A Califórnia deixou que a agenda woke e os ecoterroristas determinassem as políticas durante décadas, e os incêndios são a consequência
N as últimas semanas, moradores de Los Angeles — como eu — têm recebido mensagens de texto e ligações de amigos confirmando que estão fora de perigo, que suas casas não foram atingidas ou que, infelizmente, perderam tudo por causa dos incêndios que devastam a cidade. Há dez dias, o mundo assiste com apreensão a um dos piores incêndios da história da Califórnia. Embora minha família esteja bem, a cerca de 30 quilômetros ao sul dos grandes focos, seguimos cobertos por fuligem e cinzas. Já a vida de alguns amigos, residentes nas áreas afetadas, nunca mais será a mesma. Anos de trabalho foram ao chão. Tudo virou pó. Literalmente. Vidas foram dizimadas por uma tragédia anunciada. As cenas que vimos nesta semana são avassaladoras, algo típico de filmes apocalípticos ou cenas de guerra. Parece que uma bomba foi jogada sobre parte da querida Los Angeles.
Moro na Cidade dos Anjos há mais de 15 anos e, infelizmente, os incêndios são comuns no Estado. Muitos perguntam como tragédias tão avassaladoras podem acontecer em um lugar como Los Angeles, que detém o quinto maior PIB do planeta. A receita para testemunharmos desastre atrás de desastre é conhecida do povo brasileiro: o governo na Califórnia e do Condado de Los Angeles, especificamente, se tornou inchado, perdulário e inescrupuloso. Já não é mais capaz, e nem parece interessado, de servir seus cidadãos. A incompetência em responder às chamas é de partir corações — mas não surpreendem ninguém que acompanhe o cenário político. A riquíssima Califórnia está cambaleando em direção à ruína há algum tempo. Nesta semana, conversando com um amigo bombeiro, ouvi dele a famosa frase de Hemingway: “Acontece gradualmente e, então, de repente”. Ele acrescentou: “Tudo isso não era uma questão de ‘como’, mas ‘quando’”. O bombeiro interrompeu as férias para se juntar aos milhares de homens vindos de toda a Califórnia, de outros estados e até do Canadá e do México. A catástrofe já matou 27 pessoas, destruiu mais de 12 mil casas e 16 mil hectares. Era evitável, como ele frisou. Além da preciosa vida de pessoas e de animais, e de certos bens que não podem ser reparados, os prejuízos já chegam a US$ 300 bilhões.
Haverá tempo suficiente para atribuir a culpa pelo que aconteceu, especialmente em Pacific Palisades, uma das áreas que foram extirpadas do mapa. Porém, mesmo nesses estágios iniciais, algumas verdades emergiram para os que insistiam em não tirar a venda dos olhos. O estado e a cidade estão dominados pelos democratas e pelo modelo progressista de governo de partido único. Agenda woke Inicialmente, ideologia não é liderança. A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, demonstrou em poucas horas sua mais absoluta incapacidade de lidar com a calamidade que se instalava. A Califórnia, controlada pelo Partido Democrata, sem a presença de nenhum republicano em cargo estadual, escolhe seus líderes políticos com base na conformidade ideológica. O resultado é que os cargos acabam preenchidos por “primeiros não sei o quê” de extrema esquerda, comprometidos com a agenda progressista — primeira negra, primeira LGBT… Na tão diversa, mas de partido único, Califórnia, para um indivíduo ocupar uma posição de poder, é mais importante que ele tenha as características e a ideologia desejadas do que sua real capacidade para exercer o cargo.
O fato é que o estado também escolhe líderes com base em diversidade, equidade e inclusão (DEI), uma agenda que sempre quebra sob pressão. Henry Kissinger, um dos maiores diplomatas e cientistas políticos dos Estados Unidos, certa vez observou que o capital intelectual acumulado por líderes antes de chegarem ao topo é tudo o que eles poderão extrair enquanto estiverem no topo. Os políticos democratas no sistema de partido único não acumularam capital intelectual porque não precisaram — o que vale é a cor da sua pele ou sua opção sexual (veja reportagem de Carlo Cauti, nesta edição). O mesmo acontece com Kristin Crowley: elevada a chefe dos Bombeiros de Los Angeles em 2022, Crowley foi mais aplaudida por ser gay e a primeira chefe LGBTQXYZ+++ da corporação do que por sua capacidade técnica de liderar um dos mais importantes departamentos de uma das maiores cidades do planeta.
E a conta da eterna esteira rolante política movida pelos sindicatos e pelas turbas ideológicas chegou. Eles alcançaram o topo, mas a prateleira de líderes está vazia. Em mais um momento de crise, mostraram o de sempre: não têm recursos, preparo ou experiência para resolver problemas reais.
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Ninguém se importa se você é a primeira prefeita negra de Los Angeles ou a primeira líder “queer“. O ponto é se você é capaz de tomar a dianteira durante uma crise. Testemunhamos o colapso de credibilidade em todos os níveis do governo e, como meu amigo bombeiro observou, isso aconteceu gradualmente, depois de repente. Na última eleição de novembro, a Califórnia, por incrível que pareça, votou vermelho (Republicanos) em grande parte do estado, num claro grito de socorro — exceção ao azul (Democrata) da costa banhada pelo Pacífico. Entra ano e sai ano, os endinheirados da costa californiana seguem votando na administração que gastou dezenas de bilhões de dólares com os moradores de rua, financiando o uso de drogas e a prostituição, e que transformou o centro de Los Angeles em algo só visto em filmes de zumbis. A população de andarilhos, abandonados e dependentes químicos é a maior do país. A infraestrutura da cidade está desmoronando. Há apagões de energia e escassez de água. Os incêndios são constantes. Contra esse cenário de fracasso e má gestão, seria totalmente crível que Los Angeles se esforçasse mais para garantir, pelo menos, que os hidrantes tivessem a pressão necessária para combater incêndios. Faltou água nesta semana. Um dos grandes reservatórios, de Santa Ynez, está vazio há anos — mas os hidrantes ganharam as cores do “orgulho gay”.
Bass e Crowley não são exceções. Elas são simplesmente os exemplos mais óbvios desse fenômeno, porque os recentes eventos conspiraram para chamar a atenção dos desavisados para a burocracia extensa, cara e ineficaz que elas presidem. Elas são o subproduto de um sistema que recompensa e prioriza características que não sejam mérito, competência e habilidade. Infelizmente, o sistema que escolheu Bass e Crowley ainda existe, e está ao nosso redor.
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Ana Paula Henke4l - Revista Oeste