Se perceberem que funciona, vão fazer meu pai sofrer mais.Sobre Tarcísio de Freitas: o governador de São Paulo esteve em Nova York e não me procurou para falar de Brasil. Ao voltar ao Brasil, também não chamou o Flávio Bolsonaro para conversar. Depois, disse a Jair Bolsonaro que é candidato à reeleição em São Paulo. Então, tudo bem. Mas não venham me empurrar apoio goela abaixo.Meu time é Jair Messias Bolsonaro. Não vi meu pai levar facada para agora entregar poder a quem quer dialogar com nossos algozes. 


Há algumas semanas, houve uma cisão no PL de Santa Catarina sobre os candidatos do partido ao Senado. Como o senhor vê essa situação? 

Foi um erro expor uma questão interna do PL publicamente. Eu apoio Carlos Bolsonaro e Carol De Toni para o Senado, como meu pai já disse. O resto é página virada. 


O senhor pensa em disputar o Senado? 

A vaga no Senado é o melhor dos mundos — mas só existirá se Bolsonaro for presidente. Se Bolsonaro não puder ser candidato, significa que o regime está forte o suficiente para me barrar também. Eles vão tentar me colocar na Lei da Ficha Limpa. Então, minha candidatura não depende da indicação do PL: depende do STF. 


O senhor chegou a estar mais próximo dos libertários, na época em que aprofundou os estudos na Escola Austríaca de Economia. Hoje, aderiu a um discurso que parece mais próximo dos ideais de Aleksander Dugin, mentor político do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Como se deu essa mudança?

Zero influência de Dugin. O que tenho é influência da minha experiência nos EUA. O mundo inteiro está revendo o conceito de liberalismo clássico. Trump, por exemplo, comprou ativos da Intel para não perder a soberania em microchips. Um liberal clássico diria que isso é intervenção estatal — mas há setores estratégicos. Não esqueci o que aprendi no Instituto Mises. O debate é: o que é estatal necessário e o que é privatizável? 


Atualmente, o discurso do senhor está com tom mais conciliador. Por quê?

Estou passando por um momento de maturidade. Lendo mais, estudando mais, conversando com pessoas de alto nível. Sair do turbilhão do Congresso ajuda a ver o Brasil com mais clareza..

Edilson Salgueiro - Revista Oeste