sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

'A evolução do ambientalismo e o Brasil no banco dos réus', segundo o general general Eduardo Villas Bôas

 

Foto: Shutterstock


Vieram a público mais de 5 mil e-mails trocados entre cientistas, combinando os ajustes necessários para encobrir as fraudes. E 'aquecimento global' tornou-se 'mudanças climáticas'


Há muitas discrepâncias acerca da gênese do ambientalismo. Cada ramo das ciências o localiza em domínio próprio, o que provoca enormes divergências no tempo e no espaço. As mais remotas estão no campo das religiões, da história antiga e das filosofias.

Cada grande evento mundial inaugurou um nova vertente de pensamento ambiental. Foi assim com a Revolução Industrial, com as explosões nucleares em Hiroshima e Nagasaki, ou com a teoria do matemático e monge inglês Thomas Malthus.

Desenvolvida entre os séculos 18 e 19, a teoria de Malthus foi centrada em previsões de que, no futuro, a capacidade mundial de produção de alimentos seria insuficiente para atender ao crescimento vegetativo da população mundial. A solução de Malthus seria limitar a expansão das populações.

O malthusianismo viria a ser revivido a partir dos anos 1950, sob a forma de controle de natalidade, para conter o grande aumento dos contingentes populacionais que ocorreu ao final da Segunda Guerra Mundial.

No final do século 19 e início do século 20, alguns pensadores ocidentais já produziam teorias que, em comum, curiosamente apresentavam o fundamento de que a natureza é mais importante do que a humanidade.

Thomas Robert Malthus, matemático e monge inglês | Foto: Wikimedia Commons

Descolonização

Enquanto isso, criada em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) imediatamente passou a estimular a independência de países até então sem autonomia. Iniciou-se o chamado processo de descolonização, que teve como efeito, para as potências ocidentais, a perda do domínio de extensas áreas na África, na Ásia e nas Américas e, por consequência, da posse de reservas de recursos naturais.

Os países colonistas então lançaram mão de um recurso já utilizado após o Tratado de Tordesilhas e o descobrimento da América: estimularam a proliferação da pirataria, braços com os quais roubavam o ouro e a prata explorados pelos países ibéricos.

Piratas modernos

Agora, são as ONGs (organizações não governamentais) que surgem como piratas modernos. Manipulando argumentos ambientais, mobilizam países, organismos internacionais e a opinião pública nacional e mundial, concretizando um sistema de pressão, com vista no estabelecimento de reservas ambientais ou terras indígenas.

Esse foi o método que resultou na delimitação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde abundam minérios, como ouro e diamantes, e da Reserva Natural do Morro dos Seis Lagos, no Alto Rio Negro, Amazonas, situada sobre uma das maiores jazidas de nióbio já identificadas mundialmente.

Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima | Foto: Funai/Divulgação

Tais processos estimularam a criação de novas teorias sobre o aquecimento global, baseadas em projeções catastróficas formuladas em torno do ano 2000, que, se tivessem sido confirmadas, teríamos hoje o Monte Kilimanjaro sem neve, algumas ilhas da Polinésia desaparecidas, e a vida só seria viável nos polos. Quando se tornaram evidentes as falácias contidas até mesmo em trabalhos científicos, os pesquisadores foram obrigados a rever seus fundamentos.

Produziu-se, então, o climagate. Vieram a público mais de 5 mil e-mails trocados entre cientistas, combinando os ajustes necessários para encobrir as fraudes compartilhadas. A partir daí, foi alterado de aquecimento global para mudanças climáticas.

A era de ouro do ambientalismo

Na Conferência de Estocolmo, em 1972, inaugurou-se o mais importante período para o ambientalismo. Seguiram-se a Rio 92 e, em 1995, em Berlim, a primeira Conferência das Partes (COP). A mais recente, COP 27, teve como sede o Egito.

Desde 1972, o ambientalismo vem, crescentemente, sendo empregado como um braço do imperialismo. É curioso notar que as correntes ideológicas que durante o século 20 condenavam o capitalismo, associando-lhe ao imperialismo, passaram a apoiar essas práticas.

A comprovação ocorreu em 2019: após a assinatura do Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia, desencadeou-se uma enxurrada de diatribes ao Brasil, acusando-nos de tratar a Amazônia com negligência. Tivemos o episódio em que o presidente Macron, da França, usou fotos de 2005 para respaldar as afirmações sobre queimadas, emendando às críticas ameaças à soberania brasileira.

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Emmanuel Macron | Foto: Reprodução/Flickr

Realmente, na Amazônia, nossa soberania está relativizada. Quando o presidente Michel Temer assinou decreto liberando a exploração da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), sem procurar conhecer os cuidados ambientais e os benefícios que índios e quilombolas herdariam, houve nova onda de protestos e acusações, e o presidente viu-se, então, constrangido a revogar seu ato.

Militância digital

Hoje, vivemos a era da internet e um multiverso em que todos são especialistas, comentários podem criar e destruir reputações, e influenciar é a palavra-chave. Há muita informação, pouca de fonte segura, com conhecimento de causa. Assistimos, abismados, ao posicionamento de lideranças sobre os nossos interesses ou mesmo a protestos para salvar as “girafas” da Amazônia.

Podemos aguardar por mais situações assim, uma vez que, sempre que as questões climáticas dominam a pauta, a Amazônia desponta como a maior preocupação mundial. O Brasil é posto em xeque, e o coro questiona: o que será de todos nós se a floresta ruir?

Amazônia e seus três papéis a desempenhar

No entanto, para que se processe uma adequada abordagem sobre as questões da Amazônia, é necessário que se olhe para o mapa do Brasil segundo uma perspectiva de quem lá se encontra. A partir dessa posição, avultam realidades que tornam explícitos os três papéis fundamentais que a região tem a cumprir para o Brasil, para a América do Sul e para o mundo, impulsionados por dinâmicas que se originam em sua geografia e que projetarão o Brasil a um patamar muito mais destacado no sistema de poder mundial.

Desde 1972, o ambientalismo vem, crescentemente, sendo empregado como um braço do imperialismo

O primeiro papel da Amazônia será o de provocar a elevação, em escala exponencial, do poder nacional, a partir do momento em que o país tiver consolidado sua expansão interna, trazendo a Amazônia ao contexto da vida nacional e efetuando a exploração racional de seus recursos naturais, que ainda aguardam uma completa identificação, delimitação e quantificação.

Ainda no início do século, dados apresentados pela revista Exame revelavam que os recursos naturais da Região Amazônica poderiam chegar à impressionante cifra de US$ 23 trilhões; US$ 15 trilhões deles decorrentes dos recursos minerais e US$ 8 trilhões proporcionados pela biodiversidade.

Vê-se que o Brasil dispõe de riquezas capazes de elevá-lo à condição de potência mundial e, principalmente, de solucionar os problemas que afligem nossa população, não só nos livrando da pobreza como também eliminando as desigualdades sociais e os desequilíbrios regionais.

O segundo, de larga contribuição para a vocação natural de liderança continental, da qual não nos podemos furtar, repousa na condição de plataforma física em cujo entorno se consolidará a integração sul-americana. A Amazônia brasileira faz fronteira com sete países, tem acesso a três oceanos — Atlântico, Mar do Caribe e, dentro em pouco, ao Pacífico — e conecta-se com o Altiplano Boliviano e, no Brasil, com as Regiões Nordeste e Centro-Oeste.

Esse processo, à medida que avance, por meio da construção de uma indispensável infraestrutura de transporte e de comunicações, provocará o crescimento exponencial da importância relativa da Amazônia no contexto continental. É previsível ainda que cidades como Belém e Manaus, em função da localização, a primeira como porta de entrada da densa malha fluvial e a segunda pela posição geográfica central, venham a consolidarem-se como polos industriais, tecnológicos, logísticos e de serviços em geral.

O terceiro, por fim, decorre das condições e da vocação que a Amazônia ostenta de proporcionar solução para os principais problemas que afligem a humanidade e que já adquirem dimensões de verdadeiras crises mundiais: mudança climática, meio ambiente, energia e água. Tudo isso é discutido em nível mundial, mas somente com visão local será possível acertar no melhor a ser feito.

Esses três papéis, por si sós, ensejam razões de sobra para que o Brasil passe a enfocar de forma mais concreta e objetiva as questões relativas à região. Porém, enquanto o mundo aplaude os novos (antigos) rumos que a política ambientalista brasileira deve tomar nos próximos tempos, a maioria dos brasileiros continua sem saber ao certo o que é melhor para a Amazônia.

Um conselho: “Amazone-se”.

Sem receio de estar adotando posturas passíveis de serem rotuladas como alarmistas ou de estar formulando teorias conspiratórias: é lícito, legítimo e até mesmo obrigatório, a todos os que participam da formulação de políticas e estratégias para a Amazônia, levar em conta eventuais pressões externas, diretas ou indiretas, objetivando obstar a consolidação dos projetos fundamentais para o Brasil.

A soberania da Amazônia não se assegura somente com presença militar, mas, sobretudo, com ações que combinem desenvolvimento e preservação.

Revista Oeste